O
racionamento de água que — note-se — não existe em São Paulo continua a
não render votos. Nada se mexeu na pesquisa Datafolha para o governo do
Estado, publicada pela Folha nesta sexta.
Se a
eleição fosse hoje, o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, seria
reeleito no primeiro turno com 55% dos votos. Em relação à pesquisa
anterior do instituto, divulgada no dia 17 de julho, o tucano oscilou um
ponto percentual para cima: tinha 54%. Paulo Skaf, do PMDB, aparece com
os mesmos 16%, e o petista Alexandre Padilha marca 5% — aparecia com 4%
na anterior. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou
para menos. A pesquisa está registrada no TSE sob o número 16/2014.
Alckmin é ainda o menos rejeitado: só 19% dizem que não votariam nele de
jeito nenhum. Falam o mesmo de Skaf 20% dos entrevistados. A rejeição
ao petista chega a 28%.
Até a
avaliação do governo melhorou, ainda que na margem de erro: há um mês,
consideravam a gestão ótima ou boa 46% dos entrevistados — agora, são
47%. O regular oscilou de 37% para 36%. O ruim/péssimo se mantém em
magros 14%. Outra boa notícia para Alckmin: na votação espontânea,
quando não são apresentados os nomes de candidatos, ele passou de 15%
para 20%. Embora o governador vencesse a eleição com folga no primeiro
turno, o Datafolha testou um cenário de segundo turno com Skaf: o tucano
venceria o peemedebista por 63% a 26%.
E olhem
que campanha negativa contra Alckmin não faltou. Há um mês, apontei aqui
que a insistência em afirmar que existe racionamento de água em São
Paulo — quando, de fato, não existe — parecia uma tática meio besta. Mas
seus adversários insistiram nesse ponto, o que é um pouco espantoso.
Afinal, basta o paulista abrir a torneira, e a água escorre. Segundo
levantamento da Folha, o racionamento atinge hoje 5% da população do
Estado, mas em áreas não servidas pela Sabesp. Ele existe, por exemplo,
em Guarulhos, cidade administrada pelo PT desde 2001 e que tem seu
próprio sistema de água.
Também
afirmei que insistir em jogar a crise hídrica nas costas do governador,
como fazem Skaf e Padilha, poderia ser contraproducente. Afinal, isso
contraria um dado da experiência. As pessoas sabem que não está chovendo
— razão por que existe também uma crise na área energética. Há, sim,
muito menos água nos reservatórios do que seria prudente. Mas há nas
casas. Com há menos energia disponível nas usinas do que seria prudente.
Mas não estamos às escuras ainda.
A pesquisa
Datafolha foi finalizada na quarta-feira. Órgãos federais já havia
deflagrado a “guerra da água” contra o governador de São Paulo. Os
indicadores não se mexeram nem assim.
Parece que
os adversários do PSDB terão de voltar à prancheta e mudar a sua
pregação. Racionamento significa abrir a torneira e não sair água. Isso
não e verdade para 95% dos paulistas. Os 5% que estão submetidos a esse
regime têm de apresentar a conta aos prefeitos, não à Sabesp, já que ela
não tem nada com isso.
Uma esfinge sem segredos chamada Marina Silva. Ou: A Marina “sonhática” é “pesadêlica”
Marina
Silva é uma esfinge. Sem segredos. O que ela pensa? Dizer que ninguém
sabe é bobagem. Dá, sim, para saber. Não vou cair aqui na conversa mole
de perguntar se Marina vai ou não realinhar as tarifas se, candidata do
PSB, for eleita. É claro que vai. Qualquer que seja o eleito, o reajuste
vai se impor. Contra quem? Contra ninguém. O realinhamento será uma
imposição da realidade. Afinal, o Brasil não é a Venezuela. Se for
presidente, Marina também vai ter de cortar gastos públicos — é o que
Dilma ou Aécio terão de fazer. “Mas tirar dinheiro de onde?” De algum
lugar. Ou o país vai para o vinagre. Nenhuma dessas vulgaridades me
interessa. Essa gritaria só serve para gerar calor. E nenhuma luz.
A Marina
que importa é outra. Sim, concordo: é quase impossível entender o que
ela fala, com suas metáforas, alegorias e derivações impróprias —
refiro-me à gramática mesmo! — porque, sei lá, os 340 mil verbetes
contidos no “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa” não lhe
bastam… Faz sentido: pensamentos intraduzíveis pedem palavras…
indizíveis. Pode não dar para entender o que ela diz, o que sempre
desperta a suspeita do sublime, mas dá, sim, para saber o que ela pensa.
E ela não pensa coisas boas.
Começo
pela questão mais recente. Marina Silva se desgarrou do PT, como é
sabido, mas não se livrou dos piores vícios da nave mãe. Querem um
exemplo? Ela foi uma das mais entusiasmadas defensoras do Decreto 8.243,
o tal que atrela a administração federal a conselhos populares e
institui, na prática, uma Justiça paralela. Seu “movimento”, que não é
“partido”, combina com aquele estado de permanente mobilização, em que a
militância atropela as instâncias da democracia representativa.
Recuemos
um pouco. Como esquecer a atuação de Marina Silva durante a votação do
Código Florestal? Se a sua proposta tivesse vingado, o país teria
sidoMTST obrigado, atenção!, a reduzir a área destinada à agricultura e à
agropecuária. O que escrevo aqui não é especulação. É apenas um fato. É
demonstrável. Em 2013, a balança industrial produziu um déficit de US$
105 bilhões, e o setor agropecuário, um superávit de US$ 82,91 bilhões.
Isso para um pais que teve um superávit de apenas US$ 2,5 bilhões. E
olhem que foi uma trapaça contábil. De verdade, o saldo foi negativo. Ou
por outra: o agronegócio salva o Brasil da bancarrota, mas Marina Silva
queria diminuir a área plantada.
É o tipo
de militância que seduz os descolados e os ignorantes, mas de ampla
repercussão no exterior, especialmente nos países ricos que acham que
devemos deixar a agricultura com eles, enquanto a gente disputa o cipó
com os macacos e foge das onças pintadas. Todos queremos preservar a
natureza, é claro! Marina queria, de modo irresponsável, dar um tombo na
agricultura e na pecuária. Ela quer economia sustentável? Quem não
quer? A questão é saber o que entende por isso.
Pegue-se
agora a questão energética. O Brasil só não passa por um apagão de fazer
2001 parecer brincadeira de criança porque cresceu 2,7% em 2011; 0,9%
em 2012; 2,1% em 2013 e deve ficar em torno de 0,8% neste ano. Em 2015,
projeções responsáveis apontam que não passa de 1,2%. Estivesse
crescendo, como precisa, a pelo menos 4%, já estaríamos no escuro.
Mesmo
assim, ainda que tente aqui e ali dizer o contrário, Marina se opôs,
sim, à construção da usina de Belo Monte. Tanto é que apoiou um vídeo
imbecil chamado “Gota d’Água”, que dizia uma impressionante coleção de
bobagens a respeito da usina. Mais: esse empreendimento será
subutilizado, sim, porque Belo Monte não terá reservatório. Será do
modelo fio d’água. Pesquisem a respeito. Só se fez essa escolha errada
por causa da militância ambientalista que Marina representa, já que se
inunda uma área muito menor, mas se produz, em contrapartida, bem menos
energia.
Em 2010, a
Marina candidata foi ao programa “Roda viva” e tratou do assunto. Como
fala pelo cotovelos, impede que o pensamento de seus interlocutores
respire. Vejam. Volto em seguida.
Em
primeiro lugar, houve, sim, os devidos cuidados ambientais. Em segundo
lugar, a tese da inviabilidade econômica é de uma impressionante
falácia. De fato, Belo Monte tem mais dinheiro público do que deveria,
mas isso se deve ao viés esquerdizante do governo petista — que Marina
não combate. O capital privado só refugou porque o preço que o governo
queria pagar pela energia era incompatível com a realidade. Ou por
outra: quando os petistas decidiram tabelar o lucro — prática hoje em
dia vigente apenas em Cuba e na Coreia do Norte —, Marina se calou. O
negócio dela era com os bagres. Sim, preservemos os bagres. Mas e a
energia elétrica? Mais: se o governo tivesse dado de ombros para o
ambientalismo doidivanas e construído a usina com reservatório, mais
energia seria produzida. Ou por outra: Belo Monte só não vai gerar
render o que poderia por causa do espírito marineiro.
Trato aí
de duas questões que hoje são essenciais ao país: balança comercial e
produção energética. Nos dois casos, a possível candidata do PSB à
Presidência estava do lado absolutamente errado do debate. Errado por
quê? Porque as suas escolhas contribuiriam para afundar o país — e, como
e sabido, em casos assim, os pobres pagam o preço primeiro.
Questão política
Não e só isso. Marina fala em nome de uma tal “nova política” que ninguém, até agora ao menos, entendeu direito o que é. É impossível governar o país sem o Congresso, a menos que se queira gerar uma crise institucional dos diabos. Em sua pregação, ela dá a entender que políticos são sempre os outros, nunca ela própria. Por quê? Porque acredita na tal da “mobilização em rede”, que vem a ser a prima rica — e com nível universitário — de movimentos como o MST ou MTST. Nem por isso menos autoritários.
Não e só isso. Marina fala em nome de uma tal “nova política” que ninguém, até agora ao menos, entendeu direito o que é. É impossível governar o país sem o Congresso, a menos que se queira gerar uma crise institucional dos diabos. Em sua pregação, ela dá a entender que políticos são sempre os outros, nunca ela própria. Por quê? Porque acredita na tal da “mobilização em rede”, que vem a ser a prima rica — e com nível universitário — de movimentos como o MST ou MTST. Nem por isso menos autoritários.
Na
verdade, nesse particular, ela vai até um pouco além. Por mais que
queira negar, parte do mau espírito das ruas — e não do bom — de junho
do ano passado a esta data contou com o seu apoio silencioso. Ela pode
se tornar a única beneficiária do ódio à política que tomou as ruas. E é
evidente que esse tal espírito não me agrada. A propósito: alguém leu
ou ouviu alguma censura de Marina aos black blocs?
O fato de a
possível candidata do PSB ter hoje “conselheiros” com uma visão,
digamos, mais à direita em economia do que o petismo não me seduz
absolutamente. Na verdade, do meu ponto de vista, só torna a equação
ainda mais confusa porque não vejo como ela poderia incentivar com a mão
esquerda o espírito militante e procurar conter com a direita o rombo
nos cofres públicos. Ou por outra: o discurso ideológico de Marina
atenta contra o caixa, mas ela se cerca de gurus econômicos que fazem
profissão de fé na responsabilidade fiscal.
Na minha coluna de
hoje na Folha, critico as patrulhas petistas — ou a seu serviço — que
tentam impedir que se formule um pensamento alternativo no Brasil.
Busca-se deslegitimar desde a origem qualquer critica organizada ao
governo e ao partido oficial. Aécio Neves, do PSDB, é vítima desse
procedimento. Eduardo Campos também era. Será que estou a fazer o mesmo
com Marina? Uma ova! Estou é criticando aqui o que conheço de sua
militância e dizendo por que ela não me serve. Em muitos aspectos,
Marina pode representar um perigo ainda maior do que o petismo.
Se ela se
eleger presidente e puser em prática o que pensa sobre militância
organizada, a relação com os Poderes instituídos, o agronegócio e o
setor energético, quebra o país e o conduz a uma crise política sem
precedentes. Claro! Uma Marina que conseguisse governar teria de jogar
fora a Marina “sonhática”, que está muito mais para “pesadêlica”.
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