Herança deixada pelos quatro anos de Dilma à frente do governo
federal será "uma herança grave para qualquer um", disse Aloysio Nunes
Eduardo Simões e Alexandre Caverni - Agência Reuters
Aloysio Nunes: segundo ele, existe uma percepção entre os investidores de que Dilma "não sabe o que fazer com o país"
Uma "bomba-relógio" explodirá na economia brasileira caso a presidenteDilma Rousseff seja
reeleita em outubro. A previsão é do candidato a vice-presidente da
República na chapa do também tucano Aécio Neves, o senador paulista
Aloysio Nunes, para quem a petista está "desnorteada".
A herança deixada pelos quatro anos de Dilma à frente do governo federal
será "uma herança grave para qualquer um, mas mais grave ainda se for
dada dela para ela mesma", avaliou o senador em entrevista à Reuters no
quartel-general da campanha do PSDB em São Paulo, na terça-feira.
"Eu acho que a bomba-relógio vai explodir sobretudo se a presidente
Dilma for reeleita", disse o tucano, citando o atual quadro econômico de
baixo crescimento econômico e de inflação no teto da meta estabelecida
pelo governo --de 4,5 por cento com margem de tolerância de 2 pontos
percentuais para cima ou para baixo.
"Ela (Dilma) não terá força política para enfrentar os problemas criados
ao longo dos governos do (ex-presidente) Lula e dela. Ela está amarrada
no sistema de alianças políticas... e não tem condições de romper",
avaliou Aloysio Nunes, garantindo que, se eleito, Aécio romperá com esse
sistema de alianças.
Ele assegurou que um governo tucano não será tolerante com a inflação no
teto da meta e acusou Dilma de se "lixar" para o centro da meta. Mas
não especificou que prazo considera adequado para levar a inflação ao
centro da meta.
Na segunda-feira, Aécio disse que quer fazer isso até o final dos
quatros anos de um eventual governo tucano. Aloysio Nunes defendeu a
redução dos gastos públicos --"a austeridade é um ativo político
importante"--, mas não detalhou quais gastos seriam cortados em um
eventual governo tucano. Ele apenas ressaltou que Aécio tomará as
medidas necessárias para colocar a economia em ordem.
Em entrevista à Reuters em abril, Aécio disse que estava preparado para
adotar "medidas impopulares" como a redução dos gastos públicos, o que
gerou críticas de Dilma, que argumentou que essas medidas envolveriam
arrocho salarial.
Depois disso, o tucano deixou de usar a expressão. Para Aloysio Nunes,
existe uma percepção entre os investidores de que Dilma "não sabe o que
fazer com o país". Ele bateu na tecla que vem sendo repetida por Aécio,
de que uma vitória do PSDB nas eleições de outubro contribuirá para a
reversão de expectativas em relação à economia.
"Ela (Dilma) está inteiramente desnorteada", disparou o senador
paulista. "Há um intervencionismo atabalhoado, que acabou gerando
resultados desastrosos, especialmente no setor elétrico", argumentou.
O senador se referia à decisão tomada pelo governo Dilma no final de
2012 de antecipar a renovação das concessões de energia para reduzir as
tarifas. A escassez de chuvas, no entanto, obrigou o uso intensivo da
energia mais cara das termoelétricas, levando o governo a tomar medidas
para socorrer financeiramente as distribuidoras.
Num momento em que a ampla maioria da população deseja mudanças, segundo
as pesquisas de opinião, com o PSDB usando como slogan "Muda Brasil",
Aloysio Nunes ironizou o mote da campanha de reeleição de Dilma, focado
na ideia de que "o Brasil vai continuar mudando". "Eles querem é
conservar o poder. Não querem mudar coisa nenhuma", acusou.
O argumento de Dilma e sua equipe, no entanto, é que os governos do PT
mudaram o país e é por isso que ela tem condições de continuar fazendo
mais mudanças. Apesar das duras críticas a Dilma e ao governo atual,
Aloysio garantiu que, se vencer a eleição, Aécio e o PSDB não terão a
pretensão de que "o Brasil começará no dia 1º de janeiro” de 2015 e
garantiu que serão mantidos programas bem-sucedidos, especialmente
sociais, como o Bolsa-Família.
PMDB e agenda legislativa forte
Aloysio Nunes reconheceu que, dado o quadro político fragmentado no
Brasil, "não é nada condenável" que ministérios sejam entregues a
aliados, ainda que não tenha perdido a oportunidade para nova alfinetada
no governo petista, falando que hoje há um loteamento de cargos
públicos "no varejo absoluto”.
"Você pode dar para compor a maioria, especialmente dentro da maioria
que o apoiou para governar em torno de um programa", disse.
Ele não descartou a participação do PMDB numa eventual administração
tucana. Muitas vezes criticado por aderir a diferentes governos mesmo
quando apoiou outros candidatos durante a campanha eleitoral, o PMDB tem
hoje tem o vice-presidente da República, Michel Temer, que tenta a
reeleição junto com Dilma.
"Eu não demonizo o PMDB", disse Aloysio Nunes. "É perfeitamente possível
um diálogo com o PMDB, a apresentação de um programa de governo e eles
virem a nos apoiar. Se vai participar do governo ou não é outra coisa." E
apontou como ter uma boa relação entre o Executivo e o Parlamento: "a
partir de uma agenda legislativa forte é muito mais fácil o presidente
manejar o Congresso".
O senador paulista disse que o partido está confortável com o desempenho
de Aécio até agora na campanha, apesar de o presidenciável tucano estar
15 pontos atrás de Dilma, segundo pesquisa Ibope divulgada na semana
passada. Ainda mais porque num eventual segundo turno, a diferença
mostrada pela pesquisa é bem menor. "A pesquisa eleitoral é um dado, mas
um outro dado que nós levamos em conta é a rejeição à presidente Dilma,
que é muito alta, a avaliação de governo, que é muito baixa, e o grau
de confiança no governo, que também é baixo", disse.
Na avaliação do tucano, a candidatura de Aécio está bem posicionada nos
principais colégios eleitorais do país, inclusive com apoio de
dissidentes do PMDB em alguns deles, e nem mesmo o fato de Dilma ter
muito mais tempo na propaganda na TV e no rádio que Aécio lhe parece
decisivo.
"Às vezes, quem fala muito acaba dando bom dia para cavalo", disse. "Nos
colégios eleitorais maiores, a situação do candidato do PSDB é muito
mais favorável do que era em 2010."
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