Muitos
são aqueles que condenam o modelo capitalista pois o confundem com o
“capitalismo de estado” ou o “capitalismo de laços”, com aquela enorme
simbiose entre grandes empresários e estado. Os liberais defendem algo
bem diferente. Clamam por menos intervencionismo estatal e menos poder
concentrado no estado, justamente porque sabem do risco de sua captura
por grandes grupos, que passam a demandar subsídios e barreiras
protecionistas que dificultam a livre concorrência.
O liberal é pró-mercado, não
necessariamente pró-negócios. É o processo competitivo que funciona bem,
não a aliança nefasta entre governo e grandes empresas. O caso da Fiesp
é claro: vários liberais, como eu mesmo, reconhecem que a entidade
muitas vezes joga contra o livre mercado, pois pressiona o governo por
vantagens ou privilégios. É do jogo, e com um Custo Brasil tão alto,
nada mais natural do que essas empresas buscarem compensações.
O problema é que isso acaba produzindo um
modelo cada vez mais ineficiente, repleto de remendos pontuais que
ignoram a essência do mal e contribuem para a perpetuação do monstrengo
estatal obeso e poderoso ao extremo. As empresas acabam reféns dos
governantes, e o “investimento” em lobby em Brasília passa a ser mais
relevante do que o investimento produtivo.
Alguns empresários grandes, no legítimo
esforço de lutar pelo interesse de seus milhares de acionistas,
aproximaram-se bastante do governo Dilma desde o começo. Alguns se
excederam nos elogios, outros na ingenuidade de que seria possível
influenciar a gestão de dentro, ignorando o viés ideológico e o perfil
autoritário da presidente. Deram com os burros n’água. E agora acusam o
golpe, apontam para as falhas do governo, abandonam o barco furado.
É o caso de Benjamin Steibruch, que até
ontem era só elogios ao governo Dilma, e hoje diz que só louco investe
no Brasil. Ele já foi devidamente criticado por mim aqui. Foi o entrevistado nas páginas amarelas da Veja desta semana. Seguem alguns trechos:
O principal problema de Dilma não é
deixar de escutar o “mercado”, para ela sinônimo de 30 grandes
empresários reunidos numa sala; e sim seu viés intervencionista, sua
descrença no funcionamento do mercado, da iniciativa privada. É um ranço
ideológico que estava visível desde o começo. Nenhuma reforma
estrutural foi realizada por seu governo, e tudo apontava para a direção
atual, de um quadro recessivo e com alta inflação.
Agora Steinbruch resolve subir o tom,
alertar que, no rumo atual, bateremos no muro. Antes tarde do que nunca!
O desemprego será a próxima vítima das trapalhadas de Dilma. A perda de
credibilidade é total. As medidas pontuais para ajudar uns e outros
criaram distorções, insegurança nas regras do jogo. O gasto público só
aumenta. Não são medidas positivas, como afirma o empresário. São ruins,
equivocadas, erráticas.
Aqui Steinbruch deixa transparecer que
ainda não está totalmente curado de sua cegueira. Ainda parece acreditar
na boa vontade da presidente, diz que o Brasil não está tão mal assim,
mesmo se comparado a outros países. Mentira! Está muito pior
que a grande maioria. Talvez seja receio de Dilma ser reeleita. Ninguém
gosta de ficar mal com o governo. Mas é preciso ter coragem para dizer a
verdade e, com isso, contribuir para a efetiva mudança de rumo.
Steinbruch não foi o único a pular do
barco que afunda. Antes dele, Jorge Gerdau já vinha atacando o governo, a
quantidade insana de ministérios, a burocracia. Como alguém que tentou
ajudar de dentro, ele sabe como é difícil mexer no que precisa ser
mexido, ainda mais com uma equipe tão ideológica como a de Dilma, além
de incompetente.
Abílio Diniz foi outro que subiu o tom e
agora critica o governo Dilma, junto com o banqueiro André Esteves, do
BTG Pactual. Ambos fizeram comentários negativos e demonstraram
preocupação com os rumos atuais, conforme relata uma reportagem da Veja:
Não foi por falta de aviso. De bobos
esses empresários não têm nada, ou não chegariam aonde chegaram. Com
muitos bilhões em risco, talvez seja natural adotar um viés otimista,
desejar crer que é possível levar um pouco de razão aos governantes,
mesmo quando se trata de alguém como Dilma. Era uma doce ilusão.
Dilma está blindada contra a lógica. Sua
carcaça ideológica a torna impermeável à razão. Esses grandes
empresários levaram tempo demais para perceber isso. Alguns ainda não
caíram na real totalmente. Mas antes tarde do que nunca, pois com mais
quatro anos de governo Dilma, o Brasil teria o mesmo destino da
Argentina. Esses empresários precisam parar de alimentar o monstro que
quer devorá-los…
Rodrigo Constantino
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