Entre a opinião dos advogados, as notícias dos jornais, os interrogatórios de testemunhas e a demora (a)normal da Justiça, alguns réus do mensalão acabaram tão perturbados que chegam mesmo a desejar não ter matado quem mataram. De todos os assassinos da ética, José Dirceu é o que mais confunde ficção com realidade.
Num evento em Osasco, no qual partilhou o microfone com José Genoino e João Paulo Cunha, seus companheiros de infortúnio, Dirceu convocou a nação petista ao asfalto. “É preciso ir às ruas, discutir, debater o que está acontecendo. Não aceitamos. Estamos revoltados e indignados e somos vítimas de um julgamento injusto”, disse. Ele quer promover ”o julgamento do julgamento”.
O esperneio é uma escolha compreensível dos condenados. A aceitação dos veredictos do Supremo é uma obrigação coletiva. Dirceu ainda não se deu conta. Mas, ao tentar fazer do seu drama pessoal uma comédia coletiva, corre dois riscos. Além de flertar com o ridículo, fica muito parecido com gente como Valdemar Costa Neto.
De um condenado ao xilondró não se deve exigir uma blindagem das decisões do Supremo. Porém, alguém precisa dizer a Dirceu o seguinte: se o que tem a dizer é isso –“é preciso ir às ruas”— talvez devesse considerar a hipótese de ficar quieto. O silêncio não o livra da cana. Mas evita que se torne um prisioneiro risível, a primeira piada condenada no Brasil a dez anos e dez meses de cadeia..
Josias de Souza-UOL
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