Um
amigo me envia um link de um texto publicado no dia 29 do mês passado
num troço chamado “Rede Brasil Atual”, que pertence à CUT. O e-mail
vinha com uma pequena introdução: “Leia o que disse Marilena Chaui; a
mulher endoidou de vez”. Desconfio da sanidade intelectual desta senhora
desde quando eu era de esquerda. Assim, não achei que ela pudesse me
surpreender. Mas não é que me surpreendeu? Não existe limite para a sua
decadência. Quando você imagina que ela não pode ir mais baixo,
desafiadora, ela o contraria: “Posso, sim! Quer ver?”. E mergulha de
cabeça no esgoto do pensamento, da história e da ética. Antes que entre
no mérito, uma breve memória pessoal.
No
comecinho dos 80, tentávamos uma greve de professores e estudantes na
USP. Numa reunião conjunta de lideranças, dona Chaui — por quem muitos
babavam embevecidos; eu e alguns amigos trotskistas a considerávamos
mistificadora e populista — mostrava-se mais radical do que os próprios
alunos. Num dado momento, indignada com o reitor, disparou um “Vá pra
puta que o pariu”. Como não havia temperatura que justificasse aquela
manifestação, as palavras como que se materializaram, desfilando naquela
sala do Departamento de Filosofia em busca de um contexto. Eu mesmo
fiquei encabulado. E não por causa do palavrão. Mesmo quando da canhota,
tinha minhas ortodoxias. Achava que, se era para alguém ali se
comportar como idiota, que fosse ao menos um de nós, os estudantes… Em
matéria de estupidez, Marilena preenche todos os espaços. Havia outra
coisa que me deixava um pouco com o pé atrás: sua biografia na esquerda
era inexistente até o comecinho dos 80, como aluna e como professora.
Quando veio a abertura política e quando já se podia mandar alguém à
puta que o pariu, ela se transformou numa extremista. Entenderam? Fim da
memória. Vamos ao fato.
No dia 28,
Marilena participou de um debate no comitê de uma tal Selma Rocha,
candidata a vereadora pelo PT — não se elegeu. O tema era este:
“A Política Conservadora na Cidade de São Paulo”. Chaui, cujo salário é
pago pelos paulistas há muitos anos para que ensine filosofia, afirmou,
segundo a página da CUT, que “os candidatos Celso Russomanno (PRB) e
José Serra (PSDB) representam duas vertentes da direita paulista
igualmente prejudiciais à democracia, à inclusão e à cidadania”.
Entendi. Se eles são tudo isso, entendo que deveriam ser proibidos de se
candidatar, não é mesmo? Onde já se viu haver candidatos “prejudiciais à
democracia”?
Escreve ainda a Rede Brasil Atual:
“Ela [Marilena] define o candidato do PRB como herdeiro do populismo tradicional de São Paulo, na linhagem de Adhemar de Barros e Jânio Quadros.”
Entendi. Mas e Paulo Maluf, de quem Russomanno era aliado antes de migrar para o PRB? O deputado do PP é hoje aliado do PT, como sabemos. Ela falou a respeito. Informa o site:
“Para Marilena, o ex-governador Paulo Maluf, cujo partido (PP) está aliado ao PT não eleições paulistanas, não se enquadra na tradição política representada por Russomanno, mas na do ‘grande administrador’, que ela identifica com Prestes Maia (prefeito de São Paulo de maio de 1938 a novembro de 1945) e Faria Lima (prefeito de 1965 a 1969). ‘Afinal, Maluf sempre se apresentou como um engenheiro.’”
“Ela [Marilena] define o candidato do PRB como herdeiro do populismo tradicional de São Paulo, na linhagem de Adhemar de Barros e Jânio Quadros.”
Entendi. Mas e Paulo Maluf, de quem Russomanno era aliado antes de migrar para o PRB? O deputado do PP é hoje aliado do PT, como sabemos. Ela falou a respeito. Informa o site:
“Para Marilena, o ex-governador Paulo Maluf, cujo partido (PP) está aliado ao PT não eleições paulistanas, não se enquadra na tradição política representada por Russomanno, mas na do ‘grande administrador’, que ela identifica com Prestes Maia (prefeito de São Paulo de maio de 1938 a novembro de 1945) e Faria Lima (prefeito de 1965 a 1969). ‘Afinal, Maluf sempre se apresentou como um engenheiro.’”
Que coisa!
É um novo marco na decadência intelectual desta senhora: virou lavanderia da reputação de Paulo Maluf. Oito dias antes dessa declaração de Marilena, a juíza Liliane Keyko Hioki, da 3ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, atendendo a um pedido do Ministério Público, dera prazo até o fim deste mês para o “engenheiro” Maluf devolver aos cofres da Prefeitura de São Paulo R$ 21,350 milhões. A sentença é consequência de uma ação de improbidade administrativa provocada, à época, por denúncia de… petistas, liderados então por José Eduardo Cardozo, atual ministro da Justiça. Hoje, são todos aliados de Maluf.
É um novo marco na decadência intelectual desta senhora: virou lavanderia da reputação de Paulo Maluf. Oito dias antes dessa declaração de Marilena, a juíza Liliane Keyko Hioki, da 3ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, atendendo a um pedido do Ministério Público, dera prazo até o fim deste mês para o “engenheiro” Maluf devolver aos cofres da Prefeitura de São Paulo R$ 21,350 milhões. A sentença é consequência de uma ação de improbidade administrativa provocada, à época, por denúncia de… petistas, liderados então por José Eduardo Cardozo, atual ministro da Justiça. Hoje, são todos aliados de Maluf.
Tudo
passou! Aquele era o Paulo Maluf inimigo. Como tal, o PT o acusava de
ladrão, truculento, reacionário, direitista (eles acham essa palavra um
xingamento), fascista etc. Agora o homem está com o PT e terá uma fatia
da Prefeitura caso Haddad vença. Pronto! Desapareceu o Maluf inimigo da
democracia e da moralidade. Agora, Marilena Chaui apertaria comovida a
sua mão e indagaria: “Como vai, engenheiro, da tradição dos grandes
administradores?”.
Vergonha?
Alguém poderia indagar: “Essa mulher não tem vergonha de falar essas coisas?”. Não! Esquerdistas da linhagem a que ela pertence não têm vergonha, só interesses. Se Maluf serve ao projeto de poder do partido, eles lavam a sua biografia e podem até canonizá-lo, a exemplo do que fizeram com José Sarney, transformado em herói e estadista por Lula. Marilena Chaui é a Carminha do lixão ético petista.
Alguém poderia indagar: “Essa mulher não tem vergonha de falar essas coisas?”. Não! Esquerdistas da linhagem a que ela pertence não têm vergonha, só interesses. Se Maluf serve ao projeto de poder do partido, eles lavam a sua biografia e podem até canonizá-lo, a exemplo do que fizeram com José Sarney, transformado em herói e estadista por Lula. Marilena Chaui é a Carminha do lixão ético petista.
Não pensem
que ela parou por aí, não! Esta senhora, como vocês sabem, é a
verdadeira formuladora da tese de que o mensalão era uma tentativa de
golpe contra o governo Lula. Em sua palestra, mandou ver, segundo o site
que trouxe a notícia:
“De acordo com ela [Marilena], se a República é constituída de três Poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, a atuação do STF ultrapassou o limite: ‘O fato de que o Poder Judiciário faça isso coloca em questão o que é a República. Alguém tem de erguer a voz e dizer que o Judiciário está fazendo com que a gente ponha em questão se este país é ou não uma República’”.
“De acordo com ela [Marilena], se a República é constituída de três Poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, a atuação do STF ultrapassou o limite: ‘O fato de que o Poder Judiciário faça isso coloca em questão o que é a República. Alguém tem de erguer a voz e dizer que o Judiciário está fazendo com que a gente ponha em questão se este país é ou não uma República’”.
O “isso” a
que ela se refere é o julgamento de petistas. Marilena acha que se
trata de uma ameaça à República e propõe que alguém “erga a voz” contra
ao Judiciário. Não é do balacobaco? Julgar petistas segundo todos os
rigores da Constituição e das leis é, para a notável professora, um
“golpe”. Já erguer a voz contra o Poder Judiciário deve ser exercício
democrático…
Faz
sentido, não é? A mulher que demoniza Serra como uma ameaça à democracia
e insere o “engenheiro” Paulo Maluf na linhagem dos grandes
administradores tem mais é de classificar de democracia a tentativa de
golpe petista e de golpe o exercício da democracia.
Nem eu,
que via com desconfiança aquela senhora meio destemperada no comecinho
dos 80, imaginei que ela fosse morrer abraçada a Paulo Maluf. Tudo
devidamente sopesado, é um fim justo para ambos.Texto publicado originalmente às 5h07
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