Época
O eleitorado de São Paulo, como se sabe,
é dado a ataques de tédio. Volta e meia inventa um Enéas, um Clodovil, um
Tiririca – e assim cria grandes fenômenos de votação pelo simples prazer de ver
um palhaço tocar fogo no circo. Na eleição de 2012, os paulistanos estão
ameaçando mais uma travessura.
Apesar do enorme destaque em torno do
julgamento no STF, a tragédia do mensalão não tem sido bem compreendida pela
opinião pública. Frequentemente o caso é classificado como um dos maiores
escândalos de corrupção da história da República. O eleitor precisa entender
que o roubo de dinheiro público é só um dos aspectos do mensalão. E não é o
mais grave.
Na maioria dos casos de corrupção
envolvendo governos, a equação básica é o uso do poder como meio para o roubo.
No mensalão, trata-se de roubo como meio para a permanência no poder. O
dinheiro do valerioduto era destinado essencialmente aos caixas do partido e do
grupo político do presidente da República. Além da compra de votos no
Congresso, servia também para despesas políticas gerais, custeio de
candidaturas, alimentação da máquina partidária.
A grande chaga do mensalão não é a
quantia roubada. É a ocupação da mais alta esfera de poder por um projeto
político medíocre, no qual a energia para governar é desviada para os objetivos
fisiológicos. Nos raros planos de governo propostos e executados pelo PT, como
o Fome Zero, os resultados foram desastrosos. Pela simples razão de que ali não
há planejamento, não há cérebros em busca de soluções, não há espírito público
para fazer reformas estruturais – que podem ser eleitoralmente arriscadas.
O eleitorado paulistano é brincalhão.
Cansou de ver Haddad em ação apenas como um ministro marqueteiro
A privatização da telefonia, que
melhorou a vida de todas as classes sociais, jamais seria feita pelo PT. Era
uma medida inicialmente antipática para a opinião pública, parecia ser a
entrega “do que é nosso” (“nosso”, no caso, era deles – os pendurados no cabide
estatal das telefônicas). Até hoje o partido se enche de votos demonizando as
privatizações, com a tática desonesta e eficiente de defender minorias
organizadas, como se estivesse defendendo o povo.
É típico desse projeto de poder,
desmascarado pelo escândalo do mensalão, transformar o Ministério da Educação
em degrau para a prefeitura de São Paulo. Num dos casos mais gritantes de
inépcia administrativa já vistos no MEC, o então ministro Fernando Haddad
conseguiu presidir três anos de descalabros seguidos na aplicação do Enem,
transtornando a vida de estudantes no Brasil inteiro. Era uma época em que
Haddad estava destacado por seus chefes (Lula e Dirceu) para um objetivo mais
nobre: dar pinta nos palanques de Dilma Rousseff.
O eleitorado de São Paulo é brincalhão.
Cansou de ver em ação esse ministro marqueteiro, usando o MEC como plataforma
de truques populistas, como defender livros didáticos com erros de português
(“nós pega o peixe”) e até torrar dinheiro com propaganda oficial para
sustentar o factoide. Mais um ministro candidato de laboratório, escalado para
fazer média com minorias organizadas, para fazer provocações rasteiras a um
possível adversário de seus chefes em 2014, enfim, pau para toda obra.
Eis que esse militante travestido de
administrador aparece em primeiro lugar nas intenções de voto para o segundo
turno. Ou seja: o eleitor paulistano está entediado de novo. Está ameaçando
botar um pouco de palhaçada na política para ver o que acontece.
Vamos antecipar aqui o que acontece:
conversão da máquina da maior cidade do país em palanque para 2014. O resto é
secundário, eles só pensam naquilo. Valérios, Valdomiros e Sombras devem estar
salivando. Até porque o Supremo acaba de liberar a lavagem de dinheiro em
campanha eleitoral.
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