quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O acidente em Viracopos confirmou que o governo continua namorando o colapso

O Brasil Maravilha é um pobretão que se faz de rico vestindo um fraque puído nos fundilhos, confirmou o acidente que paralisou Viracopos por 46 horas, provocou o cancelamento de quase 500 voos, confiscou o feriadão de mais de 20 mil passageiros e reiterou aos berros a advertência formulada desde 2007 por quem tem mais de três neurônios: as autoridades encarregadas de administrar o sistema de transporte aéreo continuam namorando o colapso. Bastou a quebra do trem de pouso de um cargueiro para mostrar que, em matéria de estrutura aeroportuária, a sede da Copa de 2014 está tão pronta para o evento quanto a Marinha de Guerra para um combate contra a esquadra inglesa nos cafundós do Pacífico.
Como registra o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o acidente escancarou misérias camufladas pelas bravatas de Lula e pela discurseira indigente de Dilma Rousseff. Viracopos não é uma exceção: quase todos os aeroportos brasileiros tem uma pista só. O equipamento necessário para a remoção de aviões de grande porte custa 2 milhões de reais. Em todo o Brasil, só existe um, pertencente à TAM, que se dispõe a emprestá-lo aos concorrentes sangrados por prejuízos devastadores. A Infraero não tem nenhum. Nem pretende ter: sob a alegação de que o problema é das empresas, a estatal já avisou que não vai desperdiçar dinheiro com tais irrelevâncias.
Em 24 de junho de 2010, de passagem por Campinas, Dilma Rousseff precisou apenas de uma entrevista à Rádio Bandeirantes para resolver todos os problemas que continuam do mesmo tamanho. Entre um palavrório indecifrável e outro sem pé nem cabeça, como sublinha o post reproduzido na seção Vale Reprise, a candidata em campanha surpreendeu os ouvintes com dois espantos numa frase só: “O terceiro aeroporto ser em Viracopos é absolutamente adequado, porque Viracopos tem área, Viracopos é perto de Campinas, dista apenas 100 km no máximo de Campinas”.
Primeiro espanto: como Viracopos fica a 14 quilômetros do centro de Campinas, a distância de 100 quilômetros só seria alcançada se o aeroporto inteiro ─ incluídos os portões de embarque, as pistas, o saguão, o estacionamento, o bar, a banca de jornais, os funcionários das empresas aéreas e os passageiros ─ fosse transferido para a capital paulista, a 94 quilômetros dali. Quem faz o PAC é capaz até de embarcar um aeroporto num caminhão de mudanças, mas o entrevistador achou melhor conferir. Só então Dilma descobriu onde estava.
Segundo espanto: o terceiro aeroporto já fora inaugurado, ao menos na cabeça da Mãe do PAC, num ponto da capital paulista jamais revelado “para não provocar especulação imobiliária”. No começo deste ano, em vez de contar onde fica a maravilha imaginária, a superexecutiva de araque mudou de ideia: em vez de construir o moderníssimo colosso por conta própria, informou, o decidira privatizar Viracopos.
A Aeroportos Brasil, vencedora da licitação, vai assumir efetivamente o controle do lugar em fevereiro de 2013, a menos de um ano e meio do início da Copa. Nem um Fernando Cavendish consegue fabricar uma segunda pista num prazo tão curto. Portanto, já não há tempo para impedir que aviões avariados cancelem jogos da Copa ou imobilizem turistas com ingressos no bolso a milhares de quilômetros da arquibancada. Deus é brasileiro, certo. Mas será demais encarregá-lo de monitorar, durante 45 dias, todos os pousos e decolagens no país natal.
Tomara que até a Copa o futebol da Seleção renasça. Será sempre um consolo para milhões de brasileiros condenados a morrer de vergonha
POR AUGUSTO NUNES-REV VEJA

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