A campanha do governo federal para desestabilizar o governo de Geraldo Alckmin (PSDB), à esteira do processo eleitoral, já está em curso
Como os petistas sabem que é muito fácil plantar conversa mole na imprensa porque jornalistas entendem de lógica elementar um pouco menos do que entendem de física quântica, qualquer mentira cola; qualquer plantação rende frutos
Por Reinaldo Azevedo
A última
patacoada influente é de José Eduardo Cardozo, este impressionante
ministro da Justiça, que, num dia aparece na imprensa fazendo
proselitismo político-partidário — como fez em favor de Fernando Haddad —
e, no outro, afirmando que ofereceu ajuda para o governo de São Paulo
para conter a violência. Numa democracia convencional, seria chutado
pela imprensa. No Brasil, dão-lhe um megafone.
É mesmo, é? O governo federal quer ajudar São Paulo? Que bom! Faço uma pausa para citar um texto. Volto depois.
Leitores me enviaram um texto de Clóvis Rossi, jornalista da Folha, que é de estarrecer. Leiam este trecho:
A julgar pelas aparências, o Brasil ou, ao menos, o Estado de São Paulo caminha para “mexicanizar-se” em termos de violência.
O que a Folha chamou, adequadamente, de “explosão de assassinatos” ocorrida em setembro tem como uma das explicações “o acirramento do confronto entre policiais e criminosos”, sempre segundo a Folha.
É a explicação que o governo mexicano sempre dá quando cobrado sobre a violência no sexênio de Felipe Calderón, prestes a se encerrar: das 55 mil mortes ocorridas no país, 80% pelo menos se deveriam ou a confrontos com as forças repressivas ou a ajuste de contas entre os carteis do narcotráfico.
O subtexto dessa explicação é sinistro: o cidadão comum, que nem veste farda nem é bandido, não tem por que ter medo porque suas chances de ser vítima são reduzidas.
Tolice pura. O medo se instalou no México, como em São Paulo, porque a violência é parte indissociável do cotidiano.
Aliás, o número de vítimas de homicídio dolosos e de latrocínio no Estado de São Paulo, de janeiro a setembro, dá 3.826. Se se pudesse extrapolar para um período de seis anos, teríamos 30 mil vítimas só em um Estado, quando, no México inteiro, foram 55 mil – o que torna os dados desgraçadamente comparáveis.
Quando se transformam os números brutos em assassinatos por 100 mil habitantes, dá um infernal empate entre México e São Paulo (10 por 100 mil, com a diferença apenas depois da vírgula). Se se tomar o Brasil inteiro, piora para o Brasil: dados do Banco Mundial para 2011 apontavam, no Brasil, 26 mortes/100 mil habitantes, contra 11/100 mil no México.
Voltei
É espantoso que alguém escreva um troço desses e depois diga de alguma contradita que lhe façam ser “tolice pura”. São Paulo, segundo Rossi, estaria a se mexicanizar, entre outras coisas, porque apresenta o mesmo índice de homicídios: 10 por 100 mil. Uau! Ele próprio lembra que o do Brasil é de 26 por 100 mil — quase o triplo.
A julgar pelas aparências, o Brasil ou, ao menos, o Estado de São Paulo caminha para “mexicanizar-se” em termos de violência.
O que a Folha chamou, adequadamente, de “explosão de assassinatos” ocorrida em setembro tem como uma das explicações “o acirramento do confronto entre policiais e criminosos”, sempre segundo a Folha.
É a explicação que o governo mexicano sempre dá quando cobrado sobre a violência no sexênio de Felipe Calderón, prestes a se encerrar: das 55 mil mortes ocorridas no país, 80% pelo menos se deveriam ou a confrontos com as forças repressivas ou a ajuste de contas entre os carteis do narcotráfico.
O subtexto dessa explicação é sinistro: o cidadão comum, que nem veste farda nem é bandido, não tem por que ter medo porque suas chances de ser vítima são reduzidas.
Tolice pura. O medo se instalou no México, como em São Paulo, porque a violência é parte indissociável do cotidiano.
Aliás, o número de vítimas de homicídio dolosos e de latrocínio no Estado de São Paulo, de janeiro a setembro, dá 3.826. Se se pudesse extrapolar para um período de seis anos, teríamos 30 mil vítimas só em um Estado, quando, no México inteiro, foram 55 mil – o que torna os dados desgraçadamente comparáveis.
Quando se transformam os números brutos em assassinatos por 100 mil habitantes, dá um infernal empate entre México e São Paulo (10 por 100 mil, com a diferença apenas depois da vírgula). Se se tomar o Brasil inteiro, piora para o Brasil: dados do Banco Mundial para 2011 apontavam, no Brasil, 26 mortes/100 mil habitantes, contra 11/100 mil no México.
Voltei
É espantoso que alguém escreva um troço desses e depois diga de alguma contradita que lhe façam ser “tolice pura”. São Paulo, segundo Rossi, estaria a se mexicanizar, entre outras coisas, porque apresenta o mesmo índice de homicídios: 10 por 100 mil. Uau! Ele próprio lembra que o do Brasil é de 26 por 100 mil — quase o triplo.
O dado
intelectualmente vigarista desse debate é que, com esse índice, São
Paulo ainda está em último lugar no ranking dos homicídios — a capital
também. Não é impressionante? O Estado que tem o melhor desempenho nessa
área estaria a precisar de auxílio federal, entenderam? Já os demais
não precisam de nada.
Rossi quer
fazer contas? Eu também! Se o Brasil tivesse o índice de homicídios de
São Paulo, salvar-se-iam por ano 30 mil vidas. Não! Não se trata de
negar a realidade. É claro que há um recrudescimento da violência e que o
crime organizado, DE OLHO NA PAUTA DA IMPRENSA, resolveu participar do
processo político. Como decidiu no México, diga-se. Aliás, o terrorismo
também costuma fazer isso. A sorte do México é que a maioria do
eleitorado, a despeito da dor, preferiu eleger um governo que enfrenta o
narcotráfico a outro que faça acordo com ele.
Polícia X bandidos
A imprensa paulistana começou a fazer uma estranha leitura do mundo, segundo a qual ninguém ganha na guerra entre polícia e bandido, como se estivéssemos falando de duas forças antagônicas, porém legítimas. Se ninguém ganha na guerra entre esses lados, supõe-se que todos ganhem na não-guerra — os bandidos também. O sonho dourado do PCC, e não é de hoje, é derrotar o PSDB em São Paulo. O governo do estado comete um único erro nessa história toda: não reconhecer a existência do crime organizado e sua influência. Existe no mundo inteiro e também aqui. A questão é saber se o crime será enfrentado ou se vai se buscar um pacto com ele.
A imprensa paulistana começou a fazer uma estranha leitura do mundo, segundo a qual ninguém ganha na guerra entre polícia e bandido, como se estivéssemos falando de duas forças antagônicas, porém legítimas. Se ninguém ganha na guerra entre esses lados, supõe-se que todos ganhem na não-guerra — os bandidos também. O sonho dourado do PCC, e não é de hoje, é derrotar o PSDB em São Paulo. O governo do estado comete um único erro nessa história toda: não reconhecer a existência do crime organizado e sua influência. Existe no mundo inteiro e também aqui. A questão é saber se o crime será enfrentado ou se vai se buscar um pacto com ele.
Periferia e crime organizado
Na periferia de São Paulo, crime organizado e política se misturam de maneira escandalosa, como sabem todos os candidatos que passaram por lá — os derrotados e os vitoriosos. A decisão do PSDB tem sido, felizmente, a de confrontar os bandidos. Outras forças pretendem fazer uma aliança objetiva com o crime, que hoje já se transformou numa cultura, que tem até uma estética — eu ousaria dizer que tem até uma “poética”. A rima é ruim, o som é de lascar! Mas eles estão cheios de amanhãs sorridentes!
Na periferia de São Paulo, crime organizado e política se misturam de maneira escandalosa, como sabem todos os candidatos que passaram por lá — os derrotados e os vitoriosos. A decisão do PSDB tem sido, felizmente, a de confrontar os bandidos. Outras forças pretendem fazer uma aliança objetiva com o crime, que hoje já se transformou numa cultura, que tem até uma estética — eu ousaria dizer que tem até uma “poética”. A rima é ruim, o som é de lascar! Mas eles estão cheios de amanhãs sorridentes!
Rossi,
vejam lá, aponta o “infernal empate” entre México e São Paulo, mas nada
diz do Brasil, com um índice de quase o triplo, a exemplo do Rio; em
Pernambuco, do incensado Eduardo Campos, mais do que o quádruplo… E
assim vai. Basta consultar o Mapa da Violência. Rossi deveria parar de
opinar a partir “das aparências”, como confessa fazer, e procurar os
dados — além de se ater à lógica.
De volta a Cardozo
Agora vamos voltar a Cardozo. À Folha, este impressionante senhor afirmou que o governo federal fez uma parceria com Alagoas, estado governado pelo PSDB, e que “o projeto, em 90 dias, reduziu em 50% o índice de violência nas cidades mais perigosas…”
Agora vamos voltar a Cardozo. À Folha, este impressionante senhor afirmou que o governo federal fez uma parceria com Alagoas, estado governado pelo PSDB, e que “o projeto, em 90 dias, reduziu em 50% o índice de violência nas cidades mais perigosas…”
Que bom, né, ministro?, poder falar uma tolice como essa e não ser contradito pela lógica e pelos fatos!
Alagoas
tem mais de 60 mortos por 100 mil habitantes. Algumas cidades estão
tomadas por pistoleiros. Em casos assim, ações pontuais têm mesmo um
efeito imediato porque espantam ou desmobilizam gangues. Isso nada tem a
ver com um combate efetivo e permanente da violência. Mais: assim como o
recrudescimento da violência em 90 dias não significa um dado
permanente, a queda também não implica uma situação definitiva. Por que
este senhor não vai combater o tráfico de armas e drogas na fronteira?
Não! O governo federal prefere financiar a estrada da coca na Bolívia
com dinheiro do BNDES!!!
O ministro
José Eduardo Cardozo está fazendo campanha eleitoral com dois anos de
antecedência. E, lamento afirmar, o crime organizado passa a ser
“parceiro objetivo” — parceiro objetivo não quer dizer, necessariamente,
conluio ou formação de quadrilha, mas também não quer dizer o
contrário… — nessa empreitada.
Para
encerrar: se um dia São Paulo tiver os mesmos 26 mortos por 100 mil do
resto do Brasil, aí Clóvis Rossi pode dizer: “Pronto! Já não é mais
igual ao México; agora São Paulo está igual ao Brasil!” É o que o PT
promete se um dia conquistar o poder no Estado.
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