sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A imprensa paulistana é um cabo eleitoral de Haddad mais eficiente do que Lula. Ou: Haddad, o homem bonzinho!

Qualquer candidato do PT leva uma vantagem imensa em São Paulo porque conta com o apoio automático da quase totalidade da imprensa paulistana, não importa o cargo. “Imprensa vota?” Não vota, claro!, mas interfere na disputa eleitoral de maneira importante. Uma informação errada que se espalha serve para criar ruído, pode desestabilizar a campanha etc. Vejam o caso do kit gay. O tucano José Serra é instado cotidianamente a provar que não é preconceituoso. Já o petista Fernando Haddad, que criou aquela porcaria, não é convidado a falar sobre a sua obra. O nome disso é isenção?
Desde que Serra decidiu se candidatar, a sua renúncia à Prefeitura, em 2006, para concorrer ao governo de São Paulo virou tema permanente dos jornais — e daí saltou para as rádios. Se o eleitorado tivesse achado à época que fora traído pelo tucano, não o teria elegido (o certo é “elegido” mesmo com o verbo auxiliar “ter”) governador no primeiro turno. Na cidade, teve mais votos para esse cargo do que tivera para prefeito em 2004. Em 2010, venceu Dilma Rousseff na cidade e no estado. Então como se formou a onda contra Serra desta vez, ressuscitando a história da renúncia?
Formou-se à esteira da rejeição à gestão do prefeito Gilberto Kassab, da qual se fez picadinho ao longo de quatro anos. Em muitos aspectos, a começar das creches, fez-se no período 2005-2012, mais do que em toda a história da cidade. Não obstante, na imprensa paulistana, ao mesmo tempo em que se destroçava a gestão municipal, afirmava-se — e apontei isso aqui; podem procurar em arquivo — que Serra “abandonou” a Prefeitura e deixou Kassab em seu lugar. Ocorre que o prefeito foi eleito em 2008. Não deve seu mandato à renúncia do antecessor. Quem o escolheu foi o povo da cidade, não Serra. Não importa! Essa foi a pauta quase exclusiva da imprensa.
Quando Lula deu uma cotovelada em Marta e decidiu que o candidato seria Haddad, esses mesmos setores do jornalismo viram na prática coronelista a emergência do “novo”. O novo, no caso, traz junto Luíza Erundina, Marta Suplicy e Paulo Maluf: 16 anos dos últimos 24 de gestão da cidade. Vale dizer: se Haddad for eleito, em 28 anos de gestão, a exceção terá sido o período Serra-Kassab. Fraudes morais, com certa frequência, também são fraudes matemáticas.
Mentiras
Pegue-se o caso das Organizações Sociais na saúde. Ou Haddad mentiu no debate da Band ou mente em seu programa de governo — está escrito ali que, se eleito, ele acaba com a gestão compartilhada de hospitais, o que levaria o caos para o setor. Não importa. Petista pode mentir. Considera-se que isso é parte da política.
Ontem, no debate, Haddad afirmou que Serra só fez obras para os ricos da cidade. É um despropósito, um acinte, uma mentira cretina. Em seguida, propõe um “protocolo” em favor do alto nível da campanha, como se o baixo nível fosse monopólio do adversário. E, claro!, vira notícia. A cidade de São Paulo abriu em oito anos mais vagas em creches do que o resto do Brasil. Marta deixou a Prefeitura com 60 mil; hoje, são 210 mil.  Em 2004, a cidade investia R$ 170 milhões em educação infantil; em 2012, o investimento será de R$ 1 bilhão. Danem-se os fatos. A Prefeitura investiu R$ 1 bilhão em metrô. Para quem? Para os ricos?
Só na gestão Kassab, inauguraram-se 107 AMAs tradicionais e 19 AMAs Especialidades, que se ocupam de ramos da medicina como urologia e cardiologia. Cerca de 800.000 pessoas são atendidas na rede por mês. O número de médicos contratados pela prefeitura passou de 8.606 em 2004 para 14.294 — um aumento de 66%. Mas paraíso mesmo era a cidade quando Marta Suplicy estava na Prefeitura, né? O petismo, com a sua campanha “ética”, que não agride ninguém, vende, com o auxílio do jornalismo amigo, a ideia de que a cidade vive um caos. É o que chamam “alto nível”.
Haddad chama de “baixo nível” a lembrança de seus feitos à frente do Ministério da Educação e o fato objetivo de que pode ser eleito tendo como aliados um ex-prefeito condenado a devolver milhões aos cofres da Prefeitura — Paulo Maluf  — e uma liderança política chamada de “chefe de quadrilha”, com grande possibilidade de passar uma temporada na cadeia: José Dirceu.
Para os petistas, de “alto nível” são as mentiras que eles contam sobre os outros e, de baixo nível, são as verdades que os outros contam sobre eles.
Por Reinaldo Azevedo-REV VEJA

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