O PT culpa a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, pela radicalização entre o governo e o movimento
sindical. Segundo os petistas, o clima de alta voltagem se estabeleceu
quando os dois, Mantega especialmente, decidiram "apostar no cansaço", o
que contraria a tradição petista.
No Palácio do Planalto prevê-se que esta seja a semana mais tensa
desde o início da paralisação, já que o prazo final para a negociação
das reivindicações dos servidores públicos terminou no fim de semana.
Isso porque o reajuste precisa constar da proposta de lei orçamentária
de 2013, que tem prazo até sexta-feira, dia 31, para ser enviada pelo
Executivo ao Congresso. "É como se tivesse uma grande data base",
comentou um auxiliar da presidente.
Segundo petistas históricos, mais do que divergências em relação à
condução da economia, o maior estresse do partido com a presidente é
exatamente a forma como a questão sindical é tratada no governo. E a
greve atual agravou ainda mais a insatisfação. O governo demorou a
iniciar o processo de negociação e, quando o fez, o outro lado estava
radicalizado. Até o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da
Presidência da República, queixou-se do fato de Dilma e Mantega terem
adiado reunião com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), que ele
próprio havia marcado, cerca de um mês antes de deflagrada a greve.
"Falta a Dilma sensibilidade e experiência nesse ramo negocial", diz
um petista, afirmando que essa é a mais marcante diferença entre Dilma
e o antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. O estilo da presidente, de
"apostar no cansaço" dos manifestantes, preocupa o partido. A própria
Dilma admite a assessores que terá de buscar uma "distensão" com os
servidores e os movimentos sindicais, após essa greve. Até porque, como a
presidente diz, esses servidores terão de conviver com ela até 2014.
O comportamento de Dilma, no entanto, não pode ser atribuído apenas a
uma suposta falta de habilidade política, como dizem os petistas.
Especialmente com a CUT, a relação com o ex-presidente da entidade Artur
Henrique foi marcada por forte tensão. Segundo assessores da
presidente, ela "não o perdoa" por ter feito críticas às mudanças no
cálculo da rentabilidade da poupança (que passou a ser alterada toda vez
que a taxa básica de juros ficar abaixo de 8,5%), quando até mesmo o
presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, elogiou a medida.
Na reunião em que a presidente explicou a medida para centrais
sindicais, o então presidente da CUT cobrou de Dilma a discussão da
pauta dos trabalhadores. Dilma sentiu-se "ofendida" com as duas
intervenção de Arthur, segundo assessores da presidente porque era um
momento especialmente importante para o governo, que naquela altura
desconhecia quais seriam as consequências da alteração da regra da
poupança. Depois disso, o Palácio do Planalto teria enviado recados ao
presidente da CUT pedindo que desse declarações favoráveis à medida, o
que não ocorreu.
O afastamento entre a presidente a central é anterior ao episódio.
Assim que tomou posse, Dilma combinou com dirigentes da CUT a
realização de encontros periódicos. A CUT afirma que a presidente não
cumpriu o combinado. A CUT reivindicava o Ministério do Trabalho desde o
governo Lula, mas Dilma manteve o cargo com o PDT - primeiro, com
Carlos Lupi e, depois, com Brizola Neto - deixando furioso o PT.
Em julho deste ano, tomou posse o novo presidente da CUT, Vagner
Freitas, que ao assumir criticou a forma como o governo estava lidando
com a greve dos servidores. "Se o Estado é democrático, tem que
aprender a lidar com conflitos e não pode punir quem está em greve.
Exigiremos o imediato recebimento da CUT por parte do ministro do
Planejamento para solução da paralisação no setor público. Porque a
greve existe apenas enquanto o governo somente enrola e não aponta
propostas consistentes".
Para o Planalto, a radicalização foi uma forma de o dirigente "se
afirmar". É atribuída a ele a iniciativa das vaias ao ministro Gilberto
Carvalho, na abertura da I Conferência Nacional de Emprego e Trabalho
Decente. Antes do discurso do ministro, Freitas disse que iria mover um
processo na Justiça contra o decreto assinado pela presidente que
permite a substituição temporária de servidores federais em greve por
servidores estaduais.
A presidente manifesta preocupação em tentar recompor as relações
com os movimentos sindicais, após o fim da greve. Mas não por temer as
consequências eleitorais citadas por petistas: avaliação no Palácio do
Planalto é que a greve é uma das mais impopulares já realizadas no país
e, ao endurecer, o governo só tem a ganhar politicamente. Exceto pela
ala mais radical de esquerda da legenda, os petistas, em
geral, aceitaram o discurso que tenta demarcar as diferenças entre as
privatizações realizadas pelo governo Fernando Henrique Cardoso e as
concessões lançadas por Dilma - a greve e o projeto das concessões
caminharam em paralelo. Parece ter sido absorvido o argumento pelo qual
o governo Dilma mantém o controle sobre as empresas e decidiu apenas
conceder a exploração dos serviços públicos, sem vender ativos, o que
foi feito pelos tucanos.
Apesar da pouca identidade partidária de Dilma, a sigla, de um modo
geral não tem queixas da gestão. Ao contrário, há grande demanda por
parte de candidatos do PT nas eleições municipais pelo apoio da
presidente. "Qual candidato não gostaria de ter Dilma ao seu lado na
campanha? Eles sabem de onde vem o poder", diz um auxiliar próximo da
presidente da República, cada vez mais candidatíssima à reeleição em
2014. (Valor Econômico)
DO CELEAKS
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