Carlos Chagas
Amanhecemos, hoje, com uma dúvida: estarão os servidores de Judiciário
em greve ou apenas sinalizaram ontem poder cruzar os braços dentro de
alguns dias? Não se discute a justa indignação da categoria, fora os
marajás, porque trabalham muito e ganham pouco. Tem todo o direito de
protestar, mesmo apelando para o último recurso do trabalhador, que é a
greve.
O problema está na coincidência, impossível de ser aceita. Por que o
início da paralisação no dia do julgamento do mensalão pelo Supremo
Tribunal Federal? Mesmo prevendo-se que a mais alta corte nacional de
justiça tenha tomado providências e o presidente Ayres Britto
blindado o tribunal com funcionários fiéis e com policiamento bastante
para garantir os trabalhos, sempre fica o receio do inusitado. E se
piquetes forem formados na porta do STF, tentando impedir a entrada de
advogados e de ministros? A conseqüência será o adiamento. “Pau
neles!” - recomenda a voz rouca das ruas, em nome da lógica, mas fica
difícil, numa democracia, o apelo à truculência. Um evento de magna
repercussão nacional como é o julgamento jamais poderia ser obstruído
por um rotineiro confronto trabalhista que teve o ano inteiro para
desabrochar, mas, por desígnios do destino, eclode precisamente para
turvar a hipótese de as instituições legítimas golpearem a
impunidade.
Desígnios do destino? Nem pensar. Trata-se de trama pueril, nem por
isso menos abjeta. Seria o caso de perguntar a quem interessa a
obstrução. A que partido ou movimento pertencem os líderes empenhados
em botar a categoria na rua precisamente no dia do julgamento? Ainda
mais sob a falsa impressão de que os trabalhadores da Justiça estarão
saindo em defesa dos “injustiçados” mensaleiros...
Ganha uma passagem de ida à Síria, sem volta, quem deixar de responder
que interessa ao PT e à sua subsidiária, a CUT. É a forma de tumultuar
a exposição explícita dos responsáveis pelo maior dos escândalos
políticos das últimas décadas. Quem sabe dá certo? Não pretendia, o
alto comando do PT, pelo menos adiar o julgamento até depois das
eleições? Ou até nunca, conforme o próprio Lula andou tramando? Nada
melhor do que um conflito trabalhista, em meio a tantos outros
registrados nas últimas semanas. Se os caminhoneiros interrompem as
rodovias do país, por que os servidores do Judiciário não poderiam
obstruir a Praça dos Três Poderes? Como as mãos do gato, servirão para
tirar as castanhas do fogo.
Os votos são para que nada disso se configure. Para que o julgamento
comece hoje, sem empecilhos, mesmo com o sacrifício do adiamento, por
algumas semanas, da luta mais do que justa das reivindicações dos
funcionários dos tribunais e juízos de primeira instância. Como no
Brasil estamos acostumados a esperar sempre o pior, vale aguardar
algumas horas. Mas tendo presente que certa casta de detentores do
poder jamais se deteve diante de escrúpulos éticos, se é para mante-lo.
Ontem, instalados num hotel de Brasília, os principais advogados dos
38 réus do mensalão cruzavam os dedos em figa, esperando que uma
simples escaramuça de rua, uma passeata de grevistas ou um piquete de
servidores da Justiça pudessem favorece-los com argumentos que não
encontraram no Bom Direito para absolver seus constituintes. Estariam
pronto ofícios à direção do tribunal alegando a impossibilidade de
exercerem suas obrigações para com os clientes...
DO HORACIOCB
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