quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A BADERNA SUBSTITUINDO O BOM DIREITO?


Carlos Chagas
                                               Amanhecemos,  hoje, com uma dúvida: estarão os servidores de Judiciário em greve ou apenas sinalizaram  ontem  poder cruzar os braços dentro de alguns dias? Não se discute a justa  indignação da categoria, fora os marajás, porque trabalham muito e ganham pouco.  Tem todo o direito de protestar, mesmo apelando para o último recurso do trabalhador,  que é a greve.
                                               O problema está na coincidência, impossível  de ser aceita. Por que o início da paralisação no dia do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal? Mesmo prevendo-se que a mais alta corte nacional de justiça tenha tomado  providências e  o presidente Ayres Britto blindado  o tribunal com funcionários fiéis e com policiamento bastante para garantir os trabalhos, sempre fica o receio do inusitado. E se piquetes forem  formados na porta do STF, tentando impedir a entrada de advogados e de ministros?  A  conseqüência será o adiamento.   “Pau neles!” - recomenda a voz rouca das ruas, em  nome da lógica, mas fica difícil, numa democracia, o apelo à truculência.    Um evento de magna repercussão nacional como é o julgamento jamais  poderia  ser obstruído por um rotineiro confronto trabalhista que teve o ano inteiro para desabrochar, mas, por desígnios do destino, eclode  precisamente para turvar a hipótese de as   instituições legítimas golpearem  a  impunidade.
                                               Desígnios do destino?  Nem pensar. Trata-se de  trama pueril,  nem por isso  menos abjeta. Seria o caso de perguntar a quem interessa a obstrução. A que partido ou movimento  pertencem os líderes empenhados em botar a categoria na rua precisamente no dia do julgamento? Ainda mais sob a falsa impressão de que os trabalhadores da Justiça estarão saindo em defesa dos “injustiçados” mensaleiros...   
                                               Ganha uma passagem de ida à Síria, sem volta,  quem deixar de responder que interessa ao PT e à sua subsidiária, a CUT. É a forma de  tumultuar a exposição explícita  dos responsáveis pelo maior dos escândalos políticos das últimas décadas. Quem sabe dá certo? Não  pretendia, o alto comando do PT, pelo menos adiar o julgamento até depois das eleições? Ou até  nunca, conforme o próprio Lula andou tramando? Nada melhor do que um conflito trabalhista, em meio a tantos outros registrados nas últimas semanas. Se os caminhoneiros interrompem as rodovias do país, por que os servidores do Judiciário não poderiam obstruir a Praça dos Três Poderes?  Como as mãos do gato, servirão para  tirar as castanhas do fogo.
                                               Os votos são para que nada disso se configure.  Para que o julgamento comece hoje, sem empecilhos, mesmo com o sacrifício do adiamento, por algumas semanas, da luta  mais do que justa das reivindicações  dos funcionários dos tribunais e juízos de primeira instância. Como no Brasil estamos acostumados a esperar sempre o pior, vale aguardar algumas horas. Mas tendo presente que  certa casta de detentores do poder jamais se deteve diante de escrúpulos éticos, se é para mante-lo.
                                               Ontem,  instalados num hotel de Brasília, os principais advogados dos 38  réus do mensalão cruzavam os dedos em figa, esperando que uma simples escaramuça de rua, uma  passeata de grevistas ou um piquete de  servidores da Justiça pudessem favorece-los com argumentos que não encontraram no Bom Direito  para absolver seus constituintes.  Estariam pronto ofícios  à direção do tribunal alegando  a impossibilidade de exercerem suas obrigações para com os clientes...
DO HORACIOCB

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