Mais um texto para espalhar e debater. Fiz com o coração, claro!, mas também com uma calculadora…
Ontem, no
Jornal Nacional, assistimos a um pequeno retrato de algumas agruras do
país e do que eu chamaria de desordem intelectual brasileira. Não, o
programa jornalístico não tinha nada com isso. Era apenas o seu retrato.
E me dei conta do estrago que o pensamento politicamente correto pode
provocar na sociedade. E por que provoca? Porque dá um pé no traseiro
dos fatos e das evidências.
Depois de
relatos de casos de violência em São Paulo e no Rio, com direito a
personagens em negativo e voz distorcida, o que reforça o clima de medo,
assistimos a uma reportagem sobre o novo Código Penal — o jornal deu
início nesta semana a uma série a respeito.
Transcrevo um trecho da reportagem:
A comissão que propôs a reforma do código penal sugere cadeia como punição só para crimes mais graves. No caso dos furtos simples, a ideia é eliminar a pena se houver o ressarcimento da vítima.
A comissão que propôs a reforma do código penal sugere cadeia como punição só para crimes mais graves. No caso dos furtos simples, a ideia é eliminar a pena se houver o ressarcimento da vítima.
“O
encarceramento faliu. A solução punitiva da cadeia deve ser reduzida
para os casos extremos, para os casos que realmente não tenha
alternativa”, diz o advogado Técio Lins e Silva, integrante da comissão
de reforma do Código.
O
subprocurador geral de Justiça do Ministério Público do Rio, Antônio
José Campos Moreira, tem outra opinião. “A pena privativa de liberdade
deve ser a última opção do juiz nesses crimes de menor gravidade, agora
simplesmente deixar de provê-la ou criar alternativas para que ela não
seja efetivamente cumprida desfavorece a sociedade, deixa a sociedade
desprotegida”, afirma.
Na próxima
reportagem, você vai ver que a renovação do Código Penal passará pela
discussão de temas polêmicos, ligados à violência, como o uso de drogas e
o jogo do bicho.
Voltei
Técio Lins e Silva já havia falado na reportagem de anteontem do JN. Que coisa! Alguém inventou a tese — sabe-se lá com base em quê — segundo a qual há presos demais no Brasil! Não! Há presos de menos! O que existe, como deixam claras as ocorrências, é bandido demais nas ruas, isto sim!
Técio Lins e Silva já havia falado na reportagem de anteontem do JN. Que coisa! Alguém inventou a tese — sabe-se lá com base em quê — segundo a qual há presos demais no Brasil! Não! Há presos de menos! O que existe, como deixam claras as ocorrências, é bandido demais nas ruas, isto sim!
O que é
prender demais? Qual é a base de comparação? Segundo dados do
Departamento de Justiça dos EUA, havia em 2009 no país 2.292.133 pessoas
efetivamente presas — atenção, outras 4.933.667 estavam em liberdade,
mas enroscadas com a Justiça. As prisões juvenis reuniam outras 92.845
pessoas. Seriam os EUA uma ditadura, uma tirania, um exemplo de
sociedade que esmaga as liberdades individuais??? Arredondemos para 500
mil os presos brasileiros. Isso significa 263 por grupo de 100 mil
habitantes (tomo como base 190 milhões de habitantes). Huuummm… É muito?
Nos EUA, eles são, atenção!, 744 por 100 mil!!! Quase o triplo. O
Brasil tem 24 homicídios por 100 mil habitantes (números de 2010,
segundo o “Mapa da Violência). Os EUA, 5!!! Menos de um quinto!
Entenderam?
Há países
que prendem menos do que os EUA, com menos homicídios? Há! É evidente
que prender ou não prender bandidos não é o único fator da segurança
pública. Mas uma coisa é certa: ninguém ainda inventou uma maneira de
deixar um facínora solto e, ao mesmo tempo, diminuir a violência.
O Brasil
prende demais, doutor Técio? Besteira! Está em 47º lugar na lista por
100 mil habitantes. E atenção! É assim por causa de São Paulo, onde
estão 40% dos presos brasileiros, embora o estado tenha menos de 22% da
população. De novo, vamos aos números: o Estado tem, então, 606 presos
por grupo de 100 mil habitantes. Isso quer dizer que o resto do Brasil
tem apenas 168, quase o índice da Grã-Bretanha, queridos, que é de 143
por 100 mil. Se tirarmos São Paulo da conta, o Brasil salta para 30
mortos por 100 mil. Entenderam o ponto? Aquela parte do país que
registra mais de 45 mil homicídios por ano tem um índice de
encarceramento de padrão verdadeiramente britânico, onde há apenas 5,4
mortos por 100 mil! Por que esses números não vêm a público? Por que os nossos repórteres não levam esses dados aos nossos juristas libertários?
Ora, não
por acaso, o estado que mais prende — São Paulo — viu despencar os
índices de violência (a despeito das ocorrências dos últimos dias;
ocupo-me da trajetória histórica): o índice de homicídios caiu quase 70%
em 10 anos; o de assassinato de jovens, mais de 80%. Em alguns estados
do Brasil, especialmente no Nordeste, a violência explodiu.
Mas alguns
dos nossos juristas, especialmente aqueles que elaboraram a proposta do
Código Penal, têm uma ideia na cabeça: prender menos e soltar presos.
Querem meter na cadeia alguém acusado de bullying ou de maltratar um
cachorro, mas deixar do lado de fora quem rouba.
Os
senhores senadores analisarão as propostas dos juristas. Também lhes
caberá pensar a questão das drogas (ver post nesta página). A depender
das escolhas, deixarão a sociedade mais à mercê de bandidos do que está
hoje. O que faço acima é pôr fim a uma farsa, a um achismo cretino.
Basta disposição para pesquisas, ter uma calculadora e não estar com os
olhos tapados.
Bem,
sempre se pode tentar provar que essas contas estão erradas, não é? E
sempre há aqueles de bom coração que dirão: “Lá vem esse cara com
matemática! O que importa é ter coração!”
Texto publicado originalmente às 7h10
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