Fernando
Cavendish esteve em Brasília e deixou claro a uma parlamentar: se for
transformado em bode expiatório, revelará o esquema de laranjas que
atende a todas as empreiteiras que negociam com o governo e que
financiam políticos. O recado foi passado adiante, e a CPI decidiu não
convocá-lo. Não guarde essa informação só pra você!
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A CPI instalada para apurar o escândalo que tem — ou tinha —no centro o bicheiro Carlinhos Cachoeira produziu, nesta semana que termina, ela própria, um novo escândalo: deixou de convocar Fernando Cavendish, o dono da Delta. Reportagem de Daniel Pereira e Adriano Ceolin na VEJA que começa a chegar hoje aos leitores explica os motivos. Leiam trechos. A íntegra está na edição impressa da revista. Volto depois.
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A CPI instalada para apurar o escândalo que tem — ou tinha —no centro o bicheiro Carlinhos Cachoeira produziu, nesta semana que termina, ela própria, um novo escândalo: deixou de convocar Fernando Cavendish, o dono da Delta. Reportagem de Daniel Pereira e Adriano Ceolin na VEJA que começa a chegar hoje aos leitores explica os motivos. Leiam trechos. A íntegra está na edição impressa da revista. Volto depois.
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No mesmo dia em que a CGU anunciou a punição à Delta, [Fernando] Cavendish esteve em Brasília. Numa conversa com um parlamentar de quem é amigo, ele disse que não apenas a Delta, mas a maioria das grandes empreiteiras paga propina a servidores públicos e políticos em troca de obras e aditivos contratuais.
No mesmo dia em que a CGU anunciou a punição à Delta, [Fernando] Cavendish esteve em Brasília. Numa conversa com um parlamentar de quem é amigo, ele disse que não apenas a Delta, mas a maioria das grandes empreiteiras paga propina a servidores públicos e políticos em troca de obras e aditivos contratuais.
Cavendish
afirmou ainda que a Delta adotou o mesmo sistema que já era usado pelas
outras empreiteiras: para dificultar o rastreamento da propina,
repassava os recursos a empresas-laranja, que, posteriormente,
entregavam o pedágio a quem de direito. Sentindo-se injustiçado por ser o
único a expiar os pecados em público, Cavendish apresentou ao
parlamentar um conjunto de empresas-laranja que serviriam à Delta e às
concorrentes.
Ele nominou
sete empresas das áreas de engenharia e terraplenagem. Todas atenderiam
às empreiteiras de modo geral, repassando recursos destas a autoridades
que facilitam a obtenção de contratos em órgãos públicos. Todas
funcionam em São Paulo e têm como proprietário o empresário Adir Assad,
apesar de estarem em nome de pessoas como o técnico em refrigeração
Jucilei Lima dos Santos e de Honorina Lopes, sua mulher, ambos
encarnando o papel daquilo que os manuais de corrupção classificam como
laranja.
Cavendish
conhece como poucos Adir Assad — e os serviços prestados por ele. Há
duas semanas, VEJA revelou que a Delta repassou 115 milhões de reais a
empresas-laranja. Do total, 47,8 milhões abasteceram as contas da Legend
Engenheiros Associados, da Rock Star Marketing e da S.M. Terraplanagem,
que também são de propriedade de Adir Assad.
As sete
novas empresas de engenharia e de terraplenagem, segundo Cavendish,
fariam parte do mesmo laranjal a serviço da Delta e também de outras
grandes empreiteiras do país. O parlamentar que conversou com Cavendish
passou o relato adiante. Foi como se acendesse um rastilho de pólvora
que percorreu as bancadas do PMDB, PP, PR e PT. O recado foi entendido
como um pedido de solidariedade e, claro, como uma ameaça velada,
destinada a trazer novas empresas e parlamentares para o centro da
investigação.
“Está claro
que convocar o Cavendish é trazer para a CPI todas as empreiteiras”, diz
um graduado petista que votou contra a convocação do empreiteiro. Só
uma investigação acurada sobre a movimentação financeira das
empresas-laranja revelará se Cavendish blefa ou fala a verdade. O fato é
que, na semana passada, o empresário foi blindado apesar da fartura de
indícios que pesam contra ele. Além do relatório do Coaf, a própria CPI
já detectou que houve grande quantidade de saques em dinheiro, às
vésperas das eleições, nas tais empresas-laranja abastecidas pela Delta.
Uma planilha
em poder da comissão também revela que contas da empreiteira que
recebiam os recursos federais foram as mesmas que transferiram dinheiro
para uma empresa-laranja sediada em Brasília, agraciada com 29 milhões
de reais. Os parlamentares de oposição acreditam que encontraram o caixa
usado para subornar funcionários do governo federal.
(…)
(…)
Não que fosse exatamente um mistério, não é? Mas agora estão aí os detalhes da cadeia de eventos que resultou na não convocação de Cavendish. Nunca antes na história destepaiz uma Comissão Parlamentar de Inquérito se acovardou de maneira tão vexaminosa.
E fiquem
como outra informação: alguns governistas consideram que as convocações
do dono da Delta e de Luiz Antônio Pagot, ex-chefão do Dnit, são
inevitáveis. Tentam uma maneira — o problema é saber que compensação
poderia oferecer — de fazer com que depoimentos incômodos estourem como
bomba só no terreno da oposição. Até agora, não conseguiram encontrar a
fórmula. A razão é simples: o primeiro cliente da Delta é o governo
federal; o segundo é o governo do Rio; o terceiro é o de Pernambuco.
A Delta
tinha uma expertise e um método onde quer que operasse, entenderam? E,
anda a espalhar Cavendish, não eram práticas exclusivas de sua empresa.
Ele teria feito apenas o que todos, na sua área, fazem.
Ah, sim: a
convocação de Cavendish foi recusada por 13 a 16. Escreve VEJA: “Para a
definição do placar, foram decisivos dois parlamentares: o senador Ciro
Nogueira (PP-PI), que se alinhou à maioria, e o deputado Maurício
Quintella Lessa (PR-AL), que não participou da sessão. Soube-se depois
que Nogueira e Lessa haviam se encontrado na Semana Santa com Cavendish
num restaurante em Paris”.
Eles juram que foi um encontro casual. Quem duvidaria?
PS —
Leitor, você ainda se encontrará com Cavendish em Paris. Mas tenha o
bom senso e o bom gosto de não dançar com guardanapo na cabeça…
Post publicado originalmente às 6h48
REV VEJA
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