quarta-feira, 9 de maio de 2012

Violência retórica, baixaria e antissemitismo: “Teu patrão vai para Auschwitz”

Recebo, como sabem, milhares de comentários por dia. Agora mesmo, 5h47 da madrugada, quando começo este post, já há 241 comentários na fila. Uma parte vem daquilo que chamo “rede criminosa” da Internet. Não publico para poupar-nos da baixaria, da violência retórica, das ameaças, da pior imundície. É claro que se trata de uma organização, que obedece a um comando. E eles não poupam nada: família, intimidade, origem… Enquanto estiver em vigência o estado de direito no Brasil, há que se recorrer à Justiça para responder aos agravos. Tenho encaminhado à VEJA as agressões que ultrapassam o limite do tolerável e ferem fundamentos até da Constituição.
Alguém se identificando como François-Marie Arouet — o nome de batismo de ninguém menos do que Voltaire —, num texto meio confuso, mas de sentido claro, escreve o que segue, referindo-se a Roberto Civita, publisher da VEJA:
Escuta aqui, figura, endoidou ou terminou o casório com mulher para embichar de vez? Se teu patrão for “convidado” à CPI, o Murdoch acabará por deportá-lo para Auschwitz, pois a latrina de quem aparece mais não foi feita para herdeiro de zelote, fugitivo da Itália e da Argentina. Tu não aprendes mesmo, quadrúpede com mania de bípede! Está na hora de apelares para o Pentauteuco - e não para o Eclesiastes - à cata de uma fraude qualquer, de um conto-do-vigário capaz de blindá-lo contra a força do destino; tu e todos aí desse lupanar da Casa Verde.
Essa é a linguagem que falam nas agressões que enviam ao blog. Civita é judeu, e Auschwitz é um campo de extermínio. A metáfora desse Voltaire nazistoide (IP 177.0.236.159), a seu modo, faz sentido. Querem enviar a imprensa para um campo de extermínio, para a câmara de gás.
As referências ao “judeu sujo”, ao “judeu sem pátria”, à “solução final para a imprensa golpista e para os sionistas” se multiplicam nos comentários enviados ao blog. Por incrível que possa parecer, são aceitas coisas semelhantes nas áreas de comentários de páginas que ostentam a marca de estatais e do governo. Se houver futuro para estepaiz, como diria aquele, um dia haveremos (ou nossos filhos e netos) de nos escandalizar com o fato de que dinheiro público tenha sido usado para patrocinar o achincalhe da oposição, da imprensa e de figuras do Judiciário — além de promover o preconceito mais odiento, mais asqueroso, mais rasteiro.
“Você e o judeu nojento que paga o seu salário vão ver agora o que é bom pra tosse”. É assim que eles se expressam. E acreditem:  são capazes de muito mais. Esses são exemplos amenos do que chega — junto, claro!, com a reprodução de acusações publicadas pela rede a soldo. Já está bom, não é? Matéria para a polícia e para a Justiça. Ainda que muitos covardes se escondam no anonimato ou recorram a apelidos, há ferramentas para encontrá-los e fazê-los responder pelo que dizem.
Querem mandar a imprensa livre e independente para o paredão e para a câmara de gás, mas a isso que fazem chamam “liberdade de expressão”. Estão de tal sorte “pilhados” por seus orientadores (i)morais que já não se dão conta dos crimes que estão cometendo — alguns deles inafiançáveis e imprescritíveis. Estão, reitero, convictos de que já chegaram lá e que é hora de dar o golpe final, mais ou menos como os bolcheviques fizeram com Kerensky. Mas não somos os “kerenskiáveis” da vez…
Leiam o que vai em vermelho. Volto em seguida.
Quando a imprensa judaica reclama que o movimento Nacional Socialista tem a permissão de falar em todas as rádios alemãs por causa de seu chanceler, podemos responder que só estamos fazendo o que vocês sempre fizeram no passado.
(…)
Há alguns anos, não falávamos da boca pra fora quando dizíamos que vocês, judeus, são nossos professores e que só queremos ser seus alunos e aprender com vocês. Além disso, é preciso esclarecer que aquilo que esses senhores conseguiram no terreno da política de propaganda durante os últimos 14 anos foi realmente uma porcaria. Apesar de eles controlarem os meios de comunicação, tudo o que conseguiram fazer foi encobrir os escândalos parlamentares, que eram inúteis para formar uma nova base política.
(…)
Se hoje a imprensa judaica acredita que pode fazer ameaças veladas contra o movimento Nacional-Socialista e acredita que pode burlar nossos meios de defesa, então, não deve continuar mentindo. Um dia nossa paciência vai acabar e calaremos esses judeus insolentes, bocas mentirosas!
(…)
E se outros jornais judeus acham que podem, agora, mudar para o nosso lado com as suas bandeiras, então só podemos dar uma resposta: “Por favor, não se dêem ao trabalho!”
(…)
Esta insolência judaica tem mais passado do que terá futuro. Em pouco tempo, ensinaremos os senhores da Karl Liebnecht Haus [sede do Partido Comunista] o que é a morte, como nunca aprenderam antes. Eu só queria acertar as contas com os [nossos] inimigos na imprensa e com os partidos inimigos e dizer-lhes pessoalmente o que quero dizer em todas as rádios alemãs para milhões de pessoas.
São trechos do discurso que Goebbels fez em Berlim no dia 10 de fevereiro de 1933.  Eu traduzi a parte que vai no vídeo abaixo no dia 20 de setembro de 2010 Está tudo aí. A síntese poderia ser esta: “Acabaremos com vocês porque vocês… existem”.
Encerro
O mais curioso de tudo é que, volta e meia, tentam ironizar: “Ah, vocês estão se defendendo!” Não, vagabundos! Estou atacando com as armas da civilização. Mas posso compreender que nazistoides, fascistoides e comunistoides acreditem que a seus adversários não assiste nem mesmo o direito à defesa. Vocês não pertencem a 2012. São isso que se vê acima: a Alemanha de 1933! E vão para a lata do lixo, com seu ódio, seu rancor, seus preconceitos e seu antissemitismo asqueroso.
Texto publicado originalmente às 6h28
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA

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