É
grande o risco de a CPI do Cachoeira degenerar — ou voltar às suas
origens no que concerne às intenções — numa pantomima autoritária. PT e
PMDB se articulam para convocar o governador de Goiás, Marconi Perillo
(PSDB), deixando de fora os governadores do Distrito Federal, Agnelo
Queiroz (PT), e do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). A justificativa vigarista,
pilantra, para pegar trouxas mesmo, é que Cabral nem mesmo é citado nas
gravações e que os indícios contra Agnelo seriam menos graves do que os
contra Perillo. Esse é só o argumento da força contra a força do
argumento; é a desculpa da maioria para intimidar a minoria.
Que fique
claro: dado o que circula até agora, acho, sim, que Perillo tem de ser
convocado. Mas livrar a cara de Agnelo e Cabral é um acinte, que
desmoraliza a comissão. Do mesmo modo, a articulação de peemedebistas e
petistas contra a quebra de sigilo da Delta nacional é uma ofensa à
inteligência dos brasileiros. Reportagens do jornal O Globo já
demonstraram que a empresa tem um verdadeiro laranjal no Rio e em São
Paulo. O deputado Odair Cunha (PT-MG) já havia afirmado que a quebra
seria inevitável, mas, diante das pressões, recuou. O relator emitiu
outro péssimo sinal quando, no não depoimento de Wladimir Garcez,
formulou 19 perguntas tentando implicar o governador tucano e apenas uma
sobre o governador petista. Uma desnecessidade! A maioria governista na
CPI já é acachapante. O relator até pode se dar ao luxo da isenção. Mas
ele preferiu, nesse caso, ser um petsita típico: “Estou aqui para pegar
adversários, não para o bem do país”.
Picaretagem
HÁ UMA PICARETAGEM ESSENCIAL NESSAS DESCULPAS QUE AINDA NÃO FOI DEVIDAMENTE EXPLICITADA. A CPI não está ali apenas para ler relatórios da Polícia Federal e ouvir grampos, ora essa! Que sentido faria investigar só o que já foi investigado? Uma comissão DE INQUÉRITO pode e deve, como diz o nome, avançar. Ou não tem razão de ser. Qualquer pessoa razoavelmente informada sobre o assunto já percebeu que Carlinhos Cachoeira é só um braço, uma parcela, de um corpo bem maior chamado “Delta”. E, minhas caras, meus caros, ninguém neste Brasil é tão íntimo de Fernando Cavendish, como as fotos deixaram pateticamente claro, quanto Cabral.
HÁ UMA PICARETAGEM ESSENCIAL NESSAS DESCULPAS QUE AINDA NÃO FOI DEVIDAMENTE EXPLICITADA. A CPI não está ali apenas para ler relatórios da Polícia Federal e ouvir grampos, ora essa! Que sentido faria investigar só o que já foi investigado? Uma comissão DE INQUÉRITO pode e deve, como diz o nome, avançar. Ou não tem razão de ser. Qualquer pessoa razoavelmente informada sobre o assunto já percebeu que Carlinhos Cachoeira é só um braço, uma parcela, de um corpo bem maior chamado “Delta”. E, minhas caras, meus caros, ninguém neste Brasil é tão íntimo de Fernando Cavendish, como as fotos deixaram pateticamente claro, quanto Cabral.
Não houvesse
entre os dois amigos contratos que ultrapassam R$ 1 bilhão, boa parte
sem licitação, ninguém estaria tentando xeretar relações privadas. E, é
evidente, a venda da empresa a toque de caixa a um grupo que recebeu uma
fabulosa injeção de dinheiro do BNDES é um escândalo em si. Cumpre
agora só apurar a sua extensão e conhecer detalhes.
Quanto a
Agnelo, dizer o quê? Um de seus braços direitos caiu logo na segunda
semana do escândalo. O esforço para fazer do petista apenas uma pobre
vítima de chantagistas perversos é história da carochinha. Não obstante,
os petistas decidiram blindar Agnelo, os peemedebistas decidiram
proteger Cabral, e ambos decidiram preservar a Delta. Juntos, formam a
maioria da CPI. A rigor podem convocar e livrar a cara de quem bem
entenderem.
Comissões de
inquérito no Poder Legislativo, em todo o mundo democrático, são um
instrumento a mais de que dispõe a minoria para vigiar e conter o
governo — e o governismo. CPI da maioria contra a minoria está mais para
regimes autoritários. Caso petistas e peemedebistas se juntem para
proteger a Delta e seus respectivos governadores, resolvendo convocar
apenas Perillo, não restará às oposições outra saída que não melar o
jogo. Têm, a meu ver, de abandonar a CPI, denunciar a manipulação e
acusar o ato político fraudulento. O deputado Odair Cunha reflita com
cuidado. A única personagem politicamente inimputável do Brasil é Lula.
Nenhum outro petista tem a mesma licença.
A sessão
administrativa em que essas coisas serão decididas ocorrerá na terça.
Vai dizer se essa CPI tem salvação ou se vai se perder na politicagem
mais rasteira. Qualquer decisão que não passe pela convocação dos três
governadores e pela quebra do sigilo nacional da Delta merece ser
qualificada de vigarista e de tentativa das forças do governismo de usar
uma comissão de inquérito, que é uma prerrogativa do Poder Legislativo,
para fazer a política partidária da pior espécie. Que façam, mas sob o
signo da ilegitimidade, sem que a oposição seja cúmplice da pantomima.
REV VEJA
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