O erro do Ministério da Saúde, no filme exibido no post abaixo, não tem nada a ver com a questão do sexo dos parceiros. O seu erro, brutal, escandaloso, incorrigível, é de outra natureza. E já falei a respeito algumas vezes. Vejam a frase que sintetiza a peça publicitária: “Na empolgação, rola de tudo, só não rola sem camisinha”. Epa! Se existe camisinha, então tudo é permitido? Acho que não. Trata-se, mais uma vez, de uma pregação irresponsável. Vejam a narrativa: há ali a aceitação tácita — mais do que isso: o incentivo — do sexo entre pessoas que acabaram de se conhecer.
Ora, a AIDS não é a única doença que se pode contrair da intimidade total entre não-íntimos. A camisinha é só uma barreira física. O que realmente pode combater a doença são as interdições morais. A palavra assusta os ignorantes e os idiotas porque associam o termo “moral” ao “moralismo” como sinônimo de uma vida de hipocrisias e interdições. Não se trata disso.
Se uma campanha oficial considera normal, aceitável e até desejável que pessoas que acabaram de se conhecer terminem na cama, então não haverá camisinha que dê jeito. Se ela estiver à mão, bem; se não estiver, bem… Pesquisem a respeito. Uganda tem o programa mais eficiente da África de redução da AIDS. A camisinha é só o terceiro item de uma tríade, que virou política oficial: abstinência sexual, fidelidade no casamento e, sim, a borracha.
Não, não sou doido. Imaginem se o governo pé-na-jaca faria uma campanha pela abstinência… Sou realista. Mas eu aposto: até que a política oficial for de incentivo ao sexo irresponsável, como é esse filme, nada feito. Não por acaso, e vocês podem achar os dados na Internet, de fontes confiáveis, a contaminação pelo vírus voltou a crescer entre homossexuais, especialmente os mais jovens, com escolaridade que já lhes permite saber como se dá o contágio.
E por que é assim? Porque o Ministério da Saúde entrega essas campanhas não a médicos, não a estudiosos do comportamento, mas a militantes da causa. E os militantes sempre confundem o combate à AIDS com o que chamam “preconceito”. Há ainda um outro fator: o coquetel anti-AIDS está levando muita gente a considerar que a doença é só um mal crônico, que tem controle. E, obviamente, não é. Consta que os efeitos dos medicamentos ainda são bem desagradáveis e impõem consideráveis restrições às pessoas em tratamento.
Não! O meu problema com esse filminho infeliz não tem nada a ver com o fato de serem dois rapazes a se pegar. Ainda que fossem heterossexuais vivendo a mesma situação, a mensagem continuaria torta, continuaria errada.
Enquanto for esse o parâmetro, o combate à AIDS continuará a custar uma fortuna aos cofres públicos e será uma espécie de enxugamento de gelo. Com tudo o que já se sabe da doença, o contágio deveria ser hoje uma exceção, própria apenas das últimas franjas de desinformação do Brasil mais atrasado. E, no entanto, não é assim.
Esse filme, pouco importa se veiculado em canal aberto ou fechado, não serve para combater a AIDS, mas para fazer propaganda de um estilo de vida. De um péssimo estilo de vida se o objetivo é combater uma doença sexualmente transmissível. Se alguém duvidar, basta olhar os dados sobre o contágio. O Estado fornece hoje camisinha, remédio, informação, tudo de graça. Mais um pouco, vira babá de genitálias. O Estado só não tem como fazer a escolha moral em lugar do indivíduo. Se bem que o nosso está fazendo. E faz uma péssima escolha.
Ministério da Saúde põe no ar e depois retira filme com carícias homossexuais para falar sobre uso de camisinha
Da Agência Brasil. Comento no post seguinte:
O Ministério da Saúde retirou do Portal sobre Aids, Doenças Sexualmente Transmissíveis e Hepatites Virais, que o órgão mantém na internet, um vídeo com cenas de um casal homossexual trocando carícias em uma boate. O filme fazia parte da campanha de prevenção a doenças transmissíveis por relações sexuais lançada para o carnaval deste ano.
O Ministério da Saúde retirou do Portal sobre Aids, Doenças Sexualmente Transmissíveis e Hepatites Virais, que o órgão mantém na internet, um vídeo com cenas de um casal homossexual trocando carícias em uma boate. O filme fazia parte da campanha de prevenção a doenças transmissíveis por relações sexuais lançada para o carnaval deste ano.
De acordo com a assessoria de imprensa do ministério, o vídeo foi feito para ser exibido exclusivamente em locais fechados, que recebem público homossexual, e não deveria ter sido disponibilizado na internet. Segundo o ministério, a postagem do vídeo no portal foi “um equívoco”.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse na quarta-feira (8) que está na fase final de produção uma peça audiovisual para ser exibida nas TVs abertas, que mantém a estratégia do governo de priorizar, na campanha deste ano, o público homossexual. A campanha de prevenção para o carnaval foi lançada na semana passada e tem como alvo jovens de 15 a 24 anos, sobretudo gays.
O aumento da incidência da aids nesse grupo foi 10,1%, conforme dados divulgados pelo governo federal no fim do ano passado. Em 2010, para cada dez heterossexuais com aids, havia 16 homossexuais soropositivos. Em 1998, a relação era de dez para 12.
Por Reinaldo AzevedoREV VEJA
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