sábado, 5 de novembro de 2011

GUERRA DO TRAFICO FECHA CINCO ESCOLAS EM BANGU

RIO - Após o Colégio Estadual Professor Daltro Santos, em Bangu, ter sido invadido no início da manhã de sexta-feira por bandidos armados que fugiam da polícia , a unidade teve as aulas suspensas. Os momentos de tensão vividos por alunos e professores fez outras duas escolas estaduais da região e mais dois colégios municipais também fecharem as portas. Tido como referência de ensino de qualidade na Zona Oeste até meados da década de 1980, o colégio passou por cenas que nem de longe remetem à escola onde já lecionou o professor de educação física e campeão do mundo pela seleção brasileira Carlos Alberto Parreira.
FOTOGALERIA: Veja imagens da ação da polícia na Escola Daltro Santos
A invasão da escola ocorreu durante uma operação conjunta das polícias Civil e Militar contra traficantes das favelas Vila Aliança, Coreia e Rebu, que há cerca de seis meses tentam invadir a vizinha Vila Kennedy. De acordo com a delegada titular da 34ª DP (Bangu), Márcia Julião, um grupo de bandidos pulou o muro do colégio para fugir e saiu em seguida. Um dos traficantes, porém, resolveu se esconder na escola. Todos os alunos e funcionários foram retirados pela polícia, e Wilson Garcia Soares Júnior, de 27 anos, foi detido vestindo um uniforme de faxineiro para tentar se disfarçar. Um fuzil AK-47 foi apreendido.
Apesar de Robson Lage, diretor regional da Secretaria estadual de Educação, ter negado que houve pânico após a invasão dos bandidos, uma estudante de 17 anos relatou ao GLOBO que o traficante armado chegou a ficar dentro de uma sala de aula:
- Foi desesperador. Um deles entrou na nossa sala com um fuzil e pediu para se esconder. Ele ficou quase dez minutos no fundo da sala. Na hora em que vi a arma dele, lembrei o caso da escola de Realengo, onde um homem armado entrou atirando nos alunos (em abril), e achei que ia morrer. Abracei meus amigos e chorei muito. Depois ele saiu e não voltou mais.
Bandido tentou passar por faxineiroDe acordo com a Secretaria estadual de Educação, o colégio tem cerca de 600 alunos matriculados no turno da manhã. Para deixar a unidade, os estudantes tiveram de mostrar as carteirinhas à polícia. Ao ver que o bandido vestido como faxineiro não estava na lista de funcionários, agentes o prenderam.
Além do bandido preso dentro da escola, outros dois foram detidos de manhã: Reinaldo Procópio Mendes, de 33 anos, e Cristiano Patrick Matias de Oliveira, de 25. Elton da Costa, cuja idade não foi divulgada, foi morto na operação. Com ele, foi apreendido outro fuzil. Também foram encontrados cerca de mil projéteis e 790 trouxinhas de maconha.
Localizado na beira do asfalto, na Rua Coronel Tamarindo, o Colégio Professor Daltro Santos nunca havia registrado um caso de invasão de traficantes. Mas o crescimento desordenado de favelas próximas, principalmente a Vila Aliança, já indicava que a escola não estava tão segura.
- Até a década de 1980, só se via a favela do muro de trás da escola, mesmo assim de longe. Houve um crescimento desordenado e hoje há construções irregulares coladas até nas laterais. A parte da frente também está muito degradada - comentou o diretor do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) e professor na região Aldracir Casanova.
O Globo
Na década de 1960, o Daltro Santos era referência de qualidade inclusive para famílias de classe média da região. Foi nessa época que o jovem Carlos Alberto Parreira cursou o atual ensino médio na unidade. Na década de 1970, já campeão do mundo como preparador físico, ele foi professor de educação física na escola.
- Era um colégio maravilhoso, o ensino era muito bom. Tenho diversos colegas de lá que também foram bem-sucedidos em suas carreiras. Tenho muita saudade - comentou Parreira.
Apesar de estar cercado por favelas em guerra, o colégio ainda está numa região que não tem previsão de receber uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
- Por enquanto, nesses lugares onde não temos UPP, acontecerão ações temporárias - afirmou ontem (data do Dia da Favela) o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame.
A Secretaria estadual de Educação divulgou dados que, segundo o órgão, mostram que "o fato de escolas estarem em áreas tensas não as tornam ruins". O levantamento mostra que há 84 unidades em locais conflagrados, entre as 1.646 da rede. Dessas, de acordo com a secretaria, há apenas dez entre as 50 piores no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado em 2009. O Daltro Santos não participou dos exames do Ideb.
Em colégios em locais violentos, a secretaria desenvolve alguns projetos, como o Escola Aberta, que integra as unidades às comunidades; o Autonomia, de reforço escolar; e o Visitadores, no qual profissionais acompanham as famílias de alunos que têm faltas consecutivas.
COLABORARAM Rafael Galdo e Isabel de Araujo
FONTE: O GLOBO

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