quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A proposta estúpida do líder do PT na Câmara. Ou: Da natureza do mal

Sim, alguns leitores têm certa razão quando afirmam que me ocupo excessivamente do PT. Sabem o que é? Nunca antes na história destepaiz se produziu tamanha monstruosidade moral! Como dizia o meu avô, essa gente não vale o que come! Eu sei que a literatura de inspiração religiosa anda em baixa — como anda, pari passu, a moral. Mas seria preciso resgatar alguns doutores da Igreja e seus estudos sobre a origem do mal para que se pudesse entender direito esses caras.
O mal essencial, por essencial, não é visível. A sua eficiência está em se disfarçar de bem — o que não quer dizer que aquilo que se mostra um mal à primeira vista não o seja; com freqüência, é! Mas isso costuma ser coisa de diabinhos de segunda grandeza. O capeta, o próprio, é profissa! Esse busca seduzir com palavras maviosas.
O deputado Paulo Teixeira, líder do PT na Câmara, teve uma idéia. Sempre que isso acontece, o bom senso treme; a decência política se espanta; a racionalidade tem urticária. E, como é próprio dos companheiros, na aparência, sua tese voa nas asas dos anjos; na essência, recende a enxofre.
Se política fosse sexo, todos teríamos assistido à pornografia pesada que foi a absolvição da deputada Jaqueline Roriz — patrocinada, à socapa, pelos petistas (isso é uma informação!). O próximo que vai livrar a cara na Câmara é Valdemar Costa Neto (PR-SP). Seus métodos custaram a demissão de um ministro e de 26 funcionários do Dnit. Mas a Câmara vai abrigá-lo em seu regaço. Muito bem. Voltemos a Teixeira. Atenção para o anjinho tentando esconder o rabo e os chifres. Volto em seguida.
*
Por Andreia Sadi, do Portal G1:
O líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Teixeira (SP), disse nesta quinta-feira (1º) ao G1 que estuda elaborar um projeto para que seja de competência do Supremo Tribunal Federal (STF) a análise de processos de cassação de mandato de deputados, e não mais responsabilidade da Casa. Segundo o líder, o “espírito de corpo” dificulta o julgamento entre os próprios colegas. “Os deputados convivem o dia todo, 24 horas, fica difícil um julgamento”, afirmou o deputado.
O líder do PT afirmou que vai analisar a questão nos próximos dias para saber a melhor forma de apresentar a ideia, por projeto de lei ou emenda à Constituição. Perguntado se já havia informado à bancada sobre a proposta, Teixeira disse: “Vou costurar isso nos próximos dias”.
Na terça-feira, em votação secreta, o plenário da Câmara dos Deputados, absolveu, por 265 votos a 166 e 20 abstenções, a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF) do processo que pedia cassação de seu mandato. Para alguns parlamentares, o voto secreto e o “espírito de corpo” da Câmara contribuíram para a preservação do mandato de Jaqueline. “Não houve mobilizaçao pública sobre a questão, e o Congresso tem poderoso espírito de corpo”, afirmou o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra.
Voltei
Que tese asquerosa!
O Supremo Tribunal Federal jamais será o que é e deve ser o Congresso: uma reunião de duas “câmaras” políticas — a Câmara Federal propriamente e o Senado. Eu poderia dizer que Teixeira não sabe o que é uma República, mas isso seria lhe conceder o benefício da ignorância. Pode haver alguma, mas não é maior do que a má fé implícita em sua proposta.
Que diferença faz, NUMA AVALIAÇÃO DE NATUREZA ÉTICA, se a tal Jaqueline recebeu o dinheiro — sabidamente público, sabidamente roubado — antes ou depois de ter o mandato? O que os senhores deputados estavam julgando ali era se aquele comportamento é ou não aceitável naquele ambiente. E eles disseram que é!
Os julgamentos do STF são — e isto é bom — de outra natureza. Atenção, meus queridos, porque o mundo não é plano! JAQUELINE FOI INOCENTADA POR MAUS MOTIVOS NA CÂMARA, MAS PODERIA SER INOCENTADA POR BONS MOTIVOS NO STF. Esse tribunal não condenaria Jaqueline sem a evidência material de que aquele dinheiro teve origem ilegal, de que ele foi roubado dos cofres públicos, de que aquilo foi fruto de propina. E todo esse cuidado, à diferença do que pensam alguns ligeiros, serve para proteger os cidadãos não-criminosos de eventuais acusações do estado, que sempre tende a tentar calar seus adversários. O que estou dizendo é que um tribunal como o STF não pode e nem deve cassar mandatos com base em evidências de má conduta aética. Ele precisa ter a prova inquestionável do crime. Mas uma câmara de representantes? Ah, esta não só pode como deve exigir um padrão de seus pares e determinar: “Gente assim, aqui, não!”
Conclui-se, até aqui, que Paulo Teixeira, como os demônios, está, na prática, PROPONDO O CONTRÁRIO DO QUE APARENTA PROPOR. O ente parece ter asinhas; na verdade, fede enxofre. Mais: está querendo transferir responsabilidades.
A prerrogativa que os parlamentos têm de cassar os seus pares nasce como uma das garantias da democracia, como uma das certezas de que os outros dois Poderes não vão interferir naquele Poder que, por excelência, expressa a vontade do povo. Teixeira está, desse modo, violando um princípio bem mais antigo do que a sua covardia, bem mais antigo do que o conúbio de malfeitores que ele pretende, na prática, preservar na Câmara, sob o pretexto de combatê-lo.
Se a maioria dos deputados não tem coragem — e caráter — para dizer um “não queremos este aqui”, ele espera que seja o STF a fazê-lo em seu lugar? Notável sandice a deste senhor! Teríamos um Parlamento forte o bastante para determinar o impeachment de um presidente da República, mas incapaz de cassar o mandato de um “par”.
Teixeira representa uma decadência particular dentro de uma decadência mais geral. Acreditem vocês ou não, até os petistas já foram melhores que isso! Ou menos piores, o que parece mais preciso!
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA

Nenhum comentário:

Postar um comentário