quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Em privado, Rossi atribui ‘onda de denúncias’ a Serra

Sérgio Lima/Folha

A carta de demissão que Wagner Rossi entregou a Dilma Rousseff contém um trecho enigmático.
No último parágrafo, o agora ex-ministro da Agricultura anotou: “Sei de onde partiu a campanha contra mim…”
“…Só um político brasileiro tem capacidade de pautar ‘Veja’ e ‘Folha’ e de acumular tantas maldades…”
“…Fazendo com que reiterem e requentem mentiras e matérias que não se sustentam por tantos dias. Mas minha família é meu limite. Aos amigos tudo, menos a honra”.
Em diálogos privados que manteve com assessores e integrantes da cúpula do PMDB, Rossi mencionou o nome que preferiu sonegar na carta.
O “político” que o ex-ministro julga estar por trás das denúncias que o levaram a pedir demissão é o ex-presidenciável tucano José Serra.
Na teoria conspiratória que construiu como lenitivo para o cipoal de notícias acerbas que o alvejaram, Rossi sustenta que Serra “manda” nas redações de ‘Veja’ e ‘Folha’.
Na cabeça do afilhado político do vice-presidente Michel Temer, a pseudoconspiração teria propósitos políticos.
Rossi acredita –ou diz acreditar— que o objetivo de Serra seria enfraquecer o PMDB de São Paulo, presidido pelo filho e deputado estadual Baleia Rossi.
Na cabeça de Rossi, Serra será o candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo em 2012. E enxergaria no PMDB, que empina a candidatura de Gabriel Chalita, uma ameaça.
Os fatos conspiram contra a conspiração criada por Rossi. Para tomá-lo a sério, seria necessário supor que Serra dispõe de poderes insuspeitados, quase divinos.
Antes de “pautar Veja e Folha”, o grão-tucano precisaria lobotomizar dois dos principais acusadores de Rossi: Oscar Jucá Neto e Israel Leonardo Batista.
Jucá Neto deixou a Conab atirando para o alto: “Ali só tem bandido”, disse o irmão do líder governista Romero Jucá, num inusitado surto pró-Serra.
O lobista Júlio Fróes dispunha de sala no ministério, ajeitava licitações e distribuía dinheiro a servidores, completou o serviço Israel, ex-chefe das licitações da Agricultura.
Rossi se absteve de mencionar. Mas os tentáculos de Serra decerto alcançam a redação do ‘Correio Braziliense’.
Dali partiu a notícia de que Rossi voara nas asas do jatinho de uma agro-empresa de sua cidade, Ribeirão Preto. Uma firma com interesses milionários na Agricultura.
Levando-se o delírio às últimas consequências, Serra talvez tenha sugerido aos donos da empresa que oferecessem o jatinho a Rossi.
Pior: o inimigo tucano pode ter infiltrado um serviçal na casa de R$ 9 milhões sob cujo teto o ministro se abriga em Ribeirão.
À sorrelfa, o espião de Serra teria adicionado substância alucinógena na água de Rossi. Fora de si, o pobre embarcou “três ou quatro vezes” no famigerado jatinho.
Bem verdade que a candidatura do deputado Chalita, temida pelo hipotético rival tucano, não é um portento municipal. Por ora, está mais para piaba do que para baleia.
A despeito das evidências em contrário, convém não descartar a teoria de Rossi. O melhor a fazer é mesmo acreditar que na conspiração de Serra.
Do contrário, alguém poderia ser induzido a supor que um punhado de notícias “falsas” fiz de um político de biografia impecável um ex-ministro indigno.
Não, não. O país não suportaria. Conspiração, claro. Só pode ter sido uma conspiração. 
DO BLOG DO JOSIAS DE SOUZA

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