Como sabia Adam Smith, “a inveja é a paixão que vê com maligno desgosto a superioridade dos que realmente têm direito a toda a superioridade que possuem”. Quando os brasileiros vão deixar esta inveja para trás? Uma sociedade igualitária é uma sociedade que assume o ritmo de progresso do mais medíocre dos seres medíocres. É isso mesmo que o Brasil quer? Até quando vamos enaltecer a mediocridade por aqui?
RODRIGO CONSTANTINO
A cultura americana tradicionalmente preza o mérito individual, enquanto o costume brasileiro invariavelmente apela para o coletivismo. Chega-se ao cúmulo, como teria desabafado Tom Jobim certa vez, de se considerar o sucesso um insulto pessoal por aqui. Não lidamos bem com as conquistas individuais, que logo atribuímos a algum conchavo político ou pura sorte. Não que estes fatores não existam, e até com freqüência. Mas uma sociedade que não aprende a domar a inveja natural e apreciar seus cérebros mais destacados está fadada ao fracasso.
Esta característica deve estar presente desde cedo. Qualquer um que convive com crianças sabe como elas são competitivas por natureza. Não há mal nisso. Cada um deseja se destacar de alguma forma. O sucesso na vida não é para todos mesmo, e não adianta alimentar ilusão contrária. O comunista Trotski sonhava com um mundo habitado por gênios como Goethe, todos com incrível talento, sem perceber que se todos fossem como o grande pensador alemão, este padrão de inteligência seria o normal. Ou seja, nada demais. E, com certeza, alguns cérebros mais brilhantes logo começariam a se distanciar desta média, despertando a inveja em muitos.
Em entrevista para a revista VEJA, o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Jacob Palis, um dos grandes matemáticos do país, disse: “A experiência das melhores escolas, no Brasil e no exterior, mostra que uma boa aula pressupõe desafiar os estudantes o tempo todo, de modo que eles sejam expostos a problemas cada vez mais complexos e estimulantes intelectualmente, o avesso da decoreba. Apenas num ambiente assim se abre o espaço necessário para a inventividade”. Crianças precisam de estímulos para progredir, e somente um ambiente desafiador oferece isso.
Mas o matemático alertou: “O problema é que muita gente no Brasil ainda resiste a essas ideias. Dizem que os grandes desafios causam pressão sobre estudantes tão jovens e aguçam a competitividade. Mas por que se opor à competição no ambiente escolar? Não faz sentido. Precisamos, repito, criar mecanismos para rastrear os talentos precoces para as ciências e dar-lhes todas as oportunidades e incentivos, como ocorre, há mais de um século, no mundo desenvolvido”. De fato, o estímulo à competição não costuma ser bem visto no Brasil, e arrisco dizer que a situação está piorando sob a atual ditadura velada do politicamente correto.
Tivemos oito anos de governo de um presidente que não apenas falava errado, mas sentia orgulho de sua pouca cultura e educação. A ignorância voluntária deixou de ser vergonha e foi alçada ao patamar de quase reverência. Recentemente, vimos um dos resultados disso: a polêmica que causou o próprio MEC aprovando um livro que ensina a falar de forma errada. A autora argumenta que devemos trocar os conceitos de “certo” e “errado” por “adequado” ou “inadequado”. É o assassínio da gramática à luz do dia, com o auxílio do ministério que existe para tratar da educação! Talvez o próximo passo seja decretar que dois com dois não dá necessariamente quatro. O incômodo problema da inflação desapareceria num passe de mágica. Tudo depende do gosto do freguês...
DO BLOG GRAÇA NO PAIS DAS MARAVILHAS
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