sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Lula conseguiu tudo, chegou ao topo. E o que explica essa fome de reputações alheias?

Então a gente combina assim: Lula não desiste de dizer suas batatadas, e eu não desisto de acusar suas batatadas. Fica bom? Olhem, estamos por 28 dias. A menos que o, já aí ex-presidente, decida falar todo dia, ficaremos livres de certas ligeirezas. Leiam o que informa Breno Costa, na Folha Online. Volto em seguida:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que os vazamentos de telegramas da diplomacia americana em todo o mundo pela organização WikiLeaks deve preocupar não ele, mas o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Para Lula, as revelações “machucam a nobreza da diplomacia mundial e o comportamento da diplomacia americana”.

“Eu acho que quem deve estar muito preocupado com esse vazamento é o presidente Obama, e acho que isso é uma lição para, daqui para frente, os embaixadores passarem telegramas com mais responsabilidade. A gente não pode chegar ao final do dia, para prestar contas ao chefe, a gente ficar escrevendo qualquer coisa e mandando para o chefe”, disse o presidente, durante entrevista a correspondentes internacionais, no Rio de Janeiro. Lula, que, na terça-feira, chamou as revelações sobre o Brasil de “insignificantes”, se referiu aos vazamentos em embaixadas americanas em outros países, de “gravíssimos”.

Walesa
O presidente contou que, no início de seu governo, tinha medo de repetir o fracasso do sindicalista Lech Walesa, na Polônia. Segundo Lula, ele não poderia errar.

“Eu tinha muito o Walesa e o fracasso dele na Polônia, eu tinha muito… Eu tinha um medo de errar, eu tinha… Eu deitava com a Marisa e ficava assustado. Eu falava: Marisa, nós não podemos errar. Nós vamos ter que trabalhar porque se a gente errar, nunca mais um trabalhador vai poder ser presidente da República, nunca mais”, afirmou. Lula ainda aproveitou para alfinetar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

“Eu precisava provar [que seria um bom presidente] porque, quando você pertence à elite de um país, você é governante, se você errou ou não errou, ninguém está ligando. Você termina seu mandato, vai passar seis meses fazendo um retiro em Harvard ou você vai para Sorbonne, você vai fazer qualquer coisa. Ninguém se preocupa em cobrar que não deu certo”, disse o presidente.

Voltei
Qualquer pessoa razoável percebeu que não existe nada de espantoso ou grave nas mensagens dos diplomatas americanos. Ao contrário até: confesso que até me surpreendi com o realismo da tigrada. Considerando que são mensagens escritas para circular em ambiente seguro, sigiloso, a linguagem, ao contrário do que sugere Lula, é até bastante decorosa. Não existe motivo para Obama estar “muito preocupado”; tampouco as revelações sobre outros países são “gravíssimas”.

Mas o nosso Valente poderia demonstrar a sua tese de outro modo: expondo ao público as mensagens secretas do Itamaraty. É verdade que seriam bem poucos os interessados nesses segredos, mas teríamos a chance de cotejar as mesquinharias da diplomacia americana com as lições de ética dadas pelos homens de Celso Amorim. Quem não gostaria de ter acesso à troca de mensagens entre o Brasil e os assassinos de mulheres do Irã?

Quanto à enésima referência a FHC… Que coisa, não!? É uma verdadeira obsessão mesmo! FHC não se tornou professor da Sorbonne porque era elite — aliás, no máximo, pode-se dizer dele ter sido e ser classe média. Seu patrimônio pessoal certamente é inferior, aos 79 anos, ao de Fábio Luiz da Silva, o Lulinha, que deve ter uns 30 e poucos… E acho que o ex-presidente trabalhou um pouco mais, não? Aliás, eu duvido que o patrimônio do tucano seja superior ao do próprio Lula, o “operário”. Ah, qual é?

FHC foi professor da Sorbonne porque se preparou para tanto. Outros com origem ainda mais modesta chegaram lá. Lula não pode dar aula porque já confessou que cai no sono quando pega um texto para ler. É uma questão, digamos, de índole, de gosto, de inclinação pessoal, não de origem social.

Esse ressentimento é inexplicável, injustificável, sob qualquer parâmetro minimamente racional. O cara atingiu o topo, chegou lá, foi eleito presidente, reeleito, é uma figura admirada pela maioria dos brasileiros, tem um reconhecimento internacional acima de seus próprios feitos. Caramba! O que é que lhe falta?

Esse buraco sem fundo, que tem de tragar biografias, reputações, história, tudo, não se explica pela sociologia. Afirmei hoje à tarde que ele havia desenvolvido uma espécie de psicopatia política. Há o risco de eu ter sido generoso.
Por Reinaldo Azevedo

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