sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Carta de ministro avaliza liberação de R$ 3,1 milhões

Antônio Cruz/ABr

Ofício atribuído ao ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais da Presidência) avalizou a liberação de R$ 3,1 milhões a um instituto de fachada.

Injetada no Orçamento da União de 2010 por meio de emendas de parlamentares, a verba escoou do Ministério do Turismo.

O documento que traz a assinatura de Padilha consta do processo levado ao ministério pelo Interbrasil, o instituto beneficiário das liberações.

Deve-se mais esse lote de revelações ao repórter Leandro Colon, que veicula há uma semana notícias sobre malfeitos praticados ao redor no Orçamento.

Tisnado pela suspeição, o senador Gim Argello (PTB-DF) viu-se compelido a renunciar à função de relator do Orçamento da União para no ano de 2011.

O Interbrasil, foco da nova reportagem, apresenta como endereço uma residência assentada no Lago Sul, o bairro mais chique de Brasília.

Não há na casa vestígio de funcionamento de um instituto. Chama-se Antônio Carlos Silva o “diretor fiscal” da entidade.

A verba amealhada na pasta do Turismo migrou do Interbrasil para a caixa registradora de uma firma chamada Vibe Marketing Promocional.

A empresa pertence a André Fratti Silva, filho de Antonio Carlos. Trata-se de um militante do PT. Engajou-se na campanha de Dilma Rousseff.

Datado de 22 de março, o ofício cuja autoria é atribuída a Padilha anota que o Interbrasil “vem [...] funcionando nos últimos 3 anos de forma regular”.

O texto acrescenta que a entidade presta “revelevantes serviços à comunidade”. Coordenador político de Lula, Padilha lida com os congressistas.

Entre suas atribuições está a de gerenciar a liberação de emendas penduradas por deputados e senadores no Orçamento.

Ouvido, Padilha fez uma declaração que adiciona mistério a um caso já rumoroso. O ministro jura que não assinou o tal ofício.

Sustenta que se trata de uma “fraude”. Diz ter requerido ao Ministério da Justiça a abertura de investigação na Polícia Federal.

Uma ex-assessora de Padilha, Crisley Lins, relatou ao repórter coisa diferente. Disse que ela mesma pediu o ofício ao ex-chefe. Contou:

"Ele estava em viagem, embarcando, no avião da FAB. Eu liguei e falei: ‘doutor, estou precisando de uma ajuda. Ele disse ‘manda pra assessoria, que resolve’. Eu redigi e enviei para a assessoria. Recebi do gabinete dele o arquivo eletrônico".

Procurada novamente depois da negativa de Padilha, a ex-assessora manteve sua versão: "Para quê faria um documento com fraude? Eu passei para lá e eles em enviaram documento eletrônico".

O petista Padilha está cotado para permanecer no governo sob Dilma Rousseff. Esperava-se que fosse anunciado junto com os outros ministros palacianos.

Porém, Dilma só autorizou a formalização de dois nomes para o Planalto: Antonio Palocci (Casa Civil) e Gilberto Carbalho (Secretaria-Geral da Presidência).

Nos últimos dias, Padilha voltou a frequentar as manchetes como alternativa para o Ministério da Saúde, posto de sua predileção. Ele é médico sanitarista.

Além da ex-assessora, também o dono da Vike Marketing, destinatária final das verbas do Turismo, atesta a participação de Padilha.

“Foi o ministro que deu a carta”, diz André Fratti, o filho do diretor do Interbrasil, Antonio Carlos.

Alega-se o dinheiro subtraído da bolsa da Viúva, veneranda e desprotegida senhora, foi utilizado em dois projetos.

Num, destinou-se R$ 1,1 milhão a um Festival de Inverno de Brasília. Noutro, borrifaram-se R$ 2 milhões num projeto relacionado aos 50 anos de Brasília.

Considerando-se as contradições que saltam das palavras de Padilha e dos demais protagonistas do caso, a PF tem matéria prima de sobra para uma boa investigação.

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