Nome desconhecido no setor, o agora ex-secretário-executivo da Casa Civil é economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Geralda Doca e Gustavo Maia
O Globo
O economista Abraham Weintraub durante evento no período de transição do governo de Jair Bolsonaro
Foto: Divulgação/PR
BRASÍLIA – Anunciado nesta segunda-feira como o novo ministro da Educação, Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub é mais um neófito na política a integrar o primeiro escalão do governo do presidente Jair Bolsonaro. Nome desconhecido no mercado, o agora ex-secretário-executivo da Casa Civil é economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Abraham e o irmão, o jurista e assessor-chefe-adjunto de Bolsonaro, Arthur Weintraub, foram apoiadores de primeira hora do candidato à Presidência, antes do posto "Ipiranga", o ministro da Economia, Paulo Guedes. Eles foram apresentados a Bolsonaro pelo ministro da Casa Civil e deputado federal licenciado, Onyx Lorenzoni (DEM-RS). O parlamentar conheceu os irmãos em um seminário internacional da Previdência realizado em março de 2017 no Congresso. Ele se apaixonou pelas ideias dos dois. Em seguida, convidou a dupla para participar da elaboração do plano de governo de Bolsonaro.
O novo ministro fundou em 2015 o Centro de Estudos em Seguridade (CES), que se apresenta como uma associação civil sem fins lucrativos fundada por professores dos cursos de Atuária e Contabilidade da Unifesp. A "missão" do centro é, segundo informou seu site oficial, "a excelência científica e técnica em Seguridade" e o desenvolvimento de pesquisas aplicadas e de difusão de conhecimento especializado para a promoção da sustentabilidade e governança na área.
No ano passado, o CES foi a única instituição a apoiar a realização da Cúpula Conservadora das Américas, evento idealizado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente. Abraham e Arthur palestraram sobre economia, em dezembro do ano passado.
– Eu e meu irmão vamos contar como foi a nossa experiência em aplicar a teoria de Olavo de Carvalho em, democraticamente, lidar com o marxismo cultural – disse o novo ministro, na ocasião.
Weintraub, que segundo Bolsonaro possui "ampla experiência em gestão e o conhecimento necessário para a pasta", disse ainda que tentaria responder na palestra a duas questões: onde o Brasil vai estar em 2050 e a trilha que será preciso percorrer até la. Destacou por diversas vezes que será preciso derrotar o comunismo para que o país volte a crescer e lembrou ter lido "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", do alemão Max Weber, citando a teoria do "choque de civilizações", do cientista político americano Samuel P. Huntigton.
– Quando caiu o muro de Berlim, um monte de goiaba falou que o comunismo acabou. Agora que o Jair Bolsonaro ganhou, o PT está derrotado. Podemos estar tranquilos? Não podemos. Essa turma vai voltar para a casa, eles são inteligentes. O meu inimigo é igual ou tão mais forte do que eu, senão eu sou um trouxa – disse Abraham
À plateia, a única vez em que se referiu à educação foi quando disse que “precisamos vencer o marxismo cultural nas universidades”.
Aliado leal de Bolsonaro
Durante os mais de três meses no Palácio do Planalto, como secretário-executivo da Casa Civil, o "número dois" da pasta, Abraham costumava almoçar diariamente no refeitório do prédio. Quase sempre acompanhado do irmão, ele chamava atenção nos corredores do Planalto por trajar um colete, em geral bege, sobre a camisa social.
Chefe de Abraham até esta segunda-feira, Onyx divulgou uma declaração por escrito dizendo que o recém-nomeado para comandar o MEC "é um homem com uma sólida formação", economista, conhece gestão, além de ser professor concursado da Unifesp e familiarizado com a iniciativa privada.
– Foi uma das pessoas que muito cedo acreditou na candidatura de Jair Bolsonaro. Foi, junto com muitas outras pessoas, um dos formuladores do plano de governo de Bolsonaro e é uma pessoa muito importante nas tomadas de decisões de rumo do nosso governo – disse Onyx.
Para o ministro, o presidente ganha com um "aliado leal" e capaz no MEC, "um administrador competente e honesto que sabe que a educação brasileira precisa ser transformada para verdadeiramente ser o caminho para que crianças e adolescentes possam construir uma vida melhor para si e para suas famílias".
Mestre em administração na área de finanças pela Faculdade Getulio Vargas (FGV), em 2013, ele foi chamado de "doutor" por Bolsonaro no anúncio feito pelas redes sociais. Quase uma hora e meia depois, o presidente se corrigiu e disse que o indicado para chefiar o MEC fez o mestrado e um MBA Executivo Internacional em finanças reconhecido por escolas no Brasil, China, Holanda, Estados Unidos e México. Ele completou a graduação em Ciências Econômicas pela Universidade de São Paulo (USP) em 1994.
Para além da formação acadêmica, Abraham relata em seu currículo ter sido executivo do mercado financeiro, "com mais de vinte anos de experiência". Atuou, segundo ele, como sócio em uma gestora de investimentos, como diretor estatutário do Banco Votorantim e como CEO da Votorantim Corretora no Brasil e da Votorantim Securities, nos Estados Unidos e na Inglaterra, "além de ter sido economista-chefe por mais de dez anos".
Como professor, ele destacou como uma de suas "maiores satisfações pessoais" o que classificou como "boa receptividade dos alunos" ao método e a abordagem de ensino que adota. "Após lecionar (Microeconomia) apenas três semestres na Unifesp, quando ofereci a matéria sobre Mercado Financeiro, mais de 10% dos alunos (Ciências Contábeis, Atuariais, Administração, Economia e R.I.) de todo o campus de Osasco (SP) tentou (sic) se matricular", escreveu Abraham, na seção referente a "outras informações relevantes".
Familiares no trabalho
Em carta direcionada ao departamento de Contabilidade, na qual respondia a acusações de nepotismo por trabalhar na mesma faculdade que seu irmão, Arthur, e sua mulher, Daniela, Weintraub afirmou ter se inscrito em dois concursos da Unifesp, tendo sido aprovado no de Contabilidade "apenas porque os outros quatro candidatos não apareceram no dia". Sua mulher também teria sido aprovada por falta de interessados na vaga.
"É de amplo conhecimento que muitos concursos em Contabilidade e Atuariais acabam não recebendo nenhum interessado, dado que um bom profissional que atue nessas áreas (ou afins a essas) pode receber uma remuneração muito acima da oferecida pela Unifesp", escreveu o professor.
Segundo ele, seu salário na universidade era de "pouco mais de R$ 3 mil por mês", mas, "graças ao nosso sucesso profissional, não dependemos disso para manter nossos filhos".
Na mesma mensagem, ele afirma que seu pai, médico e professor da USP durante a ditadura militar, foi perseguido por denunciar o desaparecimento de alunos.
"Ele nunca foi militante, porém, após 'sumirem' alguns de seus alunos, fez comentários depreciativos à ditadura. Na semana seguinte, havia um jipe da Aeronáutica em frente a nossa casa, procurando-o. Nosso pai teve que se esconder por um bom tempo na casa de um amigo com imunidade diplomática. Vários livros em casa sumiram e eu cresci com medo em comentar aspectos negativos dos 'donos' do poder."
08/04/2019
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