Assembleia Nacional deve rotular Maduro de "usurpador". Na sexta-feira, grupo de Lima disse que não vai reconhecer governo venezuelano.
Por France Presse
O Parlamento venezuelano, controlado pela oposição, vai declarar neste
sábado (5) ilegítimo o novo mandato de Nicolás Maduro, que começará na
próxima quinta-feira (10), uma decisão simbólica que pode dividir ainda
mais os opositores.
A Assembleia Nacional vai rotular Maduro de "usurpador" um dia depois
de o Grupo de Lima, apoiado pelos Estados Unidos, ter pedido ao presidente que não tome posse e ceda poder ao Legislativo até que eleições livres sejam realizadas.
Caracas acusou o Canadá e os 12 países latino-americanos que fizeram o
pedido de "encorajar um golpe de Estado" por instruções de Washington.
O governo de esquerda do México não assinou a declaração, que
desconhece a legitimidade do novo mandato presidencial de Maduro
(2019-2025).
"Estamos diante de um homem que roubou uma eleição (...) teremos um
usurpador. Não podemos reconhecer Maduro como presidente", disse à AFP a
deputada Delsa Solorzano.
Maduro, de 56 anos, foi reeleito no dia 20 de maio em eleições
antecipadas convocadas pela Assembleia Constituinte, órgão oficial de
poder absoluto que na prática substituiu o Legislativo, única entidade
controlada pela oposição.
Denunciando uma "fraude" para perpetuar o governante socialista, os
principais partidos da oposição boicotaram as eleições, embora suas
principais figuras já estivessem inabilitadas ou presas.
Apenas um rival de peso, o dissidente chavista Henri Falcón, desafiou Maduro, aprofundando as divisões entre os opositores.
A decisão do Parlamento de não reconhecer Maduro não terá efeito,
porque suas decisões são derrubadas pelo Supremo Tribunal - alinhado ao
oficialismo.
"Nada sairá da Assembleia que possa ter impacto", disse à AFP Peter Hakim, do Diálogo Interamericano.
Em janeiro de 2017, o bloco opositor declarou Maduro no abandono de
seus deveres, culpando-o pela grave crise econômica que causou o êxodo
de 2,3 milhões de pessoas desde 2015. A medida não avançou.
"Estamos amarrados", admite Solorzano, que culpa os militares por apoiarem o governo.
Embora a deputada Manuela Bolivar tenha dito à AFP que a decisão do
Parlamento seja unânime, setores da oposição estão pressionando para que
o órgão vá mais longe.
Dois dos líderes mais radicais, Antonio Ledezma e María Corina Machado,
exigem que o Legislativo instale um "governo de transição" para
preencher o vácuo que, segundo eles, Maduro deixará. Eles pedem o apoio
das Forças Armadas.
"Aceitar menos é validar a tirania", desafiou Machado.
Mas parece não haver atmosfera para nomear um governo paralelo, que
pressagia novas fraturas na oposição, também mergulhada em disputas
internas.
Maduro, confrontado a uma forte rejeição popular, mas com influência
sobre os demais poderes, diz que não teme a oposição ou países que
poderiam romper ou diminuir o nível de relações diplomáticas, e cercá-lo
financeiramente, como sugerido pelo Grupo de Lima.
"Eles me acusam de ser um ditador para justificar qualquer coisa",
declarou o herdeiro político do falecido Hugo Chávez (1999-2013), que
defende que sua reeleição foi "democrática".
Especialistas apontam que a oposição deve se unir e se organizar para
recuperar o apoio popular, enfraquecido após protestos exigindo a saída
de Maduro e que deixaram cerca de 125 mortos em 2017.
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