Geraldo Alckmin tornou-se um latifundiário eletrônico. Amealhou algo como 40% de todo o horário eleitoral na TV. Nenhum outro presidenciável dispõe de tanto tempo de propaganda. A pergunta de R$ 1 milhão que passou a rondar o tucano é: como planeja preencher tanto espaço? O que tem a oferecer? Pelo andar dos inquéritos, Alckmin será obrigado a ocupar um pedaço de sua gleba televisiva com explicações.
Nesta sexta-feira, o Ministério Público Federal em São Paulo denunciou 14 pessoas por envolvimento num caso de desvio de R$ 625 milhões das obras de um trecho inconcluso do Rodoanel. O rol de acusados é estrelado por Laurence Casagrande Lourenço, ex-presidente da Dersa, a estatal que cuida de obras viárias no governo paulista. O personagem envernizou sua carreira sob Geraldo Alckmin.
Acusado de fraude em licitação, falsidade ideológica e organização criminosa, Laurence entrou e saiu da Dersa na gestão de Alckmin. Ocupou cargos tão relevantes como o de secretário de Logística e Transportes. Um mês antes de Alckmin trocar o governo pela candidatura, Laurence passou a responder pela Companhia Energética de São Paulo, onde ficou até ser preso, em 21 de junho.
Dois dias após a prisão, de passagem pela cidade paraibana de Campina Grande, Alckmin exaltou os “cuidados tomados” para evitar malfeitorias nas obras do Rodoanel. Ele pediu “rapidez” na investigação. E defendeu o preso: “O Laurence Casagrande é uma pessoa séria, com enorme folha de serviços prestados ao Estado.” (veja no vídeo abaixo)
As conclusões do inquérito da Procuradoria trafegam na contramão da confiança de Alckmin na higidez das obras e na reputação dos seus administradores: “Sem sombra de dúvidas, há mais de dez anos, existe uma organização criminosa dentro da Dersa”, declarou a procuradora da República Anamara Osório Silva, que entregou a denúncia à Justiça.
Ironicamente, Laurence Casagrande fora acomodado por Alckmin na Dersa com a missão de averiguar denúncias de corrupção na estatal —denúncias envolvendo Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, apontado como operador de propinas do tucanato paulista. Por mal dos pecados, a denúncia contra o olheiro de Alckmin escalou as manchetes no mesmo dia em a Justiça bloqueou os bens de Paulo Preto.
O comitê de campanha de Alckmin ainda nem foi aberto e já há defronte da porta um monturo muito parecido com um lixão. Nele, detritos compartilhados com outros governadores tucanos —caso Siemens, Alston e o próprio Paulo Preto— se misturam a pendências exclusivas de Alckmin: os R$ 10,3 milhões da Odebrecht, os R$ 5 milhões da CCR, as intermediações do cunhado Adhemar Ribeiro e, agora, a nova encrenca do Rodoanel.
Alckmin foi muito criticado por aproximar o seu projeto eleitoral do centrão. Mesmo entre os tucanos houve quem considerasse que os minutos de propaganda dos partidos que integram o grupo talvez não valessem o risco de intoxicação. Faz sentido. Mas a verdade é que a agenda negativa do candidato já dispensa matéria prima alheia. A reputação de Alckmin enferruja sozinha.
Católico, Alckmin talvez nem precisasse de tantos minutos de propaganda. Cinco segundos seriam suficientes para recitar no horário eleitoral o código ético-social-religioso mais famoso do mundo: ''Não matarás, não roubarás…''
Josias de Souza
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