Material foi entregue à PGR por empresário do setor de transportes
Por Bela Megale e Aguirre Talento
O Globo
Presidente afastado do TCE-RJ Aloysio Neves foi preso durante a Operação Quinto do Ouro
Fabiano Rocha / Agência O Globo
BRASÍLIA – Alvo da Lava-Jato no Rio, o presidente afastado do Tribunal de Contas do Estado do Estado (TCE-RJ) Aloysio Neves, que até então negava recebimento de propina, admitiu pela primeira vez em gravação feita por um delator que se beneficiou de pagamentos ilícitos. Em um áudio gravado no dia13 de dezembro de 2016 pelo empresário Marcos Andrade Barbosa Silva, do setor de ônibus, Neves admite participar do esquema de pagamento de propina no tribunal e receber mesada de R$ 100 mil. A gravação faz parte do material entregue pelo empresário no acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República.
TRECHO DO DIÁLOGO:
Marcos: E essas questões desses pedidos todos que ele fez, cês ta... você tavam ciente disso ou ele fez à revelia tudo isso?
Aloysio: Não. Esse do metrô eu não sabia de nada.
Marcos: Então ele fez tudo à revelia por ele próprio?
Aloysio: O do Backheuser [referência ao presidente da Carioca Engenharia]? Eu também não sabia de nada. O do... do arco federal. Do arco não. Da...
Marcos: Da favelas?
Aloysio: ... deste 1 milhão do Maracanã, da concessão, nós não recebemos nada, teve nada dado pela concessão.
Marcos: Então foi o... o voo solo dele.
Aloysio: E o metrô, ele fez um voo, combinou as parcelas mensais que vinham, oitenta ou cem. Veio uma parcela só que ele entregou. E a partir daí ele disse que tava ruim por causa de negócio de Lava-Jato. E não entregou (mais).
O dia da gravação é o mesmo da deflagração de uma das fases da Lava Jato no Estado, que conduziu coercitivamente o ex-presidente do TCE-RJ Jonas Lopes para prestar depoimento. Na conversa, o empresário demonstra preocupação com os esquemas ilícitos do TCE-RJ. Por isso, Aloysio Neves explica o que sabia sobre atos ilícitos envolvendo o recebimento de propina pelos conselheiros. Neves afirma, porém, que diversas cobranças de propina eram “voo solo” de Jonas Lopes.
Aloysio Neves foi afastado da presidência do TCE-RJ por ordem do Superior Tribunal de Justiça em março do ano passado, quando foi deflagrada a Operação Quinto do Ouro. O conselheiro foi denunciado pela PGR na semana passada pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
MESADA DE R$ 100 MIL
Em outro trecho da conversa, o empresário lhe questiona sobre o recebimento de uma mesada de R$ 100 mil paga pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). O conselheiro confirma o relato e diz que recebia os pagamentos primeiramente do ex-secretário Hudson Braga e, posteriormente, segundo os investigadores, de Luiz Carlos Bezerra, operador do político.
Marcos: Você não tem receio daquela mesada que ele te dava de R$ 100 mil por mês?
Aloysio: (ininteligível)
Marcos: Quem te trazia aquilo?
Aloysio: O Hudson.
Marcos: O Hudson no final?
Aloysio: É.
Marcos: E antes?
Aloysio: Era aquele Zé Luiz que trazia, já tá preso.
Marcos: Zé Luiz?
Aloysio: Não é Zé Luiz? Que (era) o chefe de gabinete dele?
Marco: (ininteligível)
Aloysio: Luiz com... Luiz não sei o quê.
Outro delator, o ex-secretário do governo Cabral Carlos Miranda confirmou em sua delação premiada o pagamento de mesada de R$ 100 mil a Aloysio Neves. Segundo ele, o pagamento era feito desde janeiro de 2007, quando ele era chefe de gabinete da presidência da Assembleia Legislativa do Rio.
Aloysio se tornou conselheiro do TCE em abril de 2010, tornando-se vice-presidente do órgão em 2015 e 2016 e presidente em 2017, até ser afastado do tribunal na Operação Quinto do Ouro.
Na denúncia apresentada na semana passada contra o conselheiro, a Procuradoria-Geral da República aponta que ele recebeu o valor de R$ 100 mil ao menos 87 vezes entre janeiro de 2007 e março de 2014, quando já era conselheiro do TCE-RJ.
De acordo com Carlos Miranda, parte do dinheiro de propina a Aloysio foi entregue por meio de galerias de arte.
"Parte desse dinheiro foi entregue em galerias de arte, que foram cinco pagamentos ao galerista Francisco, no Shopping Cassino Atlântico, que aproximadamente cinco pagamentos foram feitos a Silvia Cintra, na Rua das Acácias", afirmou Carlos Miranda.
Em depoimento aos investigadores, a galerista Silvia Assunção, dona do empreendimento citado por Carlos Miranda, confirmou que chegou a receber pagamentos em nome do conselheiro feitos em espécie por terceiros.
Carlos Miranda contou ainda que fez repasses para diversas pessoas em diferentes endereços no Rio, e que uma delas se chamada Pierre Areias, na época responsável pelo pagamento de viagens do conselheiro que "eram bem caras e giravam em torno de R$ 300 mil". Pierre trabalhava em uma agência de viagens de um funcionário do gabinete do deputado Jorge Picciani.
Em depoimento aos procuradores, Pierre confirmou que conheceu Aloysio Neves por meio de Cabral e que recebeu dinheiro em espécie para prestar serviços a ele. "A mensalidade era paga em espécie e os valores eram entregues na casa de Aloysio Neves, na rua Prudente de Moraes, 514/301, ou no gabinete junto à Assembleia". Os apelidos referentes ao conselheiro, segundo Miranda, eram "Lulu" ou "Ipanema" .
Procurada, a defesa de Aloysio Neves afirmou que nega qualquer envolvimento do conselheiro com fatos criminosos e que sua inocência ficará provada no curso do processo.
Brasil viveu 'pacto oligárquico de saque ao Estado', diz Barroso
Sem citar nomes, ministro do Supremo diz que corrupção era 'modo de conduzir o país'
Por O Globo
O ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal
Jorge William / Agência O Globo
(22/11/2017)
— Celebrou-se de longa data, e com renovação constante, um pacto oligárquico de saque ao estado brasileiro entre parte da classe política e parte da classe empresarial e parte da burocracia estatal — afirmou Barroso, durante discurso no Fórum Internacional das Nações Unidas sobre a Segurança Humana na América Latina.
Responsável por autorizar a prisão de amigos do presidente Temer, como o advogado José Yunes e o coronel reformado da PM João Baptista Lima Filho, Barroso não falou nada explicitamente sobre a Operação Skala, que investiga benefícios a empresas que atuam no Porto de Santos em troca de pagamentos a Temer.
— (A corrupção) não era produto de falhas individuais, era um programa, um modo de conduzir o país com um nível de contágio espantoso que envolva empresas públicas e privadas, agentes públicos e privados. Foi espantoso o que realmente aconteceu no Brasil — disse o ministro do STF.
Ainda de acordo com Barroso, o país está passando, por outro lado, por um "fenômeno mundial", que é o combate à corrupção:
— O Brasil, nos últimos tempos, se deu conta que nós vivenciamos uma corrupção que era sistêmica, era endêmica.
02/04/2018 DO R.DEMOCRATICA
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