quinta-feira, 18 de janeiro de 2018
O PT já perdeu milhares
de cargos - e uma segunda derrota, nas eleições deste ano, será
devastadora. Que não falte pá de cal. A propósito, segue artigo de
Carlos Alberto Sardenberg, publicado pelo Globo:
É um claro sinal de
desespero essa radicalização do PT à medida que se aproxima o julgamento
de Lula no Tribunal Regional Federal de Porto Alegre. Há um componente
de agitação e propaganda nesse movimento — uma última tentativa de
intimidar o Judiciário — mas tem aí uma questão pessoal.
Trata-se do futuro
profissional, do meio de vida mesmo, de grande parte dos quadros do PT.
Estamos falando daqueles que só trabalham em três ambientes: no próprio
partido, nos sindicatos e nos governos. São pessoas que praticamente
largaram suas profissões para se dedicar inteiramente à atividade
política.
Lula, claro, é o
exemplo maior. Mas há outros milhares que descreveram a mesma trajetória
de vida. São operários, advogados, médicos, engenheiros, técnicos de
diversas áreas, jornalistas, que há muitos anos não têm qualquer
atividade no setor privado da economia.
Podem reparar nos
currículos. O sujeito é membro do partido, diretor do sindicato, depois
aparece como secretário de alguma prefeitura, vai para um DAS no governo
federal, assume um posto em governo estadual, uma bela assessoria em
estatal — e assim vai, de administração em administração, de cidade em
cidade, sempre acompanhando as vitórias do PT.
Os funcionários
públicos concursados, como os professores, estão em parte protegidos
pelas generosas regras do setor, entre as quais a estabilidade. O PT
perde a eleição, o sujeito perde o cargo no governo e volta para a
repartição. Mas como um simples peão. Tem um garantido mensal, mas perde
gratificações, DAS, jetons por participação em conselhos de estatais,
perde poder.
Eis um ponto pouco comentado, mas que está nas preocupações internas dos militantes.
Isso, aliás, explica
grande parte dessa adesão cega a Lula. Tem o fervor político, claro,
mas, convenhamos, é coisa de poucos. Os outros, inclusive por terem
participado de campanhas e governos, sabem que é tudo verdade: caixa
dois, desvio de dinheiro para o partido e para bolsos pessoais. Sabem
que Lula se beneficiou pessoalmente desses esquemas — e sabem que a
Lava-Jato descobriu tudo isso, com provas, sim senhor. Os que não sabiam
e ficaram chocados já deixaram o partido.
Os demais lutam pela
sobrevivência. Já houve um primeiro desmoronamento nas eleições
municipais de 2016. Milhares de cargos foram perdidos pelo PT e
associados. Um segundo cataclismo, nas eleições deste ano, seria
devastador.
Daí o desespero — condição que frequentemente leva a decisões equivocadas.
Ameaçar o Judiciário,
por exemplo, é um baita erro. Mas o que fazer quando se sabe que não há
saída jurídica? Na verdade, há uma alternativa — a delação premiada.
Lógico: o sujeito é apanhado, sabe que a Lava-Jato tem provas, faz o
quê? Colaboração.
Como Lula não pode fazer isso, sobra o quê? Ir para o confronto, o desafio ao Judiciário, a ameaça de incendiar as ruas.
Esse confronto é
politicamente ruim. Só agrada mesmo à militância cega. Assusta a maior
parte da sociedade com a volta do PT radical, daquele Lula antes de
fazer a barba, aparar o cabelo, vestir um terno Ricardo de Almeida com
gravata Hermès e falar manso.
Quase um suicídio?
Aqui entra outra,
digamos, convicção de Lula e seus mais próximos colaboradores. A de que
ele consegue mudar o discurso a qualquer momento, de modo convincente. O
radicalismo pré-julgamento seria só uma fase. Depois, na hipótese
improvável da absolvição, volta-se para o paz e amor.
Na hipótese provável
da condenação, vem agitação, mas a aposta maior será ganhar tempo com os
recursos. Não será surpresa se aparecerem nessa fase declarações
elogiosas aos tribunais superiores.
Veremos.
De todo modo, o que
importa para Lula e seus militantes é salvar algum naco de poder. O que
explica, por exemplo, as negociações partidárias nos estados com os
golpistas do PMDB. Vale tudo pelos cargos e para estar no governo,
qualquer governo. DO O.TAMBOSI
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