Marcado
para esta quarta-feira, o julgamento de Lula na segunda instância do
Judiciário deixou os petistas fora de si. Com isso, foi possível
enxergar melhor o que eles têm por dentro. A ebulição que toma conta da
alma do PT leva o partido a soar à moda do velho Carlos Lacerda. Pior: a
pretexto de defender Lula, o petismo recua aos tempos em que os rumos
da política eram ditados pelas vozes dos quarteis.
Os apologistas de Lula sustentam que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região não pode condenar Lula por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá. Se condenar, não pode prender. Se quiser prender, “vai ter que matar gente”, chegou a dizer a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, ela própria acusada de corrupção no Supremo Tribunal Federal.
O timbre inflamado confunde-se com um fenômeno antigo da história brasileira: a vocação para o desrespeito à legalidade. Por exemplo: na campanha presidencial de 1955, em que saiu vitorioso Juscelino Kubitschek, o rival Carlos Lacerda dizia coisas assim: “O senhor Juscelino não será eleito presidente. Se for, não tomará posse. Se tomar posse, não governará.”
Convencidos de que os magistrados de segundo grau confirmarão a condenação que Sergio Moro pendurou no pescoço de Lula, o PT e seus aliados promovem um cerco ao TRF-4. Tenta-se pressionar os três desembargadores que cuidam do processo para evitar pelo menos uma decisão unânime —algo que abriria brecha para um recurso capaz de retardar a prisão e prolongar a campanha presidencial do réu.
Língua em riste, Lula ataca abertamente o presidente do tribunal sediado em Porto Alegre, o desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores. Acusa-o de ser parcial, pois cometeu o atrevimento de elogiar a sentença de Moro.
É como se o réu petista e seus aliados buscassem inspiração no marechal Floriano Peixoto que, em tempos ainda mais remotos, submetido à notícia de que o Supremo Tribunal Federal poderia conceder habeas corpus aos líderes de uma malograda Revolta da Armada, declarou: “E quem dará depois habeas corpus aos ministros do Supremo?”
Na contramão da Polícia Federal, da Receita Federal, do Ministério Público Federal e do juiz da Lava Jato, o PT alega que não há provas de que a cobertura do Guarujá foi presenteada a Lula pela OAS. Mais do que isso: a exemplo do que sucedeu no mensalão, reitera-se que Lula não sabia que as empreiteiras plantavam bananeira dentro dos cofres de estatais como a Petrobras. Na fase mais sangrenta da ditadura militar, o general Emílio Médici também dizia desconhecer a tortura que grassava nos porões do regime.
O TRF-4 pode condenar ou absolver Lula. Seja qual for o veredicto, o fato de um ex-presidente estar sentado no banco dos réus, respondendo a um processo por corrupção, usufruindo de todas as garantias que a lei lhe assegura, desfrutando do sacrossanto direito de defesa, confortado por aliados que exercem livremente o direito à manifestação… tudo isso é muito alvissareiro.
Ao tentar transformar um avanço civilizatório numa hipotética afronta à democracia, o PT recua no tempo para descer ao verbete da enciclopédia na incômoda companhia de líderes políticos desequilibrados e militares abilolados.
Os apologistas de Lula sustentam que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região não pode condenar Lula por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá. Se condenar, não pode prender. Se quiser prender, “vai ter que matar gente”, chegou a dizer a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, ela própria acusada de corrupção no Supremo Tribunal Federal.
O timbre inflamado confunde-se com um fenômeno antigo da história brasileira: a vocação para o desrespeito à legalidade. Por exemplo: na campanha presidencial de 1955, em que saiu vitorioso Juscelino Kubitschek, o rival Carlos Lacerda dizia coisas assim: “O senhor Juscelino não será eleito presidente. Se for, não tomará posse. Se tomar posse, não governará.”
Convencidos de que os magistrados de segundo grau confirmarão a condenação que Sergio Moro pendurou no pescoço de Lula, o PT e seus aliados promovem um cerco ao TRF-4. Tenta-se pressionar os três desembargadores que cuidam do processo para evitar pelo menos uma decisão unânime —algo que abriria brecha para um recurso capaz de retardar a prisão e prolongar a campanha presidencial do réu.
Língua em riste, Lula ataca abertamente o presidente do tribunal sediado em Porto Alegre, o desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores. Acusa-o de ser parcial, pois cometeu o atrevimento de elogiar a sentença de Moro.
É como se o réu petista e seus aliados buscassem inspiração no marechal Floriano Peixoto que, em tempos ainda mais remotos, submetido à notícia de que o Supremo Tribunal Federal poderia conceder habeas corpus aos líderes de uma malograda Revolta da Armada, declarou: “E quem dará depois habeas corpus aos ministros do Supremo?”
Na contramão da Polícia Federal, da Receita Federal, do Ministério Público Federal e do juiz da Lava Jato, o PT alega que não há provas de que a cobertura do Guarujá foi presenteada a Lula pela OAS. Mais do que isso: a exemplo do que sucedeu no mensalão, reitera-se que Lula não sabia que as empreiteiras plantavam bananeira dentro dos cofres de estatais como a Petrobras. Na fase mais sangrenta da ditadura militar, o general Emílio Médici também dizia desconhecer a tortura que grassava nos porões do regime.
O TRF-4 pode condenar ou absolver Lula. Seja qual for o veredicto, o fato de um ex-presidente estar sentado no banco dos réus, respondendo a um processo por corrupção, usufruindo de todas as garantias que a lei lhe assegura, desfrutando do sacrossanto direito de defesa, confortado por aliados que exercem livremente o direito à manifestação… tudo isso é muito alvissareiro.
Ao tentar transformar um avanço civilizatório numa hipotética afronta à democracia, o PT recua no tempo para descer ao verbete da enciclopédia na incômoda companhia de líderes políticos desequilibrados e militares abilolados.
Josias de Souza
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