terça-feira, 5 de setembro de 2017

Janot diz que medo de errar e se omitir o encorajou a enfrentar 'enormes desafios'

Procurador-geral fez o desabafo na última sessão que comandou no conselho do MPF. Na véspera, ele anunciou que mandou apurar se investigar se delatores da JBS omitiram informações da Lava Jato

Um dia após anunciar uma investigação para apurar eventuais irregularidades na delação premiada dos executivos do grupo J&F, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou nesta terça-feira (5) aos integrantes do Conselho Superior do Ministério Público Federal que o episódio envolvendo os irmãos Joesley e Wesley Batista o fez refletir e chegar à conclusão de que não tem "coragem", e sim "medo de errar muito" e decepcionar a instituição.
Janot fez o desabafo na última sessão que comandou no conselho do Ministério Público Federal. O mandato do procurador-geral se encerra em 17 de setembro.
Na segunda-feira (5), Janot determinou a abertura de investigação para apurar indícios de omissão de informações de práticas de crimes no acordo de delação premiada dos executivos do grupo J&F, controlador do frigorífico JBS. Segundo Janot, dependendo do resultado da investigação, os benefícios oferecidos no acordo de colaboração de Joesley Batista e de outros dois delatores poderão ser cancelados.
"Na verdade, o que eu tenho é medo. E o medo nos faz alerta. E medo do quê? Medo de errar muito e decepcionar minha instituição. E todas as questões que eu enfrentei, eu enfrentei muito mais por medo, medo de errar, medo de me omitir."
"Eu agi com muita coragem e ontem [segunda] foi um dos dias mais tensos e um dos maiores desafios desse período. Alguém disse pra mim: 'Você realmente é um homem de muita coragem'. Aí eu parei e pensei: 'Será que sou um homem de coragem mesmo?' Cheguei à conclusão de que não tenho coragem alguma", declarou Janot.
"Na verdade, o que eu tenho é medo. E o medo nos faz alerta. E medo do quê? Medo de errar muito e decepcionar minha instituição. E todas as questões que eu enfrentei, eu enfrentei muito mais por medo, medo de errar, medo de me omitir, medo de decepcionar minha instituição do que por coragem de enfrentar esses enormes desafios", complementou.
Antes de Janot fazer a autocrítica na sessão, ele havia sido homenageado pelos conselheiros do CNMP, inclusive, por sua sucessora, a subprocuradora da República Raquel Dodge, que assumirá o comando da Procuradoria Geral da República (PGR) no dia 18.
"Esse final [de mandato] tem sido uma montanha russa porque as surpresas se repetem, as surpresas se mostram e a impressão que dá é que é uma montanha russa que só tem queda livre."
No discurso de despedida, o procurador-geral disse que, agora, espera ter "tranquilidade para viver". Segundo ele, o período final do mandato na PGR tem sido uma "montanha russa".
"Agora colho, espero colher, a minha vida de volta. Realmente, eu deixei essa minha vida pendurada num armário fechado, guardei a chave e agora vou abrir esse armário e vou colher a minha vida de volta. Espero que eu tenha alguma tranquilidade para viver depois de tudo isso. Esse final tem sido uma montanha russa porque as surpresas se repetem, as surpresas se mostram e a impressão que dá é que é uma montanha russa que só tem queda livre. É uma montanha russa que não te dá um respiro para você se preparar para uma nova queda", afirmou.
Janot fez uma citação ao escritor português Fernando Pessoa para dizer que cumpriu com o dever como procurador-geral.
"Vou homenagear o personagem do grande Fernando Pessoa, Dom Duarte, que depois de todos os desafios a que foi submetido, se indagava. Ele dizia, ele afirmava: 'Cumpri, contra o destino, o meu dever. Ai ele se indagava: 'Inutilmente? E ele respondeu: 'Não, porque eu cumpri'. Acho que esse é o compromisso do MP, compromisso nosso com a sociedade, ser o MP de forma reta, de cumprir, ainda que seja contra o destino, o nosso dever. Para ter a sensação ao final, a certeza, de tê-lo cumprido", disse.

Raquel Dodge

Janot afirmou durante a fala que a sucessora, Raquel Dodge", encontrará a PGR "da melhor forma arrumada".
"Estou tentando, na medida do possível deixar a casa da melhor forma arrumada, para que possa entrar a nova administração assuma seus novos desafios e dizer uma palavra de otimismo e apoio. Nos momentos difíceis não desanime, converse".
Presente à sessão do Conselho do MPF, a procuradora Raquel Dodge afirmou que o "legado" deixado por Janot "honra" a instituição. Ela também destacou o "imenso trabalho" de Janot e equipe.
"O legado que deixa para nossa Instituição e para o nosso país certamente honra a história do MP e também os demais procuradores que o precederam, na construção de uma instituição forte que defende os interesses públicos, os direitos sociais e enfrenta a criminalidade. Desejo a vossa excelência muito êxito no seu futuro e espero que seus sonhos continuem se realizando", disse Dodge.
Por G1, Brasília

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