Procurador-geral fez o desabafo na última sessão que comandou no conselho do MPF. Na véspera, ele anunciou que mandou apurar se investigar se delatores da JBS omitiram informações da Lava Jato
Um dia após anunciar uma investigação para apurar eventuais irregularidades na delação premiada
dos executivos do grupo J&F, o procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, afirmou nesta terça-feira (5) aos integrantes do Conselho
Superior do Ministério Público Federal que o episódio envolvendo os
irmãos Joesley e Wesley Batista o fez refletir e chegar à conclusão de
que não tem "coragem", e sim "medo de errar muito" e decepcionar a
instituição.
Janot fez o desabafo na última sessão que comandou no conselho do
Ministério Público Federal. O mandato do procurador-geral se encerra em
17 de setembro.
Na segunda-feira (5), Janot determinou a abertura de investigação para
apurar indícios de omissão de informações de práticas de crimes no
acordo de delação premiada dos executivos do grupo J&F, controlador
do frigorífico JBS. Segundo Janot, dependendo do resultado da
investigação, os benefícios oferecidos no acordo de colaboração de
Joesley Batista e de outros dois delatores poderão ser cancelados.
"Na verdade, o que eu tenho é medo. E o medo nos faz alerta. E medo do quê? Medo de errar muito e decepcionar minha instituição. E todas as questões que eu enfrentei, eu enfrentei muito mais por medo, medo de errar, medo de me omitir."
"Eu agi com muita coragem e ontem [segunda] foi um dos dias mais tensos
e um dos maiores desafios desse período. Alguém disse pra mim: 'Você
realmente é um homem de muita coragem'. Aí eu parei e pensei: 'Será que
sou um homem de coragem mesmo?' Cheguei à conclusão de que não tenho
coragem alguma", declarou Janot.
"Na verdade, o que eu tenho é medo. E o medo nos faz alerta. E medo do
quê? Medo de errar muito e decepcionar minha instituição. E todas as
questões que eu enfrentei, eu enfrentei muito mais por medo, medo de
errar, medo de me omitir, medo de decepcionar minha instituição do que
por coragem de enfrentar esses enormes desafios", complementou.
Antes de Janot fazer a autocrítica na sessão, ele havia sido
homenageado pelos conselheiros do CNMP, inclusive, por sua sucessora, a
subprocuradora da República Raquel Dodge, que assumirá o comando da
Procuradoria Geral da República (PGR) no dia 18.
"Esse final [de mandato] tem sido uma montanha russa porque as surpresas se repetem, as surpresas se mostram e a impressão que dá é que é uma montanha russa que só tem queda livre."
No discurso de despedida, o procurador-geral disse que, agora, espera
ter "tranquilidade para viver". Segundo ele, o período final do mandato
na PGR tem sido uma "montanha russa".
"Agora colho, espero colher, a minha vida de volta. Realmente, eu
deixei essa minha vida pendurada num armário fechado, guardei a chave e
agora vou abrir esse armário e vou colher a minha vida de volta. Espero
que eu tenha alguma tranquilidade para viver depois de tudo isso. Esse
final tem sido uma montanha russa porque as surpresas se repetem, as
surpresas se mostram e a impressão que dá é que é uma montanha russa que
só tem queda livre. É uma montanha russa que não te dá um respiro para
você se preparar para uma nova queda", afirmou.
Janot fez uma citação ao escritor português Fernando Pessoa para dizer que cumpriu com o dever como procurador-geral.
"Vou homenagear o personagem do grande Fernando Pessoa, Dom Duarte, que
depois de todos os desafios a que foi submetido, se indagava. Ele
dizia, ele afirmava: 'Cumpri, contra o destino, o meu dever. Ai ele se
indagava: 'Inutilmente? E ele respondeu: 'Não, porque eu cumpri'. Acho
que esse é o compromisso do MP, compromisso nosso com a sociedade, ser o
MP de forma reta, de cumprir, ainda que seja contra o destino, o nosso
dever. Para ter a sensação ao final, a certeza, de tê-lo cumprido",
disse.
Raquel Dodge
Janot afirmou durante a fala que a sucessora, Raquel Dodge", encontrará a PGR "da melhor forma arrumada".
"Estou tentando, na medida do possível deixar a casa da melhor forma
arrumada, para que possa entrar a nova administração assuma seus novos
desafios e dizer uma palavra de otimismo e apoio. Nos momentos difíceis
não desanime, converse".
Presente à sessão do Conselho do MPF, a procuradora Raquel Dodge
afirmou que o "legado" deixado por Janot "honra" a instituição. Ela
também destacou o "imenso trabalho" de Janot e equipe.
"O legado que deixa para nossa Instituição e para o nosso país
certamente honra a história do MP e também os demais procuradores que o
precederam, na construção de uma instituição forte que defende os
interesses públicos, os direitos sociais e enfrenta a criminalidade.
Desejo a vossa excelência muito êxito no seu futuro e espero que seus
sonhos continuem se realizando", disse Dodge.
Por G1, Brasília
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