Ex-ministro de Temer é acusado de tentar atrapalhar a delação de Lúcio Funaro, apontado como operador de propinas do PMDB. Geddel cumpre prisão domiciliar na Bahia.
O Ministério Público apresentou nesta quarta-feira (16) à Justiça
Federal em Brasília uma denúncia contra o ex-ministro Geddel Vieira Lima
por obstrução de Justiça.
A acusação se baseia numa suposta tentativa de Geddel de atrapalhar investigações da operação Cui Bono.
A operação apura supostas fraudes na liberação de crédito da Caixa
Econômica Federal – o ex-ministro foi vice-presidente de Pessoa Jurídica
da instituição financeira entre 2011 e 2013, no governo Dilma Rousseff.
Segundo o MPF, Geddel tentou impedir a celebração de um acordo de delação premiada do operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro, apontado como parceiro do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em vários esquemas de propina, inclusive na Caixa Econômica.
O MPF quer que Geddel seja enquadrado no crime de embaraçar
investigação que envolva organização criminosa, cuja punição varia de
três a oito anos de prisão.
Os procuradores apontam que, em um mês e meio, entre maio e julho deste
ano, Geddel fez 17 ligações para a mulher de Funaro, Raquel Pita, a fim
de sondar se ele faria um acordo de delação premiada.
Para o Ministério Público, os contatos de Geddel com Pita tinham como
objetivo intimidar o casal, em razão do poder político de Geddel.
“Com ligações alegadamente amigáveis, intimidava indiretamente o
custodiado, na tentativa de impedir ou, ao menos, retardar a colaboração
de Lúcio Funaro com os órgãos investigativos Ministério Público Federal
e Polícia Federal”, diz um dos trechos da ação.
Atualmente, Geddel cumpre prisão domiciliar na Bahia. Ele teve prisão decretada em julho pelo mesmo motivo que agora o MPF apresenta a denúncia: a suposta tentativa de obstruir as investigações.
Em nota, a assessoria de Geddel disse que ele não vai se manifestar
porque não tem autorização para dar entrevista. Segundo, a assessoria, a
defesa vai preparar uma nota.
“O Geddel não tem autorização da justiça para falar, pois está em
prisão domiciliar e incomunicável. A defesa está preparando uma nota
oficial para enviar.”
No mês passado, em depoimento à Justiça para se livrar da prisão
preventiva, Geddel confirmou ter falado por telefone com a mulher do
doleiro Lúcio Funaro, mas que tratava somente de assuntos de família.
“Em nenhum momento fala de pressão, de sondagem sequer”, disse, negando
que tinha interesse em saber se o doleiro iria fazer delação premiada.
Improbidade administrativa
Em outra frente, o MPF também apresentou à Justiça uma ação de
improbidade administrativa contra Geddel. Essa segunda ação aponta suposta pressão sobre o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero para liberar a construção de um prédio de luxo em área histórica de Salvador.
O episódio, revelado no fim do ano passado, acabou por levar Geddel a
pedir demissão da Secretaria de Governo, cargo de primeiro escalão
ligado ao presidente Michel Temer.
Nesse tipo de ação, a punição não envolve prisão, mas, no caso de
Geddel, a suspensão de direitos políticos por até cinco anos, a
proibição de firmar contratos com o poder público e o pagamento de
multa.
O Ministério Público narra que Geddel pressionou Calero para que
conseguisse um parecer favorável do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) para liberar a construção de um prédio de 23
andares.
Um órgão do próprio estado permitiu que o prédio tivesse apenas 13
pavimentos, pela proximidade com bens culturais tombados no Portal da
Barra, na capital baiana.
Geddel era proprietário de um apartamento num andar alto do prédio e
teria ameaçado “pedir a cabeça do presidente nacional do Iphan” caso a
obra não fosse liberada conforme o projeto inicial.
Na época do escândalo, Geddel confirmou conversas com Calero sobre o
empreendimento, mas negou pressão – disse que fez apenas “ponderações”.
"Em nenhum momento foi feita pressão para que ele tomasse posição.
Foram feitas ponderações. Mas ao fim, ao cabo, as ponderações não
prevaleceram, prevaleceu a posição que ele defendia, apesar de eu
considerar equivocada, o que torna ainda mais surpreendente o pedido de
demissão [de Calero] e essa manifestação", declarou.- DO G1
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