A putrefação do sistema político vem acompanhada de uma repulsa, quase
revolta, dos brasileiros para com todo e qualquer assunto ou personagem
curtido nas platitudes do poder. Abarca de líderes partidários,
parlamentares em geral e ícones dos palanques a sindicalistas pelegos
que tentam a qualquer custo badernar a rotina das cidades para chamar
atenção. Nenhum senador, deputado, governador, ninguém da ala dos ditos
de oposição, representantes dos intitulados “movimentos sociais”,
agitadores contumazes – e mesmo os controladores do sistema – perceberam
ainda: o povo cansou. Está enojado com o circo de horrores. Descrente.
Desmotivado. Combalido pelo escracho da corrupção endêmica que tomou do
Legislativo ao Executivo e comprometeu até algumas decisões do
Judiciário. Vai daí, certamente, o rotundo fracasso da autoproclamada
(sem nenhuma razão para assim ser chamada) greve geral convocada na
sexta, 30, pelas centrais de sempre, CUT, MTST e quetais. Deprimente
desempenho é quase um elogio diante do que se viu. Ruas vazias. A
Esplanada dos Ministérios completamente às moscas, com um batalhão de
2.800 policiais a monitorar – imagine só – contados 30 sindicalistas que
faziam fuzarca sem plateia. Virou mero feriadão sem causa. A isso ficou
resumida a indignação dos protestos. E a mais alguns amontoados de
pelegos País afora, com seus carros de som a fazer barulho, pneus
queimados, ônibus incendiados e quebra-quebras. Restou a prática da
bandidagem por várias praças, tal qual nas plenárias do Congresso. Os
líderes dão o exemplo. O mau exemplo. A imoralidade grassa com fervor
por essas paragens e vem colocando de ponta-cabeça princípios e
questionamentos de uma geração inteira. Muitos batem em retirada. Há um
índice crescente de famílias deixando o País. Buscando outros destinos,
novos ambientes, mais dignos, onde a lei, a retidão e o direito
prevaleçam, como parâmetros a ajudar na criação de seus filhos e netos.
Quem consegue educar decentemente no Brasil diante dessa cambada de
salafrários odiosos? Ladrões de gravata tomaram Brasília, a Capital
Federal, e arrotam cinismo e valentia, como se ainda pudessem impor uma
nova ordem. Com que moral eles convocam o povo para reclamar de seus
desígnios? Falta-lhes vergonha na cara. Sequer assumem erros ou culpa
direta na cumbuca de malfeitos. Vagabundos sem redenção. Outro dia, no
maleável conceito de defesa dos interesses públicos, um grupo de
parlamentares sedento de desgraça ameaçou barrar as reformas estruturais
e quaisquer outras medidas, mesmo que construtivas, enviadas pelo
Executivo – como a dizer: vamos implodir com a governabilidade para nos
fartar, de novo, mais adiante, nas sobras e carniça do Estado. Riem como
hienas da tragédia que se abateu sobre os cidadãos, pagantes de
impostos e verdadeiros financiadores (naturalmente a contragosto) da
farra congressual. Os quase 14 milhões de desempregados deixados de
legado por uma gestão petista tão estúpida como irresponsável não
interessa a essa gente. O que conta, o que prevalece, é o retorno de
cada um no esquema da vez. Larápios de carteirinha, mancomunados com um
bloco de empresários da pior espécie – para quem a ideia de levar
vantagem soa como mantra das orações -, os próceres de Brasília perderam
o pudor. São quase dois mil corruptos na lista da propina de apenas uma
empresa, a JBS, segundo revelou em delação o “rei do gado”, Joesley
Batista. No curral dos irmãos Batista, o icônico ex-presidente Lula puxa
o rebanho, alimentado por US$ 150 milhões em contas na Suíça. Dá para
imaginar? Meio bilhão na moeda local para fartar as necessidades do
petista e de sua cambada. Insuficiente, mesmo assim, diante do apetite
de um réu detentor de folha corrida com cinco processos nas costas. Só
no tresloucado ambiente dos políticos sem caráter um sujeito com tamanho
plantel de ocorrências ainda sonha em voltar à Presidência. Seria a
coroação dos desaforos à Nação. Assistir na TV, ouvir no rádio ou ler em
jornais e revistas sobre os desmandos e desvios do dia já vem sendo um
suplício interminável. Os políticos, a quase totalidade deles,
depravaram o País. Sendo pragmáticos, os brasileiros irão notar que a
solução plausível, real, factível encontra-se nas eleições de 2018. Ali,
nas urnas, a depuração pode e deverá ser feita a contento. Como já
ocorreu nos pleitos municipais do ano passado, quando se varreu do mapa
dogmas sedimentados e ilusões com promessas vãs dos oportunistas. Para a
reformulação da velha e carcomida política o papel de cada eleitor será
fundamental. Não é o momento para omissões. Players tidos como
outsiders começam a despontar e é bom prestar atenção neles e evitar, a
qualquer custo, o retorno daqueles que fizeram do Estado um balcão de
negócios insidiosos para as suas gatunagens. Carlos José Marques, diretor editorial- ISTOÉ
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