Tudo resolvido: agora só falta os ursos polares serem menos onívoros. |
Em texto sarcástico,
Vilma Gryzinsky, da coluna Mundialista (Veja.com), afirma que, ao
retirar os EUA do Acordo de Paris, Donal Trump conseguiu dois feitos
impressionantes. Danem-se os paspalhos politicamente corretos: "hoje
é sábado, dia de rir um pouquinho de nós mesmos, e até dos outros, com
todo respeito, depois de mais uma semana no quinto dos infernos". Segue o
artigo:
Sim, é claro que
existe algo de ironia no título acima. Mas o exagero tem uma função
didática. Hipérboles, como os encantadores ursos polares e seus
filhotes, servem para transmitir a ideia de uma realidade aumentada.
Pode ser que Donald
Trump não tenha maquiavelicamente planejado enganar o mundo inteirinho.
Mas não é absurdo concluir que, ao tirar os Estados Unidos do Acordo de
Paris, ele conseguiu dois feitos impressionantes.
O primeira foi
persuadir todos os demais países a renovar ardorosamente seus
compromissos com um acordo que era mais na base do compromisso moral.
Até aqueles que não teriam nada a fazer pelos próximos trinta anos, como
a China.
Adicionalmente,
estados e cidades governados por democratas, economicamente poderosos,
embora minoritários, como Califórnia e Nova York, foram tomados pelo
ardor natural a uma causa como o ambientalismo e prometeram aderir por
conta própria às metas de diminuição das emissões prejudiciais.
Grandes empresas
americanas também vão continuar a se empenhar nos mesmos objetivos. Ou
seja, as metas serão atingidas de qualquer maneira. Mas os americanos
não terão que fazer as salgadas contribuições para o Fundo Verde –
adivinhem quem eram os principais contribuintes.
Círculo virtuoso
Além de salvar o
planeta, Trump, embora tragicamente isolado, conforme tantas e tão
inflamadas descrições, conseguiu assim a segunda proeza: também salvou
empregos em áreas da economia a perigo e pequenas empresas que estavam
ameaçadas pelas restrições impostas pelo Acordo de Paris.
As consequências
desse círculo virtuoso não pararão aí. Todos os cidadãos bacanas do
globo aumentarão de 50% para 80% suas contribuições voluntárias ao Fundo
Verde e assemelhados.
Em especial, os
jornalistas alemães que agora se dedicam a dar capas com insultos de
baixo calão contra Trump (Berliner Kurier) e, antes disso, até a abrir
espaços para fantasias de decapitação (Spiegel).
Apresentadores da
televisão americana que perdem o fôlego e começam a hiperventilar quando
falam em Trump também farão a sua parte: cada respiração mais funda
aumenta as emissões de gás carbônico. Aliás, qualquer respiração faz
isso, mas nesses momentos é melhor não entrar em detalhes.
Todos os gênios da
indústria da alta tecnologia ouvirão o apelo de Emmanuel Macron (“Em
inglês!”). Decepcionados com o atraso e a ignorância dos americanos,
acorrerão em massa para a França, implorando pelo aumento da alíquota de
90% para os salários mais altos.
Rei da Europa
Donos da Apple,
Google, Microsoft e afins também abandonarão seus super-iates e trocarão
as casas tão enormes que são chamadas, apropriadamente, de
giga-mansões, por apartamentozinhos de 40 metros quadrados em Paris, um
charme.
Aproveitando o
momento de avassaladora paixão mundial (“Ele esmagou a mão de Trump”,
“Ele confrontou Trump”, “A mulher dele é mais bonita do que a de
Trump”), Emmanuel Macron será coroado rei da Europa, com uma semana de
libações no Marais. Angela Merkel ficará de vice-rainha (está tudo
invertido, certo?).
Tendo se transformado
em musa cool, Merkel será reeleita em setembro e em seguida irá sair da
Otan, já que acha que a Europa agora precisa se virar sozinha. Como a
Alemanha não tem petróleo e a própria Merkel liderou a desativação das
usinas nucleares, pode aproveitar o impulso e abrir mão do gás da
Rússia.
Afinal, não fica bem
comprar gás de Vladimir Putin e sua turma de autocratas (a palavra agora
abrange Trump, num ato de extraordinária coragem jornalística que
alguns infelizes mal informados chamariam de idiotice).
Aliás, o novo
exército de Angela Merkel podia se entusiasmar e invadir a Rússia. Por
que não repetir uma ideia que deu tão certo da primeira vez?
As vantagens de brigar com os americanos e os russos ao mesmo tempo já foram sobejamente demonstradas.
Lição de Moral
Nesse extraordinário
mundo em que os oceanos não sobem e os alemães não descem do patamar de
superioridade que sempre sonharam ocupar, as façanhas de Trump nem
sempre são compreendidas.
O governo brasileiro,
por exemplo, manifestou “profunda preocupação e decepção” com a saída
americana. Rex Tillerson, o secretário de Estado (apelido: T Rex, como o
tiranossauro) deve ter ficado tremendo de medo.
Aliás, o governo brasileiro está com a maior moral para dar lições de moral nos americanos, evidentemente.
Outra original
contribuição nacional, a do “ator e ex-usuário”, poderá entrar no
debate. Os americanos, coitados, só têm atores que foram ou continuam a
ser viciados em drogas.
Robert Downey Jr. é o
mais sucedido dessa categoria, mas ainda não teve a ideia de decretar
qual deve ser a política de sua cidade ou de seu país em relação a
drogas em geral e viciados em crack em particular. Ele próprio é um
ex-cracudo que pegou quase um ano de cadeia – esses americanos são mesmo
atrasados.
Clã safadão
Como os nossos são
mais espertos, podem levar a proposta de diretas já para os Estados
Unidos. Fora com esse Trump e os eleitores burros, ignorantes,
reacionários e brucutus que não ouviram seus próprios luminares do mundo
das artes e votaram num presidente que tem a audácia de cumprir
promessas de campanha.
Hillary Clinton será
eleita para o cargo que por direito divino era dela. Na companhia de seu
secretário de Estado, Barack Obama, irá reassinar o Acordo de Paris e
decuplicar a contribuição americana.
A Fundação Clinton
administrará os pagamentos. Se precisar de ajuda, tem um pessoal do clã
Safadão morando em Nova York que pode dar uma mãozinha.
Só ficará faltando
convencer os encantadores ursos polares a não caçar as simpáticas focas.
Ou até mesmo os seus filhotes, outra prática que, embora precisemos
respeitar, podia evoluir para uma convivência mais harmoniosa.
Ursinhos que
exagerarem podem ficar de castigo num pedaço bem grande de gelo ártico
que, livre da ameaça de aquecimento, estará em permanente expansão.
Nossa, cuidado com o perigo de uma nova era glacial.
Hoje é sábado, dia de
rir um pouquinho de nós mesmos, e até dos outros, com todo respeito,
depois de mais uma semana no quinto dos infernos. DO O.TAMBOSI
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