sábado, 3 de junho de 2017

Brilhante: Planeta está salvo e americanos não pagam a conta!

Tudo resolvido: agora só falta os ursos polares serem menos onívoros.
Em texto sarcástico, Vilma Gryzinsky, da coluna Mundialista (Veja.com), afirma que, ao retirar os EUA do Acordo de Paris, Donal Trump conseguiu dois feitos impressionantes. Danem-se os paspalhos politicamente corretos: "hoje é sábado, dia de rir um pouquinho de nós mesmos, e até dos outros, com todo respeito, depois de mais uma semana no quinto dos infernos". Segue o artigo:
Sim, é claro que existe algo de ironia no título acima. Mas o exagero tem uma função didática. Hipérboles, como os encantadores ursos polares e seus filhotes, servem para transmitir a ideia de uma realidade aumentada.
Pode ser que Donald Trump não tenha maquiavelicamente planejado enganar o mundo inteirinho. Mas não é absurdo concluir que, ao tirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, ele conseguiu dois feitos impressionantes.
O primeira foi persuadir todos os demais países a renovar ardorosamente seus compromissos com um acordo que era mais na base do compromisso moral. Até aqueles que não teriam nada a fazer pelos próximos trinta anos, como a China.
Adicionalmente, estados e cidades governados por democratas, economicamente poderosos, embora minoritários, como Califórnia e Nova York, foram tomados pelo ardor natural a uma causa como o ambientalismo e prometeram aderir por conta própria às metas de diminuição das emissões prejudiciais.
Grandes empresas americanas também vão continuar a se empenhar nos mesmos objetivos. Ou seja, as metas serão atingidas de qualquer maneira. Mas os americanos não terão que fazer as salgadas contribuições para o Fundo Verde – adivinhem quem eram os principais contribuintes.
 
Círculo virtuoso

Além de salvar o planeta, Trump, embora tragicamente isolado, conforme tantas e tão inflamadas descrições, conseguiu assim a segunda proeza: também salvou empregos em áreas da economia a perigo e pequenas empresas que estavam ameaçadas pelas restrições impostas pelo Acordo de Paris.
As consequências desse círculo virtuoso não pararão aí. Todos os cidadãos bacanas do globo aumentarão de 50% para 80% suas contribuições voluntárias ao Fundo Verde e assemelhados.
Em especial, os jornalistas alemães que agora se dedicam a dar capas com insultos de baixo calão contra Trump (Berliner Kurier) e, antes disso, até a abrir espaços para fantasias de decapitação (Spiegel).
Apresentadores da televisão americana que perdem o fôlego e começam a hiperventilar quando falam em Trump também farão a sua parte: cada respiração mais funda aumenta as emissões de gás carbônico. Aliás, qualquer respiração faz isso, mas nesses momentos é melhor não entrar em detalhes.
Todos os gênios da indústria da alta tecnologia ouvirão o apelo de Emmanuel Macron (“Em inglês!”). Decepcionados com o atraso e a ignorância dos americanos, acorrerão em massa para a França, implorando pelo aumento da alíquota de 90% para os salários mais altos.

Rei da Europa

Donos da Apple, Google, Microsoft e afins também abandonarão seus super-iates e trocarão as casas tão enormes que são chamadas, apropriadamente, de giga-mansões, por apartamentozinhos de 40 metros quadrados em Paris, um charme.
Aproveitando o momento de avassaladora paixão mundial (“Ele esmagou a mão de Trump”, “Ele confrontou Trump”, “A mulher dele é mais bonita do que a de Trump”), Emmanuel Macron será coroado rei da Europa, com uma semana de libações no Marais. Angela Merkel ficará de vice-rainha (está tudo invertido, certo?).
Tendo se transformado em musa cool, Merkel será reeleita em setembro e em seguida irá sair da Otan, já que acha que a Europa agora precisa se virar sozinha. Como a Alemanha não tem petróleo e a própria Merkel liderou a desativação das usinas nucleares, pode aproveitar o impulso e abrir mão do gás da Rússia.
Afinal, não fica bem comprar gás de Vladimir Putin e sua turma de autocratas (a palavra agora abrange Trump, num ato de extraordinária coragem jornalística que alguns infelizes mal informados chamariam de idiotice).
Aliás, o novo exército de Angela Merkel podia se entusiasmar e invadir a Rússia. Por que não repetir uma ideia que deu tão certo da primeira vez?
As vantagens de brigar com os americanos e os russos ao mesmo tempo já foram sobejamente demonstradas.

Lição de Moral

Nesse extraordinário mundo em que os oceanos não sobem e os alemães não descem do patamar de superioridade que sempre sonharam ocupar, as façanhas de Trump nem sempre são compreendidas.
O governo brasileiro, por exemplo, manifestou “profunda preocupação e decepção” com a saída americana. Rex Tillerson, o secretário de Estado (apelido: T Rex, como o tiranossauro) deve ter ficado tremendo de medo.
Aliás, o governo brasileiro está com a maior moral para dar lições de moral nos americanos, evidentemente.
Outra original contribuição nacional, a do “ator e ex-usuário”, poderá entrar no debate. Os americanos, coitados, só têm atores que foram ou continuam a ser viciados em drogas.
Robert Downey Jr. é o mais sucedido dessa categoria, mas ainda não teve a ideia de decretar qual deve ser a política de sua cidade ou de seu país em relação a drogas em geral e viciados em crack em particular. Ele próprio é um ex-cracudo que pegou quase um ano de cadeia – esses americanos são mesmo atrasados.

Clã safadão

Como os nossos são mais espertos, podem levar a proposta de diretas já para os Estados Unidos. Fora com esse Trump e os eleitores burros, ignorantes, reacionários e brucutus que não ouviram seus próprios luminares do mundo das artes e votaram num presidente que tem a audácia de cumprir promessas de campanha.
Hillary Clinton será eleita para o cargo que por direito divino era dela. Na companhia de seu secretário de Estado, Barack Obama, irá reassinar o Acordo de Paris e decuplicar a contribuição americana.
A Fundação Clinton administrará os pagamentos. Se precisar de ajuda, tem um pessoal do clã Safadão morando em Nova York que pode dar uma mãozinha.
Só ficará faltando convencer os encantadores ursos polares a não caçar as simpáticas focas. Ou até mesmo os seus filhotes, outra prática que, embora precisemos respeitar, podia evoluir para uma convivência mais harmoniosa.
Ursinhos que exagerarem podem ficar de castigo num pedaço bem grande de gelo ártico que, livre da ameaça de aquecimento, estará em permanente expansão.
Nossa, cuidado com o perigo de uma nova era glacial.
Hoje é sábado, dia de rir um pouquinho de nós mesmos, e até dos outros, com todo respeito, depois de mais uma semana no quinto dos infernos. DO O.TAMBOSI

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