terça-feira, 18 de abril de 2017

Retórica de Lula empurra Palocci para a delação


Josias de Souza
Antonio Palocci tomou gosto pela ideia de se tornar um colaborador da Justiça. Sua movimentação injeta na decomposição do petismo uma novidade: a autofagia companheira. Acusado de coletar verbas por baixo da mesa em nome de Lula, Palocci viu-se imprensado entre dois gigantes. De um lado, a provedora Odebrecht, que diz ter bancado os confortos do morubixaba petista. Na outra ponta, o beneficiário dos mimo$, que jura não ter recebido nada. Se não colocar o dedo para suar, Palocci acaba migrando para a inusitada condição de desviador dos desvios.
Com sua retórica da negação, o próprio Lula empurra o companheiro para o colo dos investigadores. Na semana passada, o “guerreiro do povo brasileiro” ironizou a revelação de Marcelo Odebrecht de que provisionou R$ 40 milhões nas planilhas do departamento de propinas para atender às necessidades do “Amigo” da construtora. Tudo combinado com Palocci, que destacou um assessor, Branislav Kontic, para apanhar dinheiro vivo e levá-lo até Lula. Coisa de R$ 13 milhões entre entre 2012 e 2013.
Disse Lula: “Quem tiver contando mentiras, quem tiver inventando historinhas, quem tiver dizendo que criou uma conta pra mim, para um terceiro… Já faz sete anos que eu deixei a Presidência. Essa conta está onde? Esse terceiro está onde? Esse cara deve estar comendo, então, o dinheiro que era pra mim, porra!”
Lula deixou Palocci na situação do português da piada, que recebe sua primeira aula prática depois de entrar para divisão de pára-quedismo da Aeronáutica. “Estamos a dois mil pés de altura”, diz o instrutor ao recruta. “Você saltará por aquela porta. Ao puxar a primeira cordinha, o pára-quedas se abrirá. Se isso não acontecer, o que é improvável, puxe a segunda cordinha. Se não abrir, o que é improbabilíssimo, puxe a terceira cordinha e o equipamento se abrirá. Lá embaixo, haverá um jipe à sua espera, para levá-lo de volta ao quartel.” Joaquim salta. Puxa a primeira cordinha. Nada. Puxa a segunda. Nem sinal. Puxa a terceira. E o pára-quedas permanence fechado. O recruta se inquieta: “Ai, Jesus! Agora só falta o jipe não estar lá embaixo.”
Palocci ouviu dizer que a Lava Jato não chegaria à Odebrecht. Chegou. Disseram-lhe que Marcelo Odebrecht jamais seria preso. Está hospedado numa unidade do Moro’s Inn de Curitiba há quase dois anos. Juraram-lhe que o príncipe das empreitteiras nunca se tornaria um delator. Os vídeos da deduragem estarrecem os brasileiros no horário nobre da tevê há uma semana. As falas de Lula mostraram a Palocci que não há nenhum jipe esperando lá embaixo.

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