terça-feira, 18 de abril de 2017

Manter os ministros suspeitos é temeridade inútil


Michel Temer reagiu à devastação provocada pela colaboração da Odebrecht com um par de entrevistas. Nelas, o presidente reiterou que não cogita afastar nenhum dos ministros enrolados no escândalo. Alguns desses ministros frequentam a cozinha do Palácio do Jaburu, onde mora o presidente. A decisão de Temer, com trocadilho, é uma temeridade inútil. O gesto é temeroso porque carboniza a legitimidade do governo, que já é baixa. É inútil porque os ministros vão cair cedo ou tarde —pela simples e boa razão de que a situação deles tornou-se insustentável.
Num ambiente de franca deterioração moral, a única providência aceitável de Temer seria a exoneração dos ministros sob investigação. Isso não significa condenar ninguém previamente. Todos têm o direito de se defender. Mas o brasileiro comum, que molha a camisa diariamente para encher a geladeira, tende a achar que o melhor é que os suspeitos se defendam longe dos cofres públicos, como mandam a lógica, o bom senso e a prudência.
Temer continua apostando nas reformas econômicas como seu principal balão de oxigênio. Faz bem. É o que lhe resta. Mas, para que a coisa funcione, quem pede sacrifícios à sociedade precisa pelo menos parecer decente. Ao manter do seu lado auxiliares tóxicos, rezando para que alguns tomem a iniciativa de pedir para sair, o presidente acaba correpondendo a todos os que não têm qualquer motivo para confiar nele. A essa altura, usar óculos com lente cor-de-rosa para ter uma melhor visão dos escombros é pura ilusão de ótica. DO A.NUNES

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