Na tentativa de conter a rebeldia do
líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), e unificar o partido, o
presidente Michel Temer nomeou para a Secretaria dos Portos o ex-senador
Luiz Otávio Campos, um dos alvos da Operação Leviatã, desdobramento da
Lava Jato. Campos é ligado ao senador Jáder Barbalho (PA) e também a
Renan, de acordo com informações obtidas no Palácio do Planalto.
O novo secretário dos Portos era
assessor especial do Ministério dos Transportes, comandado por Maurício
Quintella (PR), mas foi demitido por ele em fevereiro. A dispensa
ocorreu após a Polícia Federal cumprir mandados de busca e apreensão nas
casas e escritórios dos acusados de receber propina na construção da
hidrelétrica de Belo Monte (PA), entre os quais Campos, o senador Edison
Lobão (PMDB-MA) e o filho dele, Márcio.
Renan ficou furioso com a atitude de
Quintella, seu adversário político. Jáder e seu filho Hélder Barbalho,
ministro da Integração Nacional, também não esconderam a insatisfação e
chegaram a reclamar com Temer.
Na prática, o novo secretário dos Portos
virou o símbolo da disputa por cargos e prestígio político entre o PMDB
do Senado, liderado por Renan, e o PR de Quintella. Agora, porém, Temer
decidiu arbitrar o conflito, fazendo um gesto para acalmar o líder do
PMDB, que até há poucos dias não parava de criticar a reforma da
Previdência, as mudanças trabalhistas e os rumos da economia, sob o
argumento de que o governo pecava por "improvisação".
Temer editou um decreto, na semana
passada, criando a estrutura do Ministério dos Transportes, Portos e
Aviação Civil. Nela foi formalizada a Secretaria dos Portos, que havia
deixado de existir com a reforma administrativa. A pasta administrará
este ano uma carteira de contratos que movimentará R$ 1,4 bilhão de
investimentos.
Ao montar a nova estrutura, o presidente
nomeou Campos para o posto de secretário. Auxiliares de Temer disseram à
reportagem que o ex-senador não precisará se reportar a Quintella. O
ministro ficou inconformado e a situação tem todos os ingredientes para
provocar mais um mal estar no governo.
Campos era secretário executivo de
Hélder Barbalho em Portos no fim do governo da então presidente Dilma
Rousseff. Quando Temer assumiu, em maio do ano passado, Hélder foi
nomeado para Integração Nacional e a Secretaria dos Portos, que tinha
status de ministério, foi incorporada a Transportes.
Apesar da resistência de Quintella,
Hélder conseguiu que Campos fosse mantido na área de portos. O
ex-senador estava contratado como assessor especial porque o cargo de
secretário não existia formalmente. Em fevereiro, após a operação
Leviatã, foi exonerado. Ele e Quintella não se falavam.
O presidente cogitou a possibilidade de
recriar o Ministério dos Portos para agradar a Renan. O líder do PMDB
desdenhou da oferta. "O PMDB se sente fora do governo, mas eu,
pessoalmente, não quero cargo nenhum. Seria o meu completo esvaziamento
na bancada", disse Renan no mês passado. "O que não podemos deixar de
constatar é que há uma dificuldade nessa coalizão, na qual os partidos
menores ocupam os maiores espaços."
Quintella quer concorrer a uma cadeira
no Senado, em 2018, enfrentando Renan, que disputará a reeleição. Tanto o
líder do PMDB como o governador de Alagoas, Renan Filho, foram citados
nas delações de ex-executivos da Odebrecht e estão com dificuldades na
campanha. Irritado com Temer, o senador chegou até mesmo a articular uma
aproximação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. D.DOPODER
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