Michel Temer não apaga mais a luz quando deixa o gabinete presidencial. Tem medo de que haja um delator escondido no claro. O pânico provocou uma alteração no funcionamento da cozinha do Palácio do Planalto. Antes, os presidentes fritavam ministros inoperantes. Agora, para preservar o poder, carboniza-se o amigo mais querido e eficiente. Em depoimento à Justiça Eleitoral, Marcelo Odebrecht levou Eliseu Padilha à gordura. E Temer apressou-se em riscar o fósforo.
Há crueldade no processo. Ao alardear sua condição de “mula involuntária” de um pacote enviado pelo chefe da Casa Civil por meio do doleiro Lúcio Funaro, o proto-amigo José Yunes passou Padilha no sal grosso e na farinha de rosca. O príncipe dos delatores levou-o ao óleo no instante em que declarou que coube a Padilha, não a Temer, o acerto que resultou numa odebrechtiana de R$ 10 milhões para o PMDB. O jantar com o presidente serviu para o aperto de mãos que selou o pacto monetário.
Temer acendeu o fogo ao festejar a versão de Marcelo Odebrecht como um atestado pessoal de bons antecedentes. Já bem passado, Padilha ensaia uma prorrogação da licença de saúde que tirou para se submeter a uma cirurgia de retirada da próstata. Procura-se um interino para a Casa Civil. Ninguém diz, talvez por pena, mas Padilha perdeu as condições políticas de operar como chefe do Estado-Maior do governo do amigo Michel Temer. Deixa-se imolar para que Temer continue acalentando o sonho de exclamar ao final do seu mandato-tampão: “Puxa, escapei por muito!”
O mais trágico é que Temer tosta Padilha sem ter a certeza de que o sacrifício do operador resultará na sua salvação. Não há, por ora, a certeza de que o substituto de Dilma Rousseff conseguirá dissociar sua contabilidade de candidato a vice da escrituração do comitê da cabeça de chapa. Marcelo Odebrecht potencializou a dúvida ao empurrar para dentro do processo sobre a cassação a informação de que a construtora borrifou R$ 150 milhões nas arcas da coligação vitoriosa em 2014.
O empreiteiro não chegou a especificar quanto deste valor veio do Departamento de Propinas. Mas revelou o suficiente para eletrificar o processo movido pelo PSDB no Tribunal Superior Eleitoral. Por exemplo: pelo menos R$ 50 milhões, disse Odebrecht, foram repassados ao comitê eleitoral petista como prêmio pela aprovação de uma medida provisória que beneficiou o Grupo Odebrecht com um Refis.
Marcelo Odebrecht repetiu que João Santana, o marqueteiro que construiu a vitória de 2014, foi remunerado por baixo da mesa com verbas entesouradas no estrangeiro. Disse que Dilma foi informada sobre o mau passo. Foram cientificados também os ex-ministros petistas da Fazenda Antonio Palocci e Guido Mantega, a dupla de padilhas do PT.
Além da dificuldade retirar os pés do lamaçal que coabita com Dilma, Temer precisa aguardar pelo depoimento do ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho. Ele será inquérito na segunda-feira pelo relator do TSE, ministro Herman Benjamin. Em sua delação, Melo Filho informou à força tarefa da Lava Jato que Temer pediu, sim, R$ 10 milhões a Marcelo Odebrecht em 2014 —R$ 6 milhões para Paulpo Skaf, candidato derrotado do PMDB ao governo de São Paulo; R$ 4 milhões aos cuidados do agora bem passado Eliseu Padilha. Vão abaixo, para refrescar a memória, trechos do papelório que compõe o acordo de delação de Melo Filho.
DO J.DESOUSA
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