Em sua carta, Lula se diz um fiel observador das leis e homem que respeita o Judiciário. Se é assim, por que ele e seu partido chamam de “golpe” um processo de impeachment que está ancorado na Constituição, nas leis e que teve seu rito definido pelo Supremo? O mesmo Supremo ao qual ele apela agora em busca, diz, de Justiça?
Ao
redator, dou os parabéns. Quem terá sido? Certamente o exército de
advogados opinou, mas alguém conferiu unidade de estilo. Acho que a
revisão é de Luiz Dulci. É muito malformado, mas é bem informado. Até já
leu bons poetas — o que, como se vê, também não salva ninguém.
Lula diz
que sua intimidade foi violada. Depende do que pretende afirmar com
isso. De fato, isso aconteceu porque o sigilo telefônico estava
quebrado. Mas ilegal, sabem seus advogados, o procedimento não foi
porque havia autorização judicial.
Já escrevi
no blog e reitero: a reserva quanto ao que veio a público está
relacionada àquela parte das gravações feitas depois da suspensão da
quebra de sigilo. O resto, os defensores de Lula sabem bem, está dentro
das normas. De toda sorte, certamente essa parcela não coberta pelo
intervalo da quebra não será usada como prova em juízo.
Sergio
Moro pode suspender o sigilo de uma investigação? Pode. Está na sua
competência? Sim. Tem autoridade para tornar público o que está nos
autos? Tem. Depende da relevância do que lá vai.
Se Lula
conversa com a presidente da República e se esta lhe envia um termo de
posse para que ele use “apenas se necessário”, a questão, lamento, não é
privada, mas pública. Se o ex-presidente diz a um prefeito que só ele
próprio tem condições de pôr a Polícia Federal e o Ministério Público
Federal no seu devido lugar, também essa não é matéria individual, mas
que diz respeito à coletividade. Afinal, ele foi nomeado ministro, não?
Se Lula,
feito o condestável da República, pede a um advogado amigo seu que
pressione Rodrigo Janot, procurador-geral, a investigar Aécio Neves e se
deixa claro que esse procurador lhe deve a eleição — ou teria chegado
em terceiro lugar —, também isso não é matéria privada. Se, num
bate-papo com Jaques Wagner, logo depois de falar com a própria
presidente, sugere que se façam gestões junto a ministros do Supremo
para ver atendidos a seus pleitos, isso nos diz a todos respeito.
Os
leitores sabem que sempre digo tudo o que penso. Há conversas que vieram
a público que, de fato, não têm o menor interesse. O que Eduardo Paes
pensa da forma física de Dilma ou o juízo de valor que faz do trabalho
de Pezão, convenham, são irrelevantes para o Brasil e a Lava Jato. Podem
adensar o anedotário político e pronto. Não vai além disso. A
divulgação de tal trecho era, a meu ver, desnecessária.
O Lula da
carta, redigida por advogados com receio de que seu cliente seja acusado
de obstrução da Justiça — e me parece que tal acusação é procedente —,
pinta um homem absolutamente conformado com os pressupostos do Estado de
Direito.
Infelizmente,
o Lula que conversa com Sigmaringa Seixas diz, com todas as letras, que
está com o saco cheio de formalidades e cobra do amigo uma
interferência informal junto a Janot.
Acho justo
que Lula reclame dos vazamentos. Ocorre que ele o faz hoje; lembro que,
quando estava na Presidência e tal procedimento atingia adversários
seus, ele mandou brasa: quem não quisesse a Polícia Federal na sua
porta, que andasse direitinho…
É evidente
que vazamentos têm de ser coibidos — e não cabe à imprensa ser dona do
sigilo. Mas não é menos evidente que eles não determinam a qualidade ou a
verdade da informação que se divulga. Nota à margem: as gravações não
são vazamentos.
Será mesmo?
Em sua carta, Lula se diz um fiel observador das leis e homem que respeita o Judiciário. Se é assim, por que ele e seu partido chamam de “golpe” um processo de impeachment que está ancorado na Constituição, nas leis e que teve seu rito definido pelo Supremo? O mesmo Supremo ao qual ele apela agora em busca, diz, de Justiça?
Em sua carta, Lula se diz um fiel observador das leis e homem que respeita o Judiciário. Se é assim, por que ele e seu partido chamam de “golpe” um processo de impeachment que está ancorado na Constituição, nas leis e que teve seu rito definido pelo Supremo? O mesmo Supremo ao qual ele apela agora em busca, diz, de Justiça?
Esse Lula
supostamente pacífico e respeitador das instituições estará na Paulista,
nesta sexta, comandando uma súcia que tem a ousadia de chamar de
golpista um processo legal e legítimo. E é ele que vem falar em nome do
respeito às leis?
Esse mesmo
Lula que faz ares de ofendido permitiu que o partido, que segue o seu
comando, e o próprio governo, que agora está sob os seus cuidados, lhe
preparassem uma cerimônia de posse em que a imprensa foi hostilizada de
maneira vergonhosa. Os brucutus que se manifestavam num espaço que
pertence, por excelência, à institucionalidade se opunham, isto sim, é à
liberdade de informação.
Não venha
agora se dizer um extremoso defensor das leis quem expressa a convicção,
em conversa com a própria presidente da República — e com a anuência
desta — de que os tribunais estão acovardados e de que algo precisa ser
feito.
Não venha
agora se dizer um subordinado do Estado de Direito aquele que se declara
em guerra, comparando-se ao general comunista vietnamita Vo Nguyen Giap
e que, apelando a uma linguagem incrivelmente chula, industria o ataque
de mulheres de seu partido a um procurador que o investiga. E o faz
apelando a questões que dizem respeito à vida pessoal do outro.
O Lula
dessa carta aberta não passa de uma tentativa fraudulenta de responder à
fala muito dura de Celso de Mello, decano do Supremo, que se posicionou
em nome do tribunal, lembrando que ninguém, nem o Sumo Pontífice do
Petismo, está acima da lei.
Esse Lula
caroável e servil às leis é uma farsa. O Lula de verdade manda tomar no
c… qualquer um que decida enfrentá-lo, ainda que segundo os mais
estritos limites legais. O Lula de verdade anunciou que comparece nesta
sexta a um ato que vai chamar de “golpe” o cumprimento da lei e da
Constituição.
O falso Lula da carta está com medo que o verdadeiro Lula das gravações vá para a cadeia.
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