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O Juiz Sergio Moro |
Na
quarta-feira 17, o ex-presidente Lula terá de prestar depoimento ao
Ministério Público de São Paulo no processo sobre a reforma do tríplex,
no Guarujá, por suspeitas de ocultação de patrimônio e lavagem de
dinheiro. Será a primeira vez em que Lula, ao lado de sua mulher Marisa
Letícia, será ouvido como investigado. Nem no mensalão, com todas as
evidências de caixa 2 e compra de apoio político de parlamentares, o
ex-presidente e líder máximo do PT encontrou-se nessa condição. O caso
envolve outra peculiaridade. Nunca Lula esteve sob suspeição por
vantagens indevidas e pessoais que possa ter obtido durante o exercício
do poder – como contrapartida a benefícios públicos oferecidos a entes
privados. Benesses estas de fácil entendimento popular e com potencial
de macular a imagem já bastante deteriorada do ex-presidente,
considerado a tábua de salvação do projeto de poder petista para além de
2018, uma vez que todas as pesquisas mostram que, com Lula fora do
páreo, não há nas fileiras petistas viva alma com musculatura política
suficiente para concorrer, com chances de vitória, às próximas eleições
presidenciais.
A TROPA DE CHOQUE
Por
isso, nos últimos dias, o PT desencadeou uma verdadeira operação na
tentativa de blindar Lula. Entraram em cena para defendê-lo, o
presidente do partido, Rui Falcão, ministros do governo, parlamentares e
ex-governadores da legenda. Os argumentos da tropa de choque não trazem
justificativas novas e se mostram desconectadas da realidade. Repetem o
velho e surrado discurso da vitimização, como se Lula estivesse acima
do bem e do mal. Os fatos, no entanto, se sobrepõem à narrativa. Por
isso, apenas entre os petistas mais fanáticos existe algum tipo de
mobilização. Estes planejam uma manifestação em frente ao Fórum da Lapa a
fim de pressionar o MP durante o depoimento de Lula numa espécie de
“ato de desagravo”. Certamente, a concentração irá reunir militantes de
carteirinha, a maior parte empregada pelo aparelhamento promovido pelo
partido em prefeituras, estados e no governo federal. Seguindo a
cartilha da cúpula patidária, esses petistas insistem em tratar Lula
como vítima das elites e do rigorismo do Ministério Público e da Polícia
Federal. “Nunca antes um ex-presidente da República foi tão caluniado,
difamado e injuriado como Lula”, escreveu Rui Falcão, em nota,
certamente esquecendo-se do que o líder petista e seu partido disseram
sobre Sarney, Collor e FHC. O ex-governador Tarso Genro foi mais ousado.
Chegou ao cúmulo de dizer que “a mídia faz de Lula o judeu da década,
como os nazis fizeram deles e comunas os alvos do ódio à democracia
social”. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou na
quinta-feira 11 que o ex-presidente Lula virou alvo de investigações
porque desafia o projeto político da oposição. “Setores da oposição,
visivelmente, querem isso. Já há algum tempo em que procuram, a cada
passo, atingir o presidente Lula porque reconhecem nele o grande líder
que desafia os projetos políticos da oposição”, afirmou. Em vídeo
divulgado na quarta-feira 10, por ocasião dos 36 anos do PT, o
ex-presidente, visivelmente abatido, não mencionou as investigações das
quais é alvo, embora tenha falado em “erros do partido”. Também não
revelou que, nos bastidores, planeja um reforço no campo jurídico,
incorporando ao seu time de advogados, já formado por Nilo Batista,
Roberto Teixeira e Cristiano Zanin, pesos pesados da advocacia nacional,
como José Roberto Batocchio.
A
interlocutores, Lula manteve a toada do coitadismo. Disse ter virado o
“prêmio” de uma “gincana” promovida por divisões da PF e do Ministério
Público. Por isso, se sentia golpeado “abaixo da linha da cintura”. “Há
um projeto para me destruir, e ao nosso legado”, afirmou. Ao fim,
recorreu ao discurso maroto do “poderia ter ganho milhões”, mas a
preocupação foi transformar o País.
NOVA INVESTIGAÇÃO
Apesar
do esforço retórico do PT para tentar blindar o ex-presidente, o
desgaste político enfrentado pelo petista vai aumentar. Na semana
passada, o juiz Sérgio Moro, responsável pelo caso na Justiça Federal do
Paraná, autorizou a abertura de um inquérito específico para que sejam
apurados negócios relacionados ao sítio em Atibaia. Desde que deixou o
Palácio do Planalto ao final de seu segundo mandato, Lula e familiares
frequentam o local regularmente. Parte do acervo presidencial foi levado
para a propriedade. Há, segundo as investigações, suspeitas de que a
OAS, uma das empreiteiras do cartel que fraudou licitações da Petrobras,
tenha bancado obras no local como compensação por contratos com o
governo. O pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente e preso
em Curitiba acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, também teria
assumido parte das despesas da reforma. “Trata-se de inquérito policial
inicialmente instaurado com a finalidade de investigar, dentre outros,
crimes de peculato e de lavagem de dinheiro praticados por dirigentes da
empresa OAS S.A”, afirmou Moro. De acordo com o juiz da Lava Jato, no
entanto, a investigação deve ser estendida para “além do âmbito da
empresa OAS”. A apuração policial abordará ainda outro aspecto. A
propriedade está registrada em nome dos empresários Fernando Bittar e
Jonas Suassuna, sócios do filho mais velho de Lula, Fábio Luís Lula da
Silva, o Lulinha. Custou R$ 1,5 milhão, em outubro de 2010, dos quais R$
100 mil (R$ 143 mil em valores atuais) foram pagos em dinheiro em
espécie. Tem 173 mil m² de área e é equipada com piscina, churrasqueira,
campo de futebol e tem um lago artificial para pescaria. Os agentes
federais vão tentar esclarecer se os empresários figuram como
proprietários com o objetivo de esconder os verdadeiros donos. Segundo
as investigações, a OAS custeou as cozinhas planejadas instaladas no
sítio. O pagamento foi feito em dinheiro em março de 2014. O empresário
Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, foi interrogado por integrantes da
Lava Jato a respeito das despesas realizadas pela empreiteira. Pinheiro
permaneceu em silêncio. Na quarta-feira 17, Lula, frente a frente com
promotores do MP de São Paulo, não poderá adotar a mesma postura. Clique AQUI para ler a reportagem completa DO A.AMORIM
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