Lula e seus defensores resolveram abraçar o caminho da farsa para não ter de dar explicações claras: a cada vez que surge uma nova evidência de que a história está mal contada, eles gritam: “Ah, querem pegar Lula!”. Digamos que isso fosse verdade e que houvesse tal predisposição, cabe a pergunta: e se ele for pego por coisas que realmente fez? A eventual predisposição de seus adversários o absolve previamente de eventuais crimes?
Bem, a
reportagem de ontem do Jornal Nacional, que trouxe o conteúdo do
depoimento do engenheiro Armando Dagre ao Ministério Público de São
Paulo, parece ter coroado o que, a esta altura, já está claro, não?
Dagre foi o responsável pela reforma no apartamento 164 A, no Condomínio
Solaris, o tríplex que seria da família do ex-presidente Lula.
O engenheiro
conta que a reforma foi contratada pela OAS e teve um custo total de R$
777 mil, entre instalação de um elevador privativo, construção de uma
nova piscina e a troca das escadas. Dagre relatou também o dia em que a
mulher de Lula foi conhecer o tríplex. Disse que estava reunido com um
representante da OAS no local “quando dona Marisa Letícia adentrou o
apartamento acompanhada por um rapaz e dois senhores”. O rapaz era um
dos filhos do casal, Fábio Luís, o Lulinha, e os “dois senhores” eram um
engenheiro da OAS e o dono da empreiteira, Léo Pinheiro.
A Promotoria
também tomou o depoimento do zelador do condomínio, José Afonso
Pinheiro, que trabalha no local desde 2013. Questionado se Lula esteve
no prédio, Pinheiro disse que já viu o ex-presidente lá. Segundo ele, o
chefão petista chegava normalmente em dois carros com seguranças que
“prendiam” o elevador para a família, o que provocava reclamações de
outros moradores.
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O zelador
contou, ainda, que a OAS sempre “limpava o prédio e colocava flores para
receber a família do ex-presidente”. No depoimento, José Afonso
Pinheiro disse também que um funcionário da empreiteira pediu a ele que
não falasse que o apartamento era de Lula e da mulher, “mas da OAS”.
Eis aí: o
maior legado pessoal de Lula à cultura política brasileira são as
histórias oblíquas, os rolos, as meias-verdades, que mentiras inteiras
são. Eis o “homem mais honesto do mundo”, segundo ele próprio, visto de
perto, à luz da realidade.
Isso vem de
longe, não é?, de um tempo em que a imprensa, ocupada demais em
incensá-lo como o demiurgo de uma nova era, achava de maus bofes
perguntar como, afinal de contas, ele vivia e quem pagava as contas.
Desde sempre houve, por exemplo, um Roberto Teixeira no meio do caminho —
o mesmo Teixeira que é o dono oficial, diga-se, do apartamento de Luís
Cláudio, aquele filho de Lula enrolado na operação Zelotes. E de quem o
advogado comprou o imóvel? De uma offshore que fica num paraíso fiscal.
O que há de
ilegal em Luís Cláudio seguir os passos do pai e morar de graça no
apartamento de um empresário milionário? Nada! O que há de ilegal no
fato de esse empresário ter comprado o imóvel de uma offshore? Nada! O
que há de ilegal em ser essa offshore situada num paraíso fiscal? Nada
também. Essas coisas acontecem todo dia, não é mesmo? Essa é a rotina
das pessoas comuns.
Esse imóvel
de Luís Cláudio é avaliado entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões. Seu irmão
mais velho, Lulinha — aquele que era monitor de Jardim Zoológico quando
o pai chegou ao poder e se tornou um próspero empresário pouco depois,
com a ajuda de uma empresa de telefonia de que o BNDES era sócio —,
também mora, até onde se sabe, de graça no imóvel de um outro amigo,
este um pouco mais caro: estima-se o valor de mercado em R$ 6 milhões. O
proprietário oficial é seu sócio, Jonas Suassuna.
Aí há um
sítio em Atibaia, também reformado pela OAS, segundo as vontades e os
gostos de Lula. Toda a cidade conhece a propriedade como “o sítio de
Lula” — até pelo aparato de segurança que toma o local quando o Primeiro
Companheiro chega, né? Suassuna é, oficialmente, o dono desse imóvel
também.
A coisa toda já começa a assumir ares de comédia vulgar, de bufonaria.
Há algo de
errado quando as verdades do “homem mais honesto do mundo” precisam de
um mapa desenhado por advogados para que possam ser compreendidas.
Lula e seus
defensores resolveram abraçar o caminho da farsa para não ter de dar
explicações claras: a cada vez que surge uma nova evidência de que a
história está mal contada, eles gritam: “Ah, querem pegar Lula!”.
Digamos que isso fosse verdade e que houvesse tal predisposição, cabe a
pergunta: e se ele for pego por coisas que realmente fez? A eventual
predisposição de seus adversários o absolve previamente de eventuais
crimes?
Ninguém mais cai nessa conversa.
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