Brasília, 05/07/2015
O Brasil atravessa a pior crise desde que
me conheço por gente. Cabe a todas as forças políticas responsáveis
oferecer as alternativas para que saiamos dela.
Não tenhamos ilusões: esta será uma missão muito difícil, pois o estrago feito no país na era petista é gigantesco.
Hoje nos defrontamos com:
- Desemprego elevado e crescente – vai
aumentar muito mais nos próximos meses, devendo atingir 9% até o final
do ano. Em maio, estava em 6,7%, dois pontos percentuais acima do mesmo
mês do ano passado.
- Renda das famílias e consumo em queda: a
renda cai a 5%, pelos dados de maio (ante mesmo mês de 2014) e o
consumo ampliado despenca a 8,5%.
- Inflação alta: está em 8,5% e deve ultrapassar 9% em dezembro, superando os 10% na metade do segundo semestre.
- Queda de investimentos públicos e
privados – menos 40% nos investimentos públicos, neste ano, e queda de
10,5% nos investimentos privados, comprometendo o emprego e a
produtividade da economia nos próximos anos.
- Deterioração dos serviços sociais – à
frente, a Saúde, jogada pra trás pelos cortes do governo federal assim
como pela má gestão do ministério da Saúde, que combinou falta de
prioridades, falta de fiscalização e controle, loteamento político e
corrupção.
Os governos petistas desperdiçaram a
grande bonança externa da década passada, torrando as dezenas de bilhões
de dólares provenientes do aumento de preços de nossas exportações. Em
vez de aproveitarem a bonança para fortalecerem nossa economia, torraram
esses recursos em consumo e desperdício, e abriram caminho para o
desequilíbrio fiscal.
A mistura de carga tributária irracional e
falta de investimentos em infraestrutura, com uma política aloprada de
taxa de câmbio e juros, tiraram a competitividade interna e externa da
produção nacional e deram um golpe de morte na indústria.
Imaginem vocês que neste ano o produto
industrial será 15% menor do que em 2008. Andamos tanto para trás que a
participação da indústria no PIB voltou ao nível de 1946.
Isso nos condena à semi-estagnação e à
falta de bons empregos. Todos os emergentes que crescem rapidamente são
puxados pelo setor industrial.
A preocupação central dos brasileiros é
com o futuro, com a renda e com o emprego. Mas só haverá crescimento
consistente do emprego e da renda se o Brasil enfrentar o desafio da
reindustrialização.
Reindustrializar o Brasil deve ser nossa grande plataforma como partido.
Eu disse em discurso no Senado que isso
começa, a curto e médio prazo, por dinamizar nossas exportações,
investir maciçamente na infraestrutura – aliás, o contrário do que o
governo vem fazendo – e recuperar a indústria do petróleo, que chegou a
um sétimo do nosso PIB e poderia ir muito além.
Em vez disso, o governo Dilma ficou
enrolado num mal feito programa de ajuste, que chamei de ajuste
desajustado. Primeiro porque mal feito em si. Segundo porque veio
desligado de fato de um programa de crescimento. Não há ajuste que dê
certo se não houver um mínimo de expectativas favoráveis sobre o futuro.
Na verdade, a crise brasileira não é
apenas econômica. É crise econômica, política e de valores. Precisamos
como nunca de um governo capaz de governar, de dar exemplo de
austeridade e ética e de fazer o Brasil voltar a crescer.
Mas temos um governo demasiado fraco,
incapaz de reverter essa situação. O mais fraco de que tenho memória.
Isso não vem do pós-reeleição, vem de antes. O governo Dilma sempre se
manteve atrás dos acontecimentos. Nunca soube se antecipar aos
problemas. Mas hoje sequer sabe o que está acontecendo. Isso não é culpa
do Congresso. Mas da própria fraqueza do Executivo.
Tampouco é culpa da oposição, que apenas
cumpre seu papel de fiscalizar e cobrar. Claro que às vezes há a
tentação – que precisamos afastar - de aprovar loucuras fiscais
irreversíveis, que comprometerão não o presente nem este governo, mas o
futuro e os bons governos que se Deus quiser virão.
Mas mesmo quando a oposição faz propostas
que fariam bem à nossa economia à curto e médio prazos, o governo sabe
aproveitar. Vejam o caso do petróleo...
Sabem o quê? A característica definidora
de um governo ruim é não querer melhorar. O governo ruim se intoxica com
a própria mediocridade. Vicia-se nela.
Mas olhem hoje bem mais do que o
Congresso ou a oposição, o fator maior de perturbação do governo Dilma é
seu próprio partido. O PT, constrangido pelos escândalos, pela ruindade
do seu desempenho no Executivo e pelos evidentes retrocessos sociais,
vai se transformando de principal força de sustentação do governo em
grande vetor do seu enfraquecimento.
Mas eu falei da economia, deixe-me falar
do sistema político, A única reforma política de fato cravada no nosso
programa de fundação do partido foi o parlamentarismo. Esse é o sistema
do Executivo forte, pois a maioria do Congresso, por definição, apoia o
governo. Se tirar o apoio, o governo cai e forma-se outro. Sempre com
base em programas definidos. Há uma relação cooperativa entre os dois
poderes. Já o presidencialismo é o sistema do antagonismo entre eles:
Executivo forte, Congresso fraco. Congresso forte, Executivo fraco.
No parlamentarismo, quando o governo vai
mal, é trocado, sem grandes traumas, No presidencialismo o processo é
sempre traumático, paralisa o país.
Mas não estou abordando esse tema como
divagação. Trata-se, isto sim, de fazer uma proposta ao Partido: de que
abramos um debate sobre a implantação do parlamentarismo.
Não como fórmula de emergência, a ser
implantada numa madrugada de crise, como em 1961. Mas a partir das
eleições de 2018. Daqui até lá, procuraríamos a melhor maneira de
preparar o novo sistema, seja por meio de um projeto bem feito - que
promova a reforma partidária com vistas a enxugar o numero de partidos,
que hoje se eleva a mais de trinta! Seja por intermédio de uma amola
negociação política, de um grande entendimento político.
Vou terminar lembrando uma antilei
petista, segundo a qual a menor distância entre dois pontos não é uma
linha reta, mas uma curva espiralada. É assim que a Dilma governa,
ignorando os teoremas da geometria, complicando e alongando as soluções,
transformando-as em problemas. Eu sou o contrário, é óbvio. Mas vou dar
o braço a torcer a um antigo senador do Rio de Janeiro, Nelson
Carneiro, que me disse durante a Constituinte: Serra, a menor distância
entre dois pontos não é sempre uma linha reta. Na política, a menor
distância entre dois pontos é o entendimento. Sair desta crise profunda
vai exigir isso: ENTENDIMENTO político, temos de trabalhar por ele, meus
caros Aécio Neves, Cássio Cunha Lima, Aloysio Nunes. O mais amplo e
consistente possível, para juntar forças capazes de refazer nossa
economia, afirmar a democracia e reconstruir o Brasil.
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