O ESTADO DE S. PAULO
Após a homologação pelo STF da delação premiada de Ricardo Pessoa, dono
das construtoras UTC e Constran e apontado como articulador do cartel de
empreiteiras acusado de atuar no escândalo da Petrobrás, o PT tenta se
defender com todos os recursos disponíveis das suspeitas que recaem mais
pesadamente do que nunca sobre a rapaziada. Mobiliza uma ampla rede de
militantes na internet, desmente tudo com hipócrita indignação e, no
último fim de semana, escalou para falar ministros acusados de se
beneficiarem da roubalheira. O repertório petista, quase sempre baseado
no princípio de que a melhor defesa é o ataque, torna-se mais falacioso à
medida que a pressão sobre o partido aumenta.
Um recurso recorrente da contraofensiva petista é a tentativa de
desqualificar o instituto da delação premiada, colocando os denunciados
na posição de vítimas de malvados fora da lei que pretendem apenas
aliviar a própria culpa. Quem concorda em fazer um acordo de delação tem
a intenção de, em troca, ver reduzida a pena a que vier a ser
condenado. É o caso do próprio Ricardo Pessoa, que já se beneficia da
prisão preventiva domiciliar monitorada por tornozeleira eletrônica. O
que os petistas não contam é que uma delação premiada só é homologada
pela Justiça – como o fez o ministro Teori Zavascki com o depoimento de
Pessoa – após a comprovação de uma base factual que dê credibilidade às
denúncias. Se o juiz entender que as denúncias são improcedentes, o
acordo é anulado. Quer dizer: delator mentiroso não ganha nada com isso.
Outra esperteza petista, incorporada a seu discurso desde que o PT
chegou ao poder e passou de estilingue a vidraça, é tentar se eximir de
culpas com o argumento descarado de que seus adversários cometem
exatamente os mesmos malfeitos que lhe estão sendo atribuídos. É a
isonomia às avessas, segundo a qual todos são iguais não perante a lei,
mas perante o crime: se meu adversário pode roubar, eu também posso.
Foi partindo exatamente desse raciocínio – de que roubar não faz mal
porque todo mundo rouba – que o presidente Lula impôs, em nome da
governabilidade, o peculiar “presidencialismo de coalização”, que
justificou o PT ter renegado toda sua pregação histórica pela probidade
na vida pública para se aliar aos mais notórios corruptos da política
brasileira. De outra maneira, argumentam até os petistas
bem-intencionados, “é impossível governar”. Deu no que está aí.
Outro truque a que os petistas – como, de resto, os políticos em geral –
recorrem na maior caradura é garantir, invariavelmente, que todo o
dinheiro recebido de empresas privadas constitui “doação legal” e
“devidamente registrada” na Justiça eleitoral. Ora, o fato de uma doação
estar registrada na contabilidade oficial do partido nada prova em
relação a sua origem. É sabido, por óbvio, que nas relações com o poder
público os empresários não fazem doação, mas um investimento que esperam
recuperar com boa margem de lucro. E esse investimento pode ser o
produto de chantagem ou das “regras do jogo”, como alegam os cínicos.
Investigações como as que estão sendo realizadas com rigor e empenho
pela Operação Lava Jato estão servindo para esclarecer de onde vieram as
“doações legais” que alimentam os cofres partidários.
É óbvio também, quando se trata de receber “doações”, que quem está no
governo leva enorme vantagem sobre quem não está e, portanto, pouco ou
nada tem a oferecer em troca. Não é por outra razão que, na mamata da
Petrobrás, o propinoduto estava montado para jorrar “doações” e
“recursos não contabilizados” – para usar a expressão consagrada pelo
primeiro tesoureiro petista a ir para a cadeia – nos cofres do PT e de
seus dois principais aliados no governo, o PMDB e o PP.
Acusado por Ricardo Pessoa, o ministro Edinho Silva, chefe da
Comunicação Social da Presidência, fez um bom resumo de todos os
argumentos falaciosos do PT, ao protestar contra as “mentiras divulgadas
pela imprensa”: “Causa-me indignação a tese de criminalização seletiva
das doações da nossa campanha (de Dilma, em 2014). E acho estranho
suspeitas colocadas apenas sobre as doações legais da campanha da
presidente Dilma, enquanto outros partidos também receberam”. Se a
defesa da elite do PT ficar nisso, as cadeias vão lotar. DO WELBI
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