A economia
vai mal. Muito mal. Mas a política está muito pior. É discutível se a
crise econômica piora a política, mas é certo que a crise política piora
a economia. É a fraqueza do governo que dá as cartas. Dilma não sabe o
que dizer, o que fazer, o que anunciar. E, um ano e três meses depois de
iniciada a operação Lava Jato — depois de muitos desacertos, ainda em
curso, protagonizados também pela Procuradoria-Geral da República, sob o
comando de Rodrigo Janot, e pelo juiz Sergio Moro —, eis que cai a
máscara, eis que a verdade se desnuda: UMA VERDADEIRA MÁFIA TOMOU CONTA DO ESTADO BRASILEIRO. E ELA PRECISA SER TIRADA DE LÁ PELA LEI.
Vá à banca
mais próxima e adquira um documento: a edição desta semana da revista
VEJA. Em 12 páginas, você lerá, no detalhe, como atuou — atua ainda? — a
máfia que tomou conta do Brasil e como se construiu o establishment
político que nos governa. O empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC e
ex-amigo pessoal de Luiz Inácio Lula da Silva, resolveu contar tudo.
Ficou preso mais de cinco meses. Só fez o acordo de delação premiada
depois de ter deixado a cadeia. ESTE BLOGUEIRO FALASTRÃO, COMO
LULA ME CLASSIFICOU NO CONGRESSO DO PT, SENTE-SE, DE ALGUM MODO,
VINGADO. Vingado também contra as hostes da desqualificação e do
cretinismo da esquerda e da direita burra e desinformada. NÃO HÁ NEM
NUNCA HOUVE CARTEL DE EMPREITEIRAS, COMO SEMPRE SUSTENTEI. O QUE SE
CRIOU NO BRASIL FOI UMA ESTRUTURA MAFIOSA DE ACHAQUE.
É claro que as empreiteiras praticaram crimes também. Mas não o de formação de cartel. Insistir na tese do cartel CORRESPONDE A NEGAR A ESSÊNCIA DO MODELO QUE NOS GOVERNA.
O achaque
VEJA teve acesso ao conteúdo da delação premiada de Ricardo Pessoa, homologada pelo ministro Teori Zavascki. É demolidor. Segue, em azul, um trecho do que vai na revista:
VEJA teve acesso ao conteúdo da delação premiada de Ricardo Pessoa, homologada pelo ministro Teori Zavascki. É demolidor. Segue, em azul, um trecho do que vai na revista:
Em
cinco dias de depoimentos prestados em Brasília, Pessoa descreveu como
financiou campanhas à margem da lei e distribuiu propinas. Ele disse que
usou dinheiro do petrolão para bancar despesas de dezoito figuras
coroadas da República. Foi com a verba desviada da estatal que a UTC
doou dinheiro às campanhas de Lula em 2006 e de Dilma em 2014. Foi com
ela também que garantiu o repasse de 3,2 milhões de reais a José Dirceu,
uma ajudinha providencial para que o mensaleiro pagasse suas despesas
pessoais.
A
UTC ascendeu ao panteão das grandes empreiteiras nacionais nos governos
do PT. Ao Ministério Público, Pessoa fez questão de registrar que essa
caminhada foi pavimentada com propinas. O empreiteiro delatou ao STF
essas somas que entregou aos donos do poder, segundo ele, mediante
achaques e chantagens. Relatou que teve três encontros em 2014 com
Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma e atual ministro de
Comunicação Social.
Nos
encontros, disse, ironicamente, ter sido abordado “de maneira bastante
elegante”. Contou ele: “O Edinho me disse: ‘Você tem obras na Petrobras e
tem aditivos, não pode só contribuir com isso. Tem que contribuir com
mais. Eu estou precisando”. A abordagem elegante lhe custou 10 milhões
de reais, dados à campanha de Dilma. Um servidor do Palácio chamado
Manoel de Araújo Sobrinho acertou os detalhes dos pagamentos (…).
Documentos
entregues pelo empresário mostram que foram feitos dois depósitos de
2,5 milhões de reais cada um, em 5 e 30 de agosto de 2014. Depois dos
pagamentos, Sobrinho acertou com o empreiteiro o repasse de outros 5
milhões para o caixa eleitoral de Dilma. Pessoa entregou metade do valor
pedido e se comprometeu a pagar a parcela restante depois das eleições.
Só não cumpriu o prometido porque foi preso antes.
(…)
(…)
Retomo
Edinho, claro, nega. Será preciso agora saber quem é o tal Manoel Araújo Sobrinho, que tem de ser convocado pela CPI nas primeiras horas da segunda-feira. Ricardo Pessoa sempre foi considerado o homem-bomba do caso, muito especialmente por Lula e pelo Palácio do Planalto. Ele é apontado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público como o coordenador do “Clube do Bilhão”. O nome é meio boboca, e duvido que tenha existido algo parecido. Mas é inegável que ele exercia uma espécie de liderança política entre os empresários.
Edinho, claro, nega. Será preciso agora saber quem é o tal Manoel Araújo Sobrinho, que tem de ser convocado pela CPI nas primeiras horas da segunda-feira. Ricardo Pessoa sempre foi considerado o homem-bomba do caso, muito especialmente por Lula e pelo Palácio do Planalto. Ele é apontado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público como o coordenador do “Clube do Bilhão”. O nome é meio boboca, e duvido que tenha existido algo parecido. Mas é inegável que ele exercia uma espécie de liderança política entre os empresários.
Escrevi aqui
umas quinhentas vezes que INSISTIR NA TESE DO CARTEL CORRESPONDIA A
NEGAR A NATUREZA DO JOGO. Empresas, quando se cartelizam, fazem uma
vítima do outro lado. Sim, as vítimas da roubalheira são os brasileiros,
é inegável. Mas, do outro lado da negociação com as empreiteiras,
estava a Petrobras, a contratadora única, que determinava os preços, e
no comando da empresa, a máfia que tomou conta do governo e impunha as
suas vontades.
Máfia cachaceira
Quando falo em máfia, não forço a mão nem recorro a uma figura de linguagem. Havia até senha secreta para entregar dinheiro aos petistas, segundo Ricardo Pessoa. As palavras, nem poderia ser diferente, referem-se, vamos dizer, ao universo alcoólico. Tudo compatível com um Poderoso Chefão chamado “Brahma”. Leiam esta passagem da reportagem, em que o empreiteiro conta como era entregue O DINHEIRO VIVO AO TESOUREIRO DA CAMPANHA DE LULA, EM 2006.
Quando falo em máfia, não forço a mão nem recorro a uma figura de linguagem. Havia até senha secreta para entregar dinheiro aos petistas, segundo Ricardo Pessoa. As palavras, nem poderia ser diferente, referem-se, vamos dizer, ao universo alcoólico. Tudo compatível com um Poderoso Chefão chamado “Brahma”. Leiam esta passagem da reportagem, em que o empreiteiro conta como era entregue O DINHEIRO VIVO AO TESOUREIRO DA CAMPANHA DE LULA, EM 2006.
Segundo
o empreiteiro Ricardo Pessoa, a UTC contribuiu com 2,4 milhões de
reais em dinheiro vivo para a campanha à reeleição de Lula, numa
operação combinada diretamente com José de Filippi Júnior, que era o
tesoureiro da campanha e hoje trabalha como secretário de Saúde da
cidade de São Paulo.
Para
viabilizar a entrega do dinheiro e manter a ilegalidade em segredo, o
empreiteiro amigo de Lula e o tesoureiro do presidente-candidato
montaram uma operação clandestina digna dos enredos rocambolescos de
filmes sobre a máfia. Pessoa contou aos procuradores que ele, o
executivo da UTC Walmir Pinheiro e um emissário da confiança de ambos
levavam pessoalmente os pacotes de dinheiro ao comitê da campanha
presidencial de Lula. Para não chamar a atenção de outros petistas que
trabalhavam no local, a entrega da encomenda era precedida de uma troca
de senhas entre o pagador e o beneficiário.
Ao
chegar com a grana, Pessoa dizia “tulipa”. Se ele ouvia como resposta a
palavra “caneco”, seguia até a sala de Filippi Júnior. A escolha da
senha e da contrassenha foi feita por Pessoa com emissários do
tesoureiro da campanha de Lula numa choperia da Zona Sul de São Paulo.
Antes de chegar ao comitê eleitoral, a verba desviada da Petrobras
percorria um longo caminho. Os valores saíam de uma conta na Suíça do
consórcio Quip, formado pelas empresas UTC, Iesa, Camargo Corrêa e
Queiroz Galvão, que mantém contratos milionários com a Petrobras para a
construção das plataformas P-53, P-55 e P-63.
Em
nome do consórcio, a empresa suíça Quadrix enviava o dinheiro ao Brasil.
A Quadrix também transferiu milhares de dólares para contas de
operadores ligados ao PT. Pessoa entregou aos investigadores as
planilhas com todas as movimentações realizadas na Suíça. Os pagamentos
via caixa dois são a primeira prova de que o ex-presidente Lula foi
beneficiado diretamente pelo petrolão.
Até
agora, as autoridades tinham informações sobre as relações lucrativas do
petista com grandes empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato,
mas nada comparável ao testemunho e aos dados apresentados pelo dono da
UTC. Depois de deixar o governo, Lula foi contratado como palestrante
por grandes empresas brasileiras. Documentos obtidos pela Polícia
Federal mostram que ele recebeu cerca de 3,5 milhões de reais da Camargo
Corrêa. Parte desse dinheiro foi contabilizada pela construtora como
“doações” e “bônus eleitorais” pagos ao Instituto Lula. Conforme
revelado por VEJA, a OAS também fez uma série de favores pessoais ao
ex-presidente, incluindo a reforma e a construção de imóveis usados pela
família dele. UTC, Camargo Corrêa e OAS estão juntas nessa parceria. De
diferente entre elas, só as variações dos apelidos, das senhas e das
contrassenhas. “Brahma”, “tulipa” e “caneco”, porém, convergem para um
mesmo ponto.
Pixuleco
Leiam a reportagem da VEJA. Ao longo de 12 páginas, vocês vão constatar que o país foi literalmente assaltado por ladrões cínicos e debochados. João Vaccari Neto, o ex-tesoureiro do PT que foi objeto de um desagravo feito pela Executiva Nacional do partido na quinta, depois de um encontro de Rui Falcão com Lula, chamava a propina de “pixuleco”. Segue um trecho.
Leiam a reportagem da VEJA. Ao longo de 12 páginas, vocês vão constatar que o país foi literalmente assaltado por ladrões cínicos e debochados. João Vaccari Neto, o ex-tesoureiro do PT que foi objeto de um desagravo feito pela Executiva Nacional do partido na quinta, depois de um encontro de Rui Falcão com Lula, chamava a propina de “pixuleco”. Segue um trecho.
O
empreiteiro contou que conheceu Vaccari durante o primeiro governo Lula,
mas foi só a partir de 2007 que a relação entre os dois se
intensificou. Por orientação do então diretor de Serviços da Petrobras,
Renato Duque, um dos presos da Operação Lava-Jato, Pessoa passou a
tratar das questões financeiras da quadrilha diretamente com o
tesoureiro. A simbiose entre corrupto e corruptor era perfeita, a ponto
de o dono da UTC em suas declarações destacar o comportamento diligente
do tesoureiro: “Bastava a empresa assinar um novo contrato com a
Petrobras que o Vaccari aparecia para lembrar: ‘Como fica o nosso
entendimento político?’”. A expressão “entendimento político”, é óbvio,
significava pagamento de propina no dialeto da quadrilha. Aliás, propina
não.
Vaccari,
ao que parece, não gostava dessa palavra. Como eram dezenas de
contratos e centenas as liberações de dinheiro, corrupto e corruptor se
encontravam regularmente para os tais “entendimentos políticos”. João
Vaccari era conhecido pelos comparsas como Moch, uma referência à sua
inseparável mochila preta. Ele se tornou um assíduo frequentador da sede
da UTC em São Paulo. Segundo os registros da própria empreiteira, para
não chamar atenção, o tesoureiro buscava “as comissões” na empresa
sempre nos sábados pela manhã.
Ele
chegava com seu Santa Fé prata, pegava o elevador direto para a sala de
Ricardo Pessoa, no 9º andar do prédio, falava amenidades por alguns
minutos e depois partia para o que interessava. Para se proteger de
microfones, rabiscava os valores e os porcentuais numa folha de papel e
os mostrava ao interlocutor. O tesoureiro não gostava de mencionar a
palavra propina, suborno, dinheiro ou algo que o valha. Por pudor,
vergonha ou por mero despiste, ele buscava o “pixuleco”. Assim, a
reunião terminava com a mochila do tesoureiro cheia de “pixulecos” de 50
e 100 reais. Mas, antes de sair, um último cuidado, segundo narrou
Ricardo Pessoa: “Vaccari picotava a anotação e distribuía os pedaços em
lixos diferentes”. Foi tudo filmado.
Retomo
Aí está apenas parte dos descalabros narrados por Ricardo Pessoa. E agora? Até havia pouco, parecia que o petrolão era fruto apenas de empresários malvados, reunidos em cartel, que decidiram se associar a três funcionários corruptos da Petrobras — tese de Dilma, por exemplo — e a alguns parlamentares, a maioria de segunda linha, para roubar o país. Faltava o cérebro dessa operação, que sempre esteve no Poder Executivo.
Aí está apenas parte dos descalabros narrados por Ricardo Pessoa. E agora? Até havia pouco, parecia que o petrolão era fruto apenas de empresários malvados, reunidos em cartel, que decidiram se associar a três funcionários corruptos da Petrobras — tese de Dilma, por exemplo — e a alguns parlamentares, a maioria de segunda linha, para roubar o país. Faltava o cérebro dessa operação, que sempre esteve no Poder Executivo.
Eis aí.
Nunca houve cartel. Eu estava certo! O depoimento de Ricardo Pessoa —
que não se deixou constranger pela prisão preventiva e que, tudo indica,
confessou o que quis, não o que queriam ele confessasse — REVELA A REAL
NATUREZA DO JOGO.
Ainda não terminei. Em outro post, vou chamar Rodrigo Janot e o juiz Sergio Moro para um papinho sobre lógica elementar.
DO REINALDO AZEVEDO-REVISTA VEJA
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