Delação chega a 2014
A
delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, presidente da UTC
definido por seus pares como o chefe do grupo de empreiteiras que atuou
na Petrobras nos escândalos de corrupção que estão sendo investigados na
Operação Lava-Jato, pode ter desdobramentos tanto na questão eleitoral
no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quanto na abertura de um processo
de impeachment no Senado
Por Merval Pereira
Além
disso, a delação, decidida depois que o empreiteiro já estava em casa
em prisão domiciliar, dá ao Juiz Sérgio Moro argumentos para rebater, ou
pelo menos amenizar, a acusação de que os que acertaram suas delações
premiadas o fizeram por pressão psicológica da prisão preventiva por
muitos meses.
Ricardo
Pessoa já tinha dado mostras de que queria fazer a delação premiada, e o
que ele tem mandado dizer através de advogados e de documentos que
vazou para a imprensa é que está disposto a falar sobre financiamento da
campanha de 2014.
Junto
com outras informações, isso forma um quadro muito claro de que as
campanhas do PT de 2010 e 2014 foram financiadas com dinheiro desviado
da Petrobras e pode colocar em xeque a chapa da presidente Dilma com a
possibilidade de impugnação, com consequências políticas seriíssimas,
inclusive a abertura de um processo de impeachment por crime de
responsabilidade e novas eleições presidenciais.
Ficando
o caso no Supremo, o processo não terá a celeridade da primeira
instância, como está acontecendo em Curitiba com o juiz Sergio Moro.
Dizem até que a delação premiada de Pessoa demorou tanto por que Moro e o
Procuradores de Curitiba não estavam interessados em novas denúncias
contra políticos, pois elas iriam, como foram, parar no Supremo Tribunal
Federal (STF) devido ao foro privilegiado.
No
entanto, será um processo político com muito mais repercussão, em cima
da campanha eleitoral da presidente, e muda de patamar. Por enquanto, o
processo tem políticos envolvidos, mas se entrar a campanha eleitoral da
presidente e a possibilidade de impugnação da chapa no TSE, será muito
mais relevante e polêmico.
O
ministro do Supremo Tribunal Federal (TSF) e vice-presidente do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, havia prorrogado por
mais um ano o prazo para que as contas eleitorais da presidente Dilma
permaneçam disponíveis na internet.
A
decisão foi motivada por suspeitas de outras irregularidades, que ele
considera "gravíssimas", como o pagamento de R$ 20 milhões a uma gráfica
fantasma ou a uma firma, a Focal, para montar palanques presidenciais,
no valor de R$ 25 milhões. O prazo para impugnação das contas no TSE já
expirou, mas como houve várias ressalvas encaminhadas ao Ministério
Público Eleitoral, as investigações continuam.
Há
dois processos no Tribunal Superior Eleitoral contra a campanha do PT
de 2014, a partir de denúncias d PSDB, uma com a ministra Maria Teresa, e
outro com o ministro João Noronha, ambos do STJ. Neste último há espaço
para a inclusão de casos da Operação Lava-Jato, por que tanto Paulo
Roberto Costa quanto o doleiro Yousseff já foram ouvidos sobre outras
denúncias de uso de dinheiro desviado da Petrobras na campanha de 2014.
Ricardo
Pessoa, em documentos que deixara vazar nos últimos dias através de
seus advogados, já admitiu que doou R$ 7,5 milhões à campanha eleitoral
de Dilma Rousseff porque foi achacado pelos petistas. O dinheiro teria
sido proveniente do esquema de propina na Petrobras. Além disso, disse
que doou na campanha eleitoral de 2006 R$ 2,4 milhões a Lula, na
campanha presidencial de 2006, entregues em espécie, diretamente ao PT,
além de R$ 2,4 milhões para a campanha de Fernando Haddad, pelo caixa 2,
e de ter pagado por "consultorias" a José Dirceu.
A
impugnação da chapa por "abuso de poder político e econômico" pode ser
uma das consequências da denúncia, o que provocaria uma nova eleição se o
caso for resolvido na justiça nos dois primeiros anos de mandato, isto
é, até o final de 2016. Caso ocorra uma decisão a partir do terceiro
ano, haveria uma eleição indireta pelo Congresso, para o término do
mandato.
A
gravidade de usar do TSE para "lavar" o dinheiro da corrupção pode
gerar uma reação mais dura da Justiça Eleitoral, pois fere a
credibilidade do Tribunal. O processo no TSE pode gerar também um
processo de impeachment no Senado, por crime de responsabilidade. DO R.DEMOCRATICA
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