A
presidente Dilma Rousseff foi nesta sexta a um assentamento do MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), em Eldorado do Sul, na
região metropolitana de Porto Alegre, para participar da abertura da
colheita de arroz ecológico. E ouviu uma aulinha de política do
professor João Pedro Stédile.
O
professor João Pedro Stédile é aquele que prometeu pôr seu “exército” a
serviço da preservação do mandato de Dilma. O professor João Pedro
Stédile é aquele que, há poucos dias, saudou um ato de terrorismo
praticado por seus soldados mulheres, que invadiram um laboratório de
pesquisas e destruíram mudas de eucalipto transgênico. O professor João
Pedro Stédile é aquele que promove, com alguma frequência, bloqueio de
estradas e que lidera, do gabinete, a indústria de invasão de
propriedades rurais.
Se alguém
ainda não entendeu, escrevo de outro modo, por meio de indagações. Se
Dilma pode ir a um evento de um grupo cujos membros cometem crimes em
penca — e o fazem de modo que não possam ser responsabilizados por isso
—, com que outras forças criminosas também poderia se encontrar para
demonstrar que gosta do diálogo? Se trabalhadores ditos “sem terra” têm
licença para depredar laboratórios, que tipo de crimes seriam tolerados
de trabalhadores com terra, presidente?
É,
senhoras e senhores! Dilma não foi ao evento apenas para prestigiar o
MST. Teve de ouvir um pito de Stédile, que cobrou humildade dos
ministros. Mais do que isso: reivindicou que Joaquim Levy vá discutir as
medidas fiscais com o MST. Acusou ainda o ajuste em curso de prejudicar
programas sociais. Falou por 19 minutos. Dilma discursou por 33.
Defendeu as medidas na área econômica, afirmou que não pode governar com
os olhos de um “movimento social” e negou que os mais pobres estejam
sendo prejudicados. A presidente, em suma, se justificava diante de Sua
Excelência João Pedro Stédile.
Retrato,
até aqui, como diria a poeta Cecília Meireles, “o patético momento” de
Dilma. A coisa iria piorar muito, caminhando para o grotesco. Em
entrevista depois da solenidade, afirmou a presidente:
“Acho absolutamente democrática a crítica dele. Agora, entre a crítica ser democrática e a gente aceitar a crítica, tem uma pequena distância”.
“Acho absolutamente democrática a crítica dele. Agora, entre a crítica ser democrática e a gente aceitar a crítica, tem uma pequena distância”.
A
presidente já tinha percorrido uma boa parte da trilha do erro. Poderia
ter parado por aí. Mas, quando se é Dilma, sempre se dá mais um passo
depois de chegar ao limite. Resolveu atacar a oposição, aqueles que
seriam partidários do “quanto pior, melhor”. Mandou bala: “Tem gente no
Brasil que aposta no quanto pior, melhor. São os chamados pescadores de
águas turvas. O que querem não me interessa. O fato é que apostam contra
o Brasil. Você não pode apostar contra o seu país”.
Dilma tem,
agora, a obrigação de dizer quem aposta no quanto pior, melhor. Dilma
tem agora a obrigação de dizer quem aposta contra o Brasil. Dilma tem
agora a obrigação de dizer quem é o pescador de águas turvas.
Eu vou
dizer por que o governo está perdido. Se a presidente tivesse ido à
Avenida Paulista no domingo — ou a qualquer outra das mais de 200
cidades onde houve protesto —, não teria conseguido discursar. Nesta
sexta, no assentamento do MST, ela foi aplaudida. Nas ruas, estavam
pessoas comuns, que trabalham, que arrecadam impostos, que não praticam
crimes, que não recorrem à violência. No assentamento do MST, os
invasores contumazes de propriedade alheia e defensores de atos
terroristas contra laboratórios de pesquisa. Não obstante, Dilma associa
os que protestam ao “quanto pior, melhor” e deixa claro que não se
interessa por aquilo que querem. Mas chama Stédile e sua turma de
democratas.
Em larga
medida, e ainda voltarei a este ponto em outros textos, Dilma lembra
certo presidente chamado João Goulart: é fraca, atrapalhada, mal cercada
e permite que o baguncismo se infiltre no governo. Felizmente, é outro o
espírito do tempo, sem a crispação ideológica daqueles dias. E outra
também é a consciência das Forças Armadas. Não querem ser governo e, por
determinação constitucional, são garantidoras últimas da legalidade e
na normalidade constitucional. Mais: ainda que os companheiros tenham
tentado, não conseguiram quebrar as pernas das instituições.
O Brasil
seguirá na trilha democrática, qualquer que seja o desfecho da gestão
Dilma. Não porque eles queiram. Mas porque nós queremos.
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