O
slogan "governo novo, ideias novas" foi um dos mais explorados pela
campanha que reelegeu a presidente Dilma Rousseff (PT) para mais quatro
anos de mandato. Vencida a disputa, no entanto, a presidente cede a
antigos vícios da política brasileira. O 'pacotão'
de novos ministros anunciado nesta terça-feira deixa claro o principal
objetivo do troca-troca na Esplanada: aplacar a sede de partidos aliados
por espaço no primeiro escalão do governo. A contrapartida, apoio no
Congresso. Diferente dos nomes anunciados para comandar a economia no
segundo mandato de Dilma — Joaquim Levy (Fazenda), Nelson Barbosa
(Planejamento) e Alexandre Tombini (Banco Central) —, a segunda leva da
reforma ministerial tem a marca do fisiologismo.
Com sua
vocação para o folclore político, o ministério da Pesca já virou moeda
corrente do loteamento político. Conforme o anúncio desta terça-feira,
ele será comandado pelo filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), Helder Barbalho
(PMDB), que foi derrotado na disputa pelo governo do Pará pelo tucano
Simão Jatene. Seja qual for sua familiaridade com os assuntos da pasta,
isso não será problema: afinal, esse é o ministério que já foi chefiado
por quem – Marcelo Crivella (PRB-RJ) – admitia não saber "nem colocar
minhoca no anzol". Até agora, o cargo mais alto que Helder, 35 anos,
ocupou foi o de prefeito de Ananindeua, no interior do Pará. O herdeiro
do clã Barbalho responde a processo por improbidade administrativa na 5ª
Vara Federal do Pará referente a uma auditoria do Ministério da Saúde
que detectou irregularidades na aplicação de recursos da pasta no
período em que ele administrou o município paraense, segundo reportagem
do jornal O Globo. Barbalho pai, senador e chefe do clã, responde por sua vez a seis processos no Supremo Tribunal Federal.
Helder é da cota do PMDB, que Dilma decidiu aumentar ainda mais, um reconhecimento ao apoio da legenda à manobra fiscal do
governo para maquiar o descumprimento da meta. Além de Helder, o PMDB
emplacou mais cinco nomes: Kátia Abreu na Agricultura, Eliseu Padilha na
Secretaria de Aviação Civil, Edinho Araújo na Secretaria de Portos,
Vinicius Lages no Turismo e mais um perdedor das eleições, Eduardo
Braga, que foi derrotado na corrida pelo governo do Amazonas e agora vai
para o poderoso Ministério de Minas e Energia.
Dilma
foi eleita em coligação com nada menos que oito partidos (além do PT), e
até agora contemplou seis na reforma: PMDB, PSD, PCdoB, PROS, PRB e
PTB. Como um gesto de gratidão pelo apoio nas eleições, a presidente
alojou o governador do Ceará, Cid Gomes (PROS), no Ministério da
Educação. Em setembro de 2013, ele se desfiliou do PSB, após o então
presidente da legenda, Eduardo Campos, romper com o governo federal e
anunciar a sua candidatura à presidência. A gratidão de Dilma alcançou
também o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD), outro derrotado
nas urnas alçado à Esplanada – vai comandar o cobiçadíssimo Ministério
das Cidades, desalojando o PP.
No centro do escândalo do petrolão, o PP tem sido um dos entraves da reforma política. O partido é o que tem mais nomes citados
nas delações do esquema bilionário de corrupção instalado na Petrobras.
Para não correr o risco de indicar um suspeito, Dilma manifestou a
intenção de consultar o Ministério Público, esquisitíssimo critério de
reforma ministerial que a Procuradoria-Geral da República não deixou prosperar –
e que o ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa considerou uma
"degradação institucional". Seja quem for o escolhido, o PP espera ser
agraciado com outro ministério de peso, a Integração Nacional. A
derradeira leva de indicações deve sair na semana que vem. Do site da revista Veja
DO ALUIZIOAMORIM
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