Em comunicado
enviado à Comissão de Valores Mobiliários e divulgado à imprensa na
noite desta segunda-feira (15), a Petrobras testou a capacidade dos
brasileiros de se transformarem em palhaços. No texto, a estatal contestou
o noticiário sobre os e-mails que a ex-gerente Venina Velosa Fonseca
enviou à atual presidente da Petrobras, Graça Foster, alertando-a nos
últimos cinco anos para irregularidades que grassavam na companhia .
Desde 2009, Venina endereçou cinco mensagens a Graça Foster. Mas a Petrobras sustenta que quatro “não explicitaram as irregularidades”. Só no último e-mail, datado de 20 de novembro deste ano, Verina teria falado a sério sobre o que se passava. Mas era tarde. Verina “…já havia sido destituída de sua função gerencial.” De resto, as irregularidades “já haviam sido objeto de averiguação.”
O que a Petrobras repetiu, com outras palavras, foi o seguinte: Graça Foster não sabia. Desconsiderou o fato de que, a essa altura, não saber é o pecado mais gave que uma funcionária com três décadas de carreira poderia cometer. Tão grave quanto ser culpado de tudo é ser inocente de todo.
Em outubro de 2013, o Congresso realizou uma sessão especial para festejar os 60 anos da Petrobras. Em discurso, Graça Foster falou de uma estatal ficcional: “Neste momento, exatamente neste momento em que operamos a Petrobras de hoje, essa, que já produz dois milhões de barris de petróleo por dia, estamos, ao mesmo tempo, paralelamente, ao longo dos últimos dez anos, construindo uma segunda Petrobras, que ficará pronta daqui a pouco: a Petrobras de 4,2 milhões de barris de petróleo por dia.” Sabe-se agora que a Petrobras já estava podre.
“Sentimos no nosso coração o respeito que os brasileiros têm pela Petrobras”, acrescentou Graça Foster, da tribuna do Congresso. “Até aqueles que falam mal de nós nos respeitam e nos admiram. Não é possível não admirar a Petrobras pelo que ela faz e pelo que ela transforma.” Hoje, os brasileiros exclamam: ah, como são admiráveis essas pessoas que conseguem atravessar períodos extraordinários sem fazer nada de admirável!
Em abril de 2014, Graça Foster foi ao Senado para tentar prover esclarecimentos que evitassem a instalação de uma CPI da Petrobras. Àquela altura, ardia no noticiário a aquisição ruinosa da refinaria texana de Pasadena. A certa altura, a presidente da Petrobras soou assim:
“A Petrobras é uma empresa de 85 mil empregados. Não é um abismo da ética. Não podemos ser medidos por uma pessoa e as pessoas com as quais essa pessoa interage dentro da companhia. Não vivemos num abismo da ética.” Decorridos oito meses, o abismo ficou pequeno para abrigar a Petrobras. Meia dúzia de saqueadores deram aos 85 mil empregados uma péssima reputação. E Graça Foster não viu nada, não soube de nada, não fez nada…
A nova manifestação da Petrobras não será suficiente para manter Graça Foster no cargo. O excesso de inocência a converteu numa demissão esperando para acontecer. Mas, considerando-se o malabarismo verbal, o trapezismo retórico e o ilusionismo administrativo, a nota da estatal talvez tenha outro objetivo: transformar os brasileiros em palhaços involuntários.
O próximo passo decerto será a aprovação de um projeto de patrocínio à distribuição gratuita de narizes vermelhos, colarinhos folgados e sapatos grandes para a população. O único problema é que a Polícia Federal, a Procuradoria da República e o juiz Sérgio Moro não parecem dispostos a assumir o papel de ridículos voluntários. DO JOSIASDESOUZA-UOL
Desde 2009, Venina endereçou cinco mensagens a Graça Foster. Mas a Petrobras sustenta que quatro “não explicitaram as irregularidades”. Só no último e-mail, datado de 20 de novembro deste ano, Verina teria falado a sério sobre o que se passava. Mas era tarde. Verina “…já havia sido destituída de sua função gerencial.” De resto, as irregularidades “já haviam sido objeto de averiguação.”
O que a Petrobras repetiu, com outras palavras, foi o seguinte: Graça Foster não sabia. Desconsiderou o fato de que, a essa altura, não saber é o pecado mais gave que uma funcionária com três décadas de carreira poderia cometer. Tão grave quanto ser culpado de tudo é ser inocente de todo.
Em outubro de 2013, o Congresso realizou uma sessão especial para festejar os 60 anos da Petrobras. Em discurso, Graça Foster falou de uma estatal ficcional: “Neste momento, exatamente neste momento em que operamos a Petrobras de hoje, essa, que já produz dois milhões de barris de petróleo por dia, estamos, ao mesmo tempo, paralelamente, ao longo dos últimos dez anos, construindo uma segunda Petrobras, que ficará pronta daqui a pouco: a Petrobras de 4,2 milhões de barris de petróleo por dia.” Sabe-se agora que a Petrobras já estava podre.
“Sentimos no nosso coração o respeito que os brasileiros têm pela Petrobras”, acrescentou Graça Foster, da tribuna do Congresso. “Até aqueles que falam mal de nós nos respeitam e nos admiram. Não é possível não admirar a Petrobras pelo que ela faz e pelo que ela transforma.” Hoje, os brasileiros exclamam: ah, como são admiráveis essas pessoas que conseguem atravessar períodos extraordinários sem fazer nada de admirável!
Em abril de 2014, Graça Foster foi ao Senado para tentar prover esclarecimentos que evitassem a instalação de uma CPI da Petrobras. Àquela altura, ardia no noticiário a aquisição ruinosa da refinaria texana de Pasadena. A certa altura, a presidente da Petrobras soou assim:
“A Petrobras é uma empresa de 85 mil empregados. Não é um abismo da ética. Não podemos ser medidos por uma pessoa e as pessoas com as quais essa pessoa interage dentro da companhia. Não vivemos num abismo da ética.” Decorridos oito meses, o abismo ficou pequeno para abrigar a Petrobras. Meia dúzia de saqueadores deram aos 85 mil empregados uma péssima reputação. E Graça Foster não viu nada, não soube de nada, não fez nada…
A nova manifestação da Petrobras não será suficiente para manter Graça Foster no cargo. O excesso de inocência a converteu numa demissão esperando para acontecer. Mas, considerando-se o malabarismo verbal, o trapezismo retórico e o ilusionismo administrativo, a nota da estatal talvez tenha outro objetivo: transformar os brasileiros em palhaços involuntários.
O próximo passo decerto será a aprovação de um projeto de patrocínio à distribuição gratuita de narizes vermelhos, colarinhos folgados e sapatos grandes para a população. O único problema é que a Polícia Federal, a Procuradoria da República e o juiz Sérgio Moro não parecem dispostos a assumir o papel de ridículos voluntários. DO JOSIASDESOUZA-UOL
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