Mais
um vexame sem-par atinge o Brasil e, como não poderia deixar de ser nos
últimos tempos, a Petrobras. Em fevereiro, a VEJA, que alguns larápios
tratam como inimiga — o que certamente honra uma revista —, publicou uma
reportagem informando que a SBM Offshore, uma empresa holandesa,
fornecedora da Petrobras, pagou propina a diretores da estatal.
Pois bem!
VEJA obviamente estava falando a verdade, como sempre, e, desta feita,
fez-se justiça, senhores leitores — em parte ao menos. A corrupção está
comprovada. Os corruptores confessaram ter pagado a propina a larápios
brasileiros e de outros países. A SBM foi multada em US$ 240 milhões,
segundo anúncio do Ministério Público da Holanda! Só que isso aconteceu
na Holanda. No Brasil, nenhum vagabundo foi punido ainda. Os corruptos
estão todos por aí, torrando a grana recebida ilegalmente. Segundo as
investigações do Ministério Público holandês, a empresa pagou US$ 200
milhões em propinas para obter contratos em vários países — a
brasileiros, repassou US$ 139 milhões.
Reportagem de Fernando Alegretti, na revista, contou detalhes da sem-vergonhice.
Relembro.
Em 10 de abril de 2012, a empresa holandesa SBM Offshore, a maior
fabricante de plataformas marítimas de exploração de petróleo do mundo,
iniciou uma investigação interna para apurar denúncias de que
funcionários de suas subsidiárias pelo mundo corrompiam autoridades para
conseguir contratos com governos e empresas privadas, entre 2007 e
2011.
Os
documentos mostram que houve pagamento de propina em Guiné Equatorial,
Angola, Malásia, Itália, Cazaquistão, Iraque e no Brasil, onde
funcionários e intermediários da Petrobras teriam recebido pelo menos
US$ 139 milhões para favorecer contratos com a companhia holandesa.
Os
documentos, segundo a investigação, foram divulgados por Jonathan
Taylor, ex-funcionário do escritório da SBM em Mônaco, que deixou a
empresa em 2012 e pediu 3 milhões de euros para não revelar o esquema.
Nos papéis, há nomes, valores, contratos e trocas de e-mails entre
dirigentes da SBM e de empresas internacionais. Como a empresa não
cedeu, ele tornou o caso público. Só para registro: a Petrobras tem
contratos de mais de US$ 9 bilhões com a SBM.
Assim que a
matéria da VEJA foi publicada, a Petrobras anunciou que formaria uma
comissão interna de investigação. No fim de março, o resultado foi
divulgado: a empresa diz não ter encontrado evidência de corrupção.
Entenderam? A empresa holandesa confessa o pagamento, faz um acordo com o
Ministério Público da Holanda, assume que foi corruptora e paga a
multa. Já a estatal brasileira não conseguiu, vejam que mimo!, encontrar
evidências de irregularidades.
A Holanda
não é a Holanda porque não haja pessoas corruptas por lá. Tanto há que a
empresa pagou propina. A Holanda é a Holanda porque corruptores e
corruptos são punidos. O Brasil não é o Brasil porque não haja pessoas
decentes por aqui. É claro que há. A maioria é decente. O Brasil é o
Brasil porque corruptos e corruptores costumam ficar impunes. Sim, foi
já na gestão da senhora Graça Foster que se assinou um documento
afirmando que nada de errado aconteceu na Petrobras na relação com a
SBM, embora a empresa admita ter corrompido pessoas na empresa.
Reproduzo trecho de reportagem da VEJA:
O esquema de corrupção no Brasil, de acordo com a investigação interna, era comandado pelo empresário Julio Faerman, um dos mais influentes lobistas do setor e dono das empresas Faercom e Oildrive. Ele assinava contratos de consultoria com a SBM que serviam para repassar o dinheiro de propina para diretores da Petrobras. Essas consultorias previam o pagamento de uma “comissão” de 3% do valor dos contratos celebrados entre a SBM e a Petrobras — 1% era destinado a Faerman e 2% a diretores da petrolífera brasileira. Uma troca de e-mails entre três diretores da SBM, que faz parte da investigação, traz minutas confidenciais da Petrobras e faz referência a uma reunião com um engenheiro-chefe da empresa, José Antônio de Figueiredo, para tratar da renovação do aluguel de uma plataforma de petróleo sem ter de passar por licitação. Figueiredo, funcionário de carreira da Petrobras há 34 anos, trabalhava no departamento de compras internacionais na gestão de José Sergio Gabrielli na presidência da empresa (2005-2012). Em maio de 2012, já sob o comando de Graça Foster, foi promovido a diretor de Engenharia, Tecnologia e Materiais e membro do conselho de administração.
O esquema de corrupção no Brasil, de acordo com a investigação interna, era comandado pelo empresário Julio Faerman, um dos mais influentes lobistas do setor e dono das empresas Faercom e Oildrive. Ele assinava contratos de consultoria com a SBM que serviam para repassar o dinheiro de propina para diretores da Petrobras. Essas consultorias previam o pagamento de uma “comissão” de 3% do valor dos contratos celebrados entre a SBM e a Petrobras — 1% era destinado a Faerman e 2% a diretores da petrolífera brasileira. Uma troca de e-mails entre três diretores da SBM, que faz parte da investigação, traz minutas confidenciais da Petrobras e faz referência a uma reunião com um engenheiro-chefe da empresa, José Antônio de Figueiredo, para tratar da renovação do aluguel de uma plataforma de petróleo sem ter de passar por licitação. Figueiredo, funcionário de carreira da Petrobras há 34 anos, trabalhava no departamento de compras internacionais na gestão de José Sergio Gabrielli na presidência da empresa (2005-2012). Em maio de 2012, já sob o comando de Graça Foster, foi promovido a diretor de Engenharia, Tecnologia e Materiais e membro do conselho de administração.
Nos
documentos, há referências a pagamentos de propina para obtenção de
contratos de aluguel de alguns dos principais navios-plataforma que
operam na exploração do pré-sal. Um deles é o Cidade de Anchieta,
fabricado pela SBM e alugado à Petrobras por 1,28 bilhão de reais. Ele
está ancorado no campo de Baleia Azul, no complexo do Parque das
Baleias, na porção capixaba da Bacia de Campos, e foi o primeiro a
retirar comercialmente petróleo do pré-sal, em setembro de 2012. Há
ainda menções às plataformas Cidade de Saquarema e Cidade de Maricá, que
foram encomendadas pela Petrobras à SBM em julho de 2013 por 3,5
bilhões de dólares. E ao Cidade de Ilhabela, que foi fabricado na China
pela SBM e está sendo montado no Estaleiro Brasa, em Niterói (RJ), para
entrar em operação ainda neste ano. O valor do contrato passa dos 2
bilhões de reais. De acordo com os documentos da investigação, o
pagamento das “consultorias” a Faerman facilitou a obtenção dos
contratos com a Petrobras, que não tiveram a “devida divulgação”. Além
do pagamento em dinheiro, os documentos mostram outros “mimos” a
dirigentes das empresas corrompidas, como ingressos para a Copa do Mundo
de 2010 e para o Grande Prêmio de Mônaco.
Documentos
obtidos por VEJA mostram que a Petrobras tem vinte contratos de aluguel
de equipamento com a empresa holandesa, que somam mais de 9 bilhões de
reais. O mais antigo é de 2000 e o mais recente, de agosto do ano
passado — todos para operação no pré-sal. A SBM é uma das mais antigas
empresas holandesas. Sua história remonta a 1672, quando se chamava Smit
Kinderdijk e construía navios para a Companhia das Índias. Desde 1969
passou a se dedicar à construção de plataformas para exploração de
petróleo. Hoje, é a 54ª maior empresa da Holanda, com receita de 4,8
bilhões de dólares em 2013 — o Brasil é seu principal mercado de
exportação, seguido por Angola.
(…)
(…)
Nenhum comentário:
Postar um comentário