Editorial do Estadão faz uma radiografia da presidente reeleita, que não
se dá conta da gravidade da situação. É uma "presidente sem estofo",
resume o texto:
Uma notícia que começa informando que a presidente Dilma Rousseff
passou mais de 10 horas reunida com seus conselheiros na residência
oficial do Alvorada para tratar do impacto da Operação Lava Jato
permitiria supor que finalmente a chefe do governo resolveu mudar de
atitude - se não "para sempre", como acredita que a devassa da corrupção
na Petrobrás fará com o País, pelo menos para olhar nos olhos a crise
que não cessa de se desdobrar. A uma leitura apressada, portanto, Dilma
teria compreendido que o escândalo não se esvairá a tempo de preservar o
seu segundo mandato, nem, muito menos, poderá ser neutralizado mediante
bruxarias destinadas a preservar os interesses das levas de
protagonistas que o cevaram. Eis por que, em um assomo de lucidez, teria
se trancado com interlocutores de confiança em busca do caminho mais
adequado para agir à altura da hora
Nada disso, evidentemente. Dilma mais uma vez demonstrou que lhe
falta imaginação política, para não falar em grandeza moral ou figurino
de estadista: na bonança ou sob a tormenta, é a mesma mediocridade, a
mesma cegueira, a mesma esperança pueril de que as adversidades se
dissiparão por si mesmas e tudo convergirá para o desfrute de mais
quatro anos de mando soberano. Pois o que se informa é que o motivo da
interminável reunião de anteontem foi preparar uma "agenda positiva"
para tirar do centro das atenções a sangria da Petrobrás, que pode ter
alcançado entontecedores R$ 21 bilhões, segundo estimativas de um banco
americano. Ou, por alto, 200 mensalões. Depois de exaustiva falação, os
convidados da presidente - o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante,
o seu colega da Justiça, José Eduardo Cardozo, e a estrela em ascensão
no Planalto, o governador da Bahia, Jaques Wagner, provável ministro
ainda não se sabe do que - parecem ter chegado a uma conclusão
momentosa.
Diferentemente do que assessores palacianos não identificados teriam
dito à chefe, a trinca avaliou que o anúncio dos primeiros membros do
futuro Gabinete, a começar pelo titular da Fazenda, não dariam conta de
abafar o incêndio da Petrobrás e de impedir que o fogaréu se alastre ao
coração do poder. Tivessem eles concluído o oposto, ou não ter concluído
nada, tanto faz. O estarrecedor, o que não pode ser minimizado, é que
nenhum dos bravos companheiros da presidente, muito menos a anfitriã,
parece ter se enfurnado no Alvorada para descortinar como ela poderia
intervir, na condição de chefe de Estado, no escândalo que concentra as
atenções nacionais. Estavam todos ali, irmanados na mediocridade, atrás
de uma fresta para a qual a presidente deveria correr a fim de ficar ao
abrigo dos estilhaços e não pôr em risco o suposto capital político da
reeleição. Suposto porque, como se sabe, Dilma saiu apequenada da
batalha.
A fragilidade da presidente aumenta na razão direta das denúncias,
delações e confissões envolvendo os capitães da empreita brasileira e do
acúmulo de evidências de promiscuidade entre eles com antigos e atuais
figurões da Petrobrás e dirigentes petistas. O tesoureiro do partido,
deputado João Vaccari, encabeça o que decerto se revelará uma lista de
apreciáveis proporções. Uma planilha apreendida pela Polícia Federal
indica que a cunhada do político teria recebido R$ 244 mil do
onipresente Alberto Youssef, o doleiro que, em troca de redução da pena,
desencapou o fio da história escabrosa. Numa hipótese caridosa, Dilma
simplesmente não sabe o que fazer diante do enrosco. O mais provável, no
entanto, é que sabe, mas não se dispõe a fazer, para não derrubar sobre
a própria cabeça as colunas do esquema de poder às quais se mantém
abraçada. De outro modo, não se explica por que ela ainda não tomou a
decisão de trocar toda a diretoria da Petrobrás.
Esta é uma presidente sem estofo. Das manobras de varejo que o jargão
planaltino chama de "agenda positiva", embora não seja nem uma coisa
nem outra, faz parte o engavetamento das medidas de ajuste das contas
públicas, como aumento de impostos. Com a mesma intenção, o ministro
Aloizio Mercadante anuncia - agora! - o início das atividades de um
grupo de trabalho para estimular a indústria.
Esclarecimento -
A respeito do editorial A falta que faz a Lei Anticorrupção,
esclarecemos que a referida lei necessita de regulamentação apenas no
seu artigo 7.º - e isso não a impede de ser aplicada e produzir efeitos. DO OLANDOTAMBOSI
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