A decisão do delator Paulo Roberto Costa de
buscar a remissão judicial por meio do suor do seu dedo ateou em
políticos e empresários que têm as digitais impressas no escândalo da
Petrobras um surto de pânico. Impressionado com o que observa por trás
das cortinas, um parlamentar do PT, uma das legendas que pulsam em ritmo
de polvorosa, diz que o caso rejuvenesceu um velho ensinamento de
Tancredo Neves. “Telefone serve no máximo para marcar encontro, de
preferência no lugar errado”, dizia o avô de Aécio Neves.
A
voz do delator começou a ecoar há 17 dias. Noves fora o vazamento de
alguns nomes citados por ele, permanecem sob denso sigilo, por ora, os
detalhes gravados em áudio e vídeo. A desinformação disseminou entre os
potenciais encrencados o receio de que procuradores e delegados já
estejam executando em segredo as providências subsequentes. Entre elas o
monitoramento de conversas telefônicas. Daí a ‘grampofobia’ que
silencia celulares e aparelhos fixos.
Na semana passada, um advogado que atua no caso foi procurado por um cliente aflito. Ele tomara conhecimento de um boato. Disseram-lhe que a Polícia Federal preparava uma megaoperação para executar 73 mandados de prisão. O advogado soou tranquilizador quanto às prisões. Não faz sentido, disse. Mas acomodou uma pulga no dorso da orelha do interlocutor ao afirmar que não é negligenciável a hipótese de a delação resultar numa série de batidas de busca e apreensão de computadores e documentos. Isso pode acontecer a qualquer momento, alertou.
Escutas telefônicas, batidas policiais e quebras de sigilo fiscal e bancário dependeriam de autorização do STF. Isso porque vários dos personagens alvejados por Paulo Roberto Costa, por exercerem mandatos parlamantares, desfrutam da chamada prerrogativa de foro. Em tese, a necessidade de ouvir o Supremo, conspira contra a celeridade dos procedimentos. Mas o pavor leva os envolvidos a desconsiderar o socorro eventual que a burocracia judiciária possa lhes propiciar.
Outro receio das vítimas do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras é o de que empresas que abasteceram o propinoduto colaborem com a Justiça. Na definição do parlamentar do PT que acompanha a movimentação por trás do pano seria uma especial de “efeito Siemens” —alusão à empresa que se dispôs a colaborar na investigação do cartel de trens e metrô de São Paulo.
Em meio à atmosfera de terror provocada pelos desdobramentos do escândalo da Petrobras, quem sabe teme. Quem sabe muito foge do telefone. Quem sabe ainda mais limpa armários, gavetas e memórias de computadores. Quem tem conhecimentos ilimitados cogita trancar-se num cofre.
DO JSOUZA
PAULO
ROBERTO COSTA, O DELATOR - Investigado pela Operação Lava Jato da
Polícia Federal, que apura esquema bilionário de lavagem de dinheiro,
Paulo Roberto Costa é ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras,
cargo que ocupou entre 2004 e 2012. Foi preso em março deste ano por
tentar ocultar provas que o incriminavam. Solto em maio, foi preso
novamente em junho, e fez acordo de delação premiada com a PF em agosto,
o que possibilitaria uma redução de sua pena em caso de condenação. Em
depoimentos gravados feitos à polícia, ele cita, segundo a revista
"Veja", ao menos 25 deputados federias, 6 senadores, 3 governadores, um
ministro de Estado e pelo menos três partidos políticos (PT, PMDB e PP),
que teriam recebido propina de 3% do valor dos contratos da estatal Leia mais Renato Costa/Frame/Folhapress
Na semana passada, um advogado que atua no caso foi procurado por um cliente aflito. Ele tomara conhecimento de um boato. Disseram-lhe que a Polícia Federal preparava uma megaoperação para executar 73 mandados de prisão. O advogado soou tranquilizador quanto às prisões. Não faz sentido, disse. Mas acomodou uma pulga no dorso da orelha do interlocutor ao afirmar que não é negligenciável a hipótese de a delação resultar numa série de batidas de busca e apreensão de computadores e documentos. Isso pode acontecer a qualquer momento, alertou.
Escutas telefônicas, batidas policiais e quebras de sigilo fiscal e bancário dependeriam de autorização do STF. Isso porque vários dos personagens alvejados por Paulo Roberto Costa, por exercerem mandatos parlamantares, desfrutam da chamada prerrogativa de foro. Em tese, a necessidade de ouvir o Supremo, conspira contra a celeridade dos procedimentos. Mas o pavor leva os envolvidos a desconsiderar o socorro eventual que a burocracia judiciária possa lhes propiciar.
Outro receio das vítimas do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras é o de que empresas que abasteceram o propinoduto colaborem com a Justiça. Na definição do parlamentar do PT que acompanha a movimentação por trás do pano seria uma especial de “efeito Siemens” —alusão à empresa que se dispôs a colaborar na investigação do cartel de trens e metrô de São Paulo.
Em meio à atmosfera de terror provocada pelos desdobramentos do escândalo da Petrobras, quem sabe teme. Quem sabe muito foge do telefone. Quem sabe ainda mais limpa armários, gavetas e memórias de computadores. Quem tem conhecimentos ilimitados cogita trancar-se num cofre.
DO JSOUZA
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