Artigo do historiador Marco Antônio Villa,
no jornal O Globo, diz que os ministérios estão paralisados. O diabo é
que teremos ainda sete meses de paralisia econômica, até que Dilma e PT
deem adeus:
O governo
Dilma definha a olhos vistos. Caminha para um fim melancólico. Os
agentes econômicos têm plena consciência de que não podem esperar nada
de novo. Cada declaração do ministro da Fazenda é recebida com desdém.
As previsões são desmentidas semanas depois. Os planos não passam de
ideias ao vento. O governo caiu no descrédito. Os ministérios estão
paralisados. O que se mantém é a rotina administrativa. O governo se
arrasta como um jogador de futebol, em fim de carreira, aos 40 minutos
do segundo tempo, em uma tarde ensolarada.
Apesar do
fracasso — e as pífias taxas de crescimento do PIB estão aí para que
não haja nenhum desmentido —, Dilma é candidata à reeleição. São aquelas
coisas que só acontecem no Brasil. Em qualquer lugar do mundo, após uma
pálida gestão, o presidente abdicaria de concorrer. Não aqui. E,
principalmente, tendo no governo a máquina petista que, hoje, só
sobrevive como parasita do Estado.
A
permanência no poder é a essência do projeto petista. Todo o resto é
absolutamente secundário. O partido necessita da estrutura estatal para
financeiramente se manter e o mesmo se aplica às suas lideranças — além
dos milhares de assessores.
É nesta
conjuntura que o partido tenta a todo custo manter o mesmo bloco que
elegeu Dilma em 2010. E tem fracassado. Muitos dos companheiros de
viagem já sentiram que os ventos estão soprando em sentido contrário.
Estão procurando a oposição para manter o naco de poder que tiveram nos
últimos 12 anos. O desafio para a oposição é como aproveitar esta
divisão sem reproduzir a mesma forma de aliança que sempre condenou.
Como o
cenário político foi ficando desfavorável à permanência do petismo, era
mais que esperada a constante presença de Lula como elemento motivador e
agregador para as alianças. Sabe, como criador, que o fracasso
eleitoral da criatura será também o seu. Mas o sentimento popular de
enfado, de cansaço, também o atingiu. O encanto está sendo quebrado,
tanto no Brasil como no exterior. Hoje suas viagens internacionais não
têm mais o apelo do período presidencial. Viaja como lobista utilizando
descaradamente a estrutura governamental e intermediando negócios
nebulosos à custa do Erário.
Se na
campanha de 2010 era um presidente que pretendia eleger o sucessor,
quatro anos depois a sua participação soa estranha, postiça. A tentativa
de transferência do carisma fracassou. Isto explica por que Lula tem de
trabalhar ativamente na campanha. Dilma deve ficar em um plano
secundário quando o processo eleitoral efetivamente começar. Ela não tem
o que apresentar. O figurino de faxineira, combatente da corrupção, foi
esquecido. Na história da República, não houve um quadriênio com tantas
acusações de “malfeitos” e desvios bilionários, como o dela. O figurino
de gerentona foi abandonado com a sucessão de “pibinhos”. O que restou?
Nada.
Lula está
como gosta. É o centro das atenções. Acredita que pode novamente
encarnar o personagem de Dom Sebastião. Em um país com uma pobre cultura
democrática, não deve ser desprezada a sua participação nas eleições.
A
paralisia política tem reflexos diretos na gestão governamental. As
principais obras públicas estão atrasadas. Boa parte delas, além do
atraso, teve majorados seus custos. Em três anos e meio, Dilma não
conseguiu entregar nenhuma obra importante de infraestrutura. Isto em um
país com os conhecidos problemas nesta área e que trazem sérios
prejuízos à economia. Mas quando a ideologia se sobrepõe aos interesses
nacionais não causa estranheza o investimento de US$ 1 bilhão na
modernização e ampliação do porto de Mariel. Ou seja, a ironia da
história é que a maior ação administrativa do governo Dilma não foi no
Brasil, mas em Cuba.
Os
investimentos de longo prazo foram caindo, os gastos para o
desenvolvimento de educação, ciência e tecnologia são inferiores às
necessidades de um país com as nossas carências. Não há uma área no
governo que tenha cumprido suas metas, se destacado pela eficiência e
que o ministro — alguém lembra o nome de ao menos cinco deles? — tenha
se transformado em referência, positiva, claro, pois negativa não faltam
candidatos.
O
irresponsável namoro com o populismo econômico levou ao abandono das
contas públicas, das metas de inflação e ao desequilíbrio das tarifas
públicas. Basta ver o rombo produzido no setor elétrico. A ação
governamental ficou pautada exclusivamente pela manutenção do PT no
poder. As intervenções estatais impuseram uma lógica voluntarista e um
estatismo fora de época. Basta citar as fabulosas injeções de capital —
via Tesouro — para o BNDES e os generosos empréstimos (alguns, quase
doações) ao grande capital. E a dívida pública, que está próxima dos R$
2,5 trilhões?
No campo
externo as opções escolhidas pelo governo foram as piores possíveis.
Mais uma vez foi a ideologia que deu o tom. Basta citar um exemplo: a
opção preferencial pelo Mercosul. Enquanto isso, o eixo dinâmico da
economia mundial está se transferindo para a região Ásia-Pacífico.
Ainda não
sabemos plenamente o significado para o país desta gestão. Mas quando
comparamos os nossos índices de crescimento do PIB com os dos países
emergentes ou nossos vizinhos da América Latina, o resultado é
assustador. É possível estimar que no quadriênio Dilma a média sequer
chegue a 2%. A média dos emergentes é de 5,2%, e da América Latina, de
3,2%. E o governo Dilma ainda tem mais sete meses pela frente. Meses de
paralisia econômica. Haja agonia.
DO ORLANDO TAMBOSI
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